O que considerar na hora de mandar o filho para atividade extracurricular

Aulas de idiomas, acolhimento, música e outras estão retomando aos poucos. Especialistas respondem se algumas delas oferecem mais riscos que outras!

Por Flávia Antunes
Atualizado em 4 nov 2020, 16h10 - Publicado em 28 out 2020, 17h54
 (Halfpoint Images/Getty Images)
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Quanto mais a pandemia se estende, mais entra em debate a retomada das aulas presenciais. Embora evidências apontem para a baixa transmissão do novo coronavírus pelas crianças, sabemos que nenhum ambiente é isento de riscos – ainda mais quando se trata dos pequenos, que nem sempre conseguem respeitar as mesmas medidas de segurança impostas aos adultos.

A balança ainda é cheia de outros pesos e medidas, como a possibilidade de contar com uma rede de apoio quando os pais retornam ao trabalho presencial, possuir algum familiar em grupo de risco e a situação da saúde mental dos menores – e, por isso, o assunto é delicado e deve ser tratado com cuidado (Entenda os prós e os contras de manter apenas as aulas online enquanto não houver uma vacina contra a Covid-19).

O que está liberado por enquanto, na maioria dos estados, é a volta das atividades extracurriculares para o ensino infantil e fundamental com 20% dos alunos por dia. Acolhimento, aulas de idiomas, música, contação de histórias, fantoche e educação física são algumas das que voltam a acontecer, mas que ainda despertam muitas dúvidas nos pais em relação à segurança.

Afinal, na hora de escolher entre mandar o filho ou não para a escolinha, é possível pensar em atividades mais seguras do que outras? A resposta, na visão do Dr. Pedro Mendes Lage, infectopediatra da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, não é simples e passa por muitos fatores. São eles:

Tipo de ambiente

As práticas que acontecerão na escola do meu filho serão realizadas em um local aberto ou fechado? Os pais podem se perguntar. Isso porque, de acordo com o médico, a principal forma de transmissão do vírus é respiratória e os lugares arejados minimizam que este tipo de contágio aconteça.

“Sabemos que, em ambientes abertos, se a criança que eliminar o vírus por meio de gotículas ou aerossóis, ele será rapidamente dissipado no ar e os colegas ao redor serão dificilmente infectadas”, afirma ele.

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“Para que uma pessoa infecte outra, ela precisa estar com o vírus, precisa liberá-lo por meio de sintomas (como tosse, espirro, coriza, etc.) e a outra criança precisa entrar em contato com um número mínimo de partículas virais suficiente para causar a infecção. Por isso, se a criança estiver assintomática, é mais difícil que elimine o vírus e transmita para o colega”, explica.

Já se a atividade for acontecer em um ambiente fechado, como o que costuma ocorrer com aulas de idiomas ou de teatro, os cuidados devem ser um pouquinho maiores. “Nestes casos, o risco aumenta, porque não há como dissipar o vírus. O aerossol permanece bastante tempo no ar, e ao respirá-lo acabamos sendo infectados. Também não há a ação do sol, que ajuda a destruir parte desse vírus”, esclarece o infectologista.

Contato próximo

O distanciamento social é uma das medidas efetivas para o controle da doença e não à toa. O Dr. Pedro pontua que atividades que envolvem o contato próximo entre os pequenos – como educação física, caso ela tenha interação física – oferecem maior risco às crianças.

“O comportamento das pessoas e as regras do local são mais importante que a atividade em si. No entanto, o distanciamento é protetor, então em qualquer atividade com maior convívio entre as pessoas, o risco também aumenta”, reforça o pediatra e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) Dr. Renato Kfouri.

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Para manter a segurança sem abrir mão totalmente do afeto, escolas estão pensando em estratégias criativas, como conta Rosana Marin, Coordenadora de Educação Infantil do Colégio Marista Arquidiocesano. “Como agora o abraço no amigo não é indicado – e, para a criança pequena entender que esse afeto não pode ser mais tão espontâneo nesse momento -, cada uma delas ganhou um ursinho, que fica na escola, e que só ela pode abraçar, levar para a roda e depois deixá-lo em seu lugarzinho na escola”, diz.

Apesar das propostas lúdicas para incentivar que os pequenos sigam os protocolos, sabemos que seus comportamentos ao voltarem ao ambiente escolar depois de tanto tempo podem ser imprevisíveis. Vale então os pais avaliarem se seus filhos possuem entendimento sobre as novas regras de convívio que garantem maior segurança, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

Compartilhamento de objetos

A transmissão cruzada, que acontece por meio dos objetos, não é a mais frequente, segundo o infectologista. “É preciso que a criança esteja com a carga viral muito alta e que o outro colega encoste onde estava a secreção e depois coloque sua mão em alguma mucosa (como olho, nariz ou boca) para ser infectado”, diz.

No entanto, caso a atividade aconteça em um local fechado e que as crianças compartilhem materiais, o risco pode ser considerado maior do que se não trocarem objetos. “Neste caso, deve-se priorizar a limpeza e higienização dos objetos depois do uso (como instrumentos musicais na aula de música, por exemplo) e o cumprimento dos demais protocolos”, enfatiza o pediatra.

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Caso seja possível, outra alternativa é priorizar o uso dos utensílios apenas pela própria pessoa. “Nas propostas de acolhimento que preparamos, tudo o que utilizamos é individual, não há materiais compartilhados. Para a aula de Arte, por exemplo, montamos um kit individual para cada criança, com pincel, lápis, canetinha, dentre outros, que ficam em um recipiente que só ela mexe”, exemplifica a coordenadora do Marista.

Tempo de permanência

O número de horas em que as crianças estarão juntas na escola é um dos fatores a ser considerado. Pesquisadores não chegaram a um tempo que seria considerado seguro e outro perigoso – até porque, novamente, é a soma de diversas variáveis que determina o risco -, mas se sabe que uma permanência maior pode sim afetar o risco para a Covid-19.

“Não existe um tempo específico. O que sabemos é que o risco de transmissão aumenta proporcionalmente ao tempo de convívio no mesmo ambiente”, indica o Dr. Pedro.

Se a ideia então é avaliar o risco de enviar o seu filho para a escola, saiba que os tópicos da lista são importantes, mas não devem ser considerados de forma isolada, como explica o pediatra “Se as crianças estão em um lugar pouco ventilado, cantando ou chorando, e com pouca distância, o risco é um. Se estão ao ar livre, mais distantes e menos falantes, o risco é outro. São fatores que podem se somar, mas o risco é minimizado pelas atitudes já conhecidas por nós – como uso de máscaras, a higienização adequada e o distanciamento“, pontua Dr. Renato. 

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