Ainda que o diabetes seja comumente associado ao público adulto, crianças ainda na primeira infância podem desenvolver a doença. Só que diferente dos mais velhos, a versão mais corriqueira entre os menores é o tipo 1, o qual depende diretamente da aplicação de insulina para controlar a hiperglicemia (alta taxa de açúcar no sangue).
De acordo com o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), 1,1 milhão de crianças e adolescentes no mundo todo (com menos de 20 anos) convivem com o tipo 1 da condição. “Ele ocorre por uma questão hereditária genética, em que a criança tem a capacidade de produzir anticorpos que fazem um ataque inflamatório contra o pâncreas. Quando grande parte do órgão é atingido e destruído, ele deixa de produzir insulina”, explica o endocrinologista Marcio Krakauer, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
O diabetes tipo 1 é definido como uma doença autoimune, desencadeada por algum fator externo. Krakauer detalha que, entre as teorias existentes, a principal justificativa é a presença de uma infecção que leva ao descompasso do pâncreas e a inibição da produção de insulina.
Sinais que precisam de atenção dos pais
O endocrinopediatra Felipe Lora, diretor médico do Sabará Hospital Infantil, esclarece que os principais sintomas do diabetes estão relacionados ao excesso de açúcar presente no sangue, que é eliminado no xixi. Sendo assim, é preciso que os pais observem atentamente os indícios da doença que podem aparecer por meio dele, como:
- Idas frequentes ao banheiro
- Muita sede
- Perda de peso
- Fome excessiva
- Criança abatida e sem disposição
É importante que os sintomas sejam percebidos rapidamente para que o diagnóstico não evolua para cenários mais graves, como o de cetoacidose diabética. “É um quadro que vai mudando o padrão de respiração da criança. Ela vai ficando ofegante, com dores abdominais e pode ter alguma infecção junto”, detalha Krakauer. A tendência é que ele comece leve e agrave com facilidade, podendo levar o pequeno até mesmo ao coma.
Suspeito que meu filho esteja com diabetes. E agora?
Ao perceber os sinais da doença, os especialistas recomendam que os pais busquem pelo teste de glicemia capilar, com a picadinha na ponta do dedo. Segundo Lora, o exame que acusar 200 mg/d para cima, em qualquer hora do dia e circunstância de alimentação, já desenha um quadro de diabetes tipo 1. Mas é preciso que outras análises sejam pedidas para a conclusão do diagnóstico.
Krakauer explica que é preciso fazer a coleta padrão de sangue, com oito horas de jejum, para que se calcule a quantidade de glicose presente no organismo infantil. O resultado que acusar de 126mg/d para cima evidencia um quadro de diabetes. Já para confirmar se é especificamente a doença autoimune, de tipo 1, o médico pode pedir exames que evidenciam a presença dos anticorpos capazes de destruírem o pâncreas e, consequentemente, a produção de insulina, como o anti-insulina e anti-gad.
Com a comprovação da condição, inicia-se o acompanhamento da criança com uma equipe multidisciplinar a fim de que seja realizada desde a administração do hormônio até o acompanhamento psicológico para que a família e o pequeno entendam as mudanças necessárias que o diagnóstico traz e que precisarão ser seguidas sempre, para que ele tenha uma vida longa e saudável.
O que vem depois do diagnóstico
Diferente de outras variações do diabetes, 100% dos casos do tipo 1 exigem a injeção subcutânea de insulina. “Neste caso, o corpo da criança não a produz de maneira suficiente e, consequentemente, não consegue manter o açúcar do sangue normal”, esclarece Lora.
Só que o ponto mais importante a ser entendido pela família, após o diagnóstico, é que o hormônio não será aplicado só uma vez ao dia. As doses serão administradas conforme o aumento da glicemia no sangue e, para isso, ela precisa ser medida com frequência ao longo das 24 horas.
“Quando a criança come, a comida vira açúcar, vai para o sangue e aumenta seu nível. Encontrar este equilíbrio é um hábito que os pais vão precisar ter após o diagnóstico, fazendo o teste nas pontas de dedo antes das refeições – diversas vezes ao dia – ou por meio de um sensor* que é colocado na criança”, cita o endocrinopediatra. Monitorando os níveis de glicose, o médico consegue orientar quantas doses e quais tipos de insulina devem ser administradas diariamente para cada paciente.
Além disso, existem outros cuidados que também são essenciais para a vida saudável da criança com diabetes, tais como alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e até mesmo um bom sono influenciam diretamente na eficácia do tratamento da doença.
*O dispositivo costuma ser aplicado na parte posterior do braço do paciente, em que o sensor funciona por meio de um pequeno filamento ligado a corrente sanguínea. Assim, por meio de aproximação, consegue-se medir a quantidade de glicose no sangue sem precisar fazer as picadas na ponta do dedo.