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Novas pesquisas avaliam impacto do autismo no cérebro

Achados inéditos ajudam a entender melhor como funciona a mente dos portadores do transtorno e mostram também uma estratégia para preveni-lo. Saiba mais:

Por Chloé Pinheiro
29 set 2017, 19h19

Dificuldade na socialização, no desenvolvimento da fala e comportamentos muito específicos. As manifestações mais clássicas do Transtorno do Espectro Autista (TEA) já são bem conhecidas, o principal desafio da ciência agora é entender porque elas ocorrem e como flagrar cedo as alterações no cérebro do autista.

“Identificar testes de imagem e padrões que ajudem no diagnóstico e em distinguir subtipos do autismo é essencial para que possamos tratar cada caso de maneira mais individual e efetiva”, aponta Mirian Revers, psiquiatra do Programa do Transtorno do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, de São de Paulo.

Por isso mesmo, não param de sair novos trabalhos sobre o assunto. Em setembro, três deles ganharam destaque. Confira:

Origem do autismo aos seis meses de vida

Foi em bebês dessa idade que cientistas da Universidade McGill, no Canadá, identificaram mudanças relacionadas ao autismo nas áreas do cérebro responsáveis pelos estímulos sensoriais, como audição, visão e até a percepção do toque.

Foram 260 ressonâncias magnéticas avaliadas e, depois, comparadas com os exames de crianças de 2 anos de idade – autistas ou não. E as mudanças cerebrais dos bebês correspondiam às encontradas nos mais velhos que tinham sintomas mais graves do transtorno.

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“Isso é muito interessante, porque aponta que a diferença está nos inputs sensoriais, que vem antes da cognição em si. Ou seja, o comportamento do autista que nós observamos é  só uma consequência de uma percepção já alterada. Ele responde ao mundo de maneira diferente”, comenta Mirian.

Exame vê comunicação modificada entre os neurônios dos autistas

Pesquisadores da Faculdade de Medicina NYU, nos Estados Unidos, descobriram alterações em uma estrutura específica do cérebro dos portadores do transtorno. O material afetado foi a substância branca, responsável por enviar informações de um neurônio a outro e, assim, fazer o cérebro trabalhar, responder ao ambiente etc…

Quanto mais comprometedoras eram as manifestações do autismo, menor era a integridade dessa rede de comunicação. Isso porque a conversa entre os neurônios acontece de maneira diferente em quem tem o TEA. “Eles têm mais conexões a curta distância do que a longa, o que faz com que haja maior especialização, mas também dificuldade em fazer associações”, explica Mirian. Isso se reflete muito nos sintomas: a criança prefere parte do brinquedo ao invés do todo, percebe detalhes, mas não consegue compreender o contexto e por aí vai.

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O achado foi feito com uma técnica de ressonância magnética chamada imagem tensorial de difusão (DTI), e a ideia dos especialistas é a de que o exame, no futuro, ajude a determinar a severidade dos sintomas e, assim, personalizar o tratamento.

Ácido fólico pode prevenir autismo ligado a agrotóxicos

Entre os fatores ambientais ligados ao aparecimento problema está a exposição aos pesticidas usados na agricultura. “Eles favorecem a ativação de genes relacionados ao TEA ainda no desenvolvimento do bebê durante a gestação”, esclarece Mirian.

Um trabalho norte-americano descobriu que é possível reduzir esse risco significativamente com a ingestão de ácido fólico. A pesquisa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, avaliou mais de 500 crianças e encontrou o efeito protetor nas mães que tomaram mais de 800 mg da substância diariamente por algum tempo antes e depois da concepção.

“O ácido fólico fornece folato, que é essencial para a formação do DNA e a divisão das células que formarão nosso organismo e participa do processo de ativar e desativar genes, por isso é tão importante”, completa Mirian.

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