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“Como engravidei de gêmeos naturalmente depois de uma FIV”

Depois de contrariar as expectativas e se tornar mãe de três meninas, Daniela Foltran enfrentou um período difícil e hoje inspira outras mulheres.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
8 nov 2016, 19h55
 (Daniela Foltran/ Reprodução/Facebook)
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Depois de perder um ovário e ter um cisto hemorrágico em outro, Daniela Foltran não tinha muitas esperanças de ser mãe e, por isso, decidiu se tornar embriologista, pensando em ajudar outras famílias a terem filhos. Mas, depois de uma fertilização in vitro, ela conseguiu engravidar da pequena Catarina, seu primeiro presente. E quando a menina completou 1 aninho, a surpresa foi ainda maior: Daniela esperava gêmeas – dessa vez de forma natural. Conforme as filhotas cresceram, ela enfrentou um difícil período e, para superar a Síndrome de Bournout, começou a fazer artesanatos. Hoje, aos 35 anos, é uma empreendedora e tem uma família linda. Inspire-se com essa história!

“As minhas memórias de infância me remetem às brincadeiras relacionadas à maternidade e é engraçado que eu sempre brincava como sendo profissional e mãe. Minhas bonecas saíam de casa para trabalhar e voltavam para brincar com os filhos. Mas desde a minha primeira menstruação eu tive problemas. Eram cólicas horríveis, períodos muito falhos ou abundantes. Com 12 anos, já tomava reguladores de ciclo e, aos 16, veio meu primeiro choque. Fui fazer um ultrassom de acompanhamento de ovários policísticos e já fui encaminhada ao hospital. Havia um cisto hemorrágico grande. Na época, a cirurgia foi feita pelo SUS e não houve preocupação com fertilidade. O ovário todo foi retirado e me restou um, que prometeram que funcionaria, desde que eu o preservasse tomando anticoncepcional. Assim o fiz e nunca parei a pílula desde 1997.

Esse acontecimento norteou também minha profissão. O ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide, técnica de reprodução assistida) estava começando no nosso país. Eu assisti a uma reportagem sobre isso e ‘jurei’ que eu até poderia não ter filhos, mas que ajudaria os casais a tê-los. E assim foi. Fiz Biomedicina na UNESP e desde o primeiro mês letivo sempre estava no laboratório de embriologia. Em 2003, iniciei os trabalhos com reprodução humana.

Eu me casei em 2005 e, na semana em que completaríamos nosso primeiro aniversário, ganhei um presente nada agradável. Havia suspendido a pílula e o que eu mais temia aconteceu: um cisto rompeu no meu único ovário. Em meio à dor da hemorragia abdominal, o que mais me machucava era o medo de perder a chance de engravidar. Dessa vez, os médicos foram conservadores, fizeram a oforoplastia e mantiveram parte do órgão. Então, uma corrida começou. O cirurgião falava que eu precisava engravidar logo, pois não saberíamos quanto tempo meu ovário aguentaria; a equipe de fertilidade com a qual eu trabalhava falava para eu bloquear meus ciclos com o anticoncepcional até eu me sentir pronta para a maternidade. Enfim, nem eu e nem meu marido estávamos prontos, mas não queríamos perder a chance. Tentamos por dois anos sem sucesso.

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Voltei às pílulas. Depois de muitas conversas, decidimos que seríamos apenas um casal, sem filhos. Nessa fase, o meu medo era sentir na pele o drama do tratamento. Diariamente vivenciava histórias de infertilidade, vibrava com o positivo e sofria junto com os casais quando não dava certo. Sinceramente, tinha medo do fracasso, pois como trabalhava com isso, não achava que teria esperanças inabaláveis, pois analisava meu caso como estatística.

Minha cunhada engravidou no final de 2010 e isso mexeu comigo. Foi quando o Fernando, meu marido, chegou e disse: ‘E aí, quando que a Catarina vem?’ (desde sempre tivemos o nome da nossa filha!). Esse foi o gatilho de coragem. Fizemos a FIV (fertilização in vitro), senti-me super bem, pois era a equipe com a qual trabalhava e confiava. O ciclo não foi dos melhores, mas tive o que precisava para transferir e engravidei. Não posso negar que a espera entre a transferência e o exame de gravidez pareceu uma eternidade banhada a ansiedade. Eu me sentia plena grávida! Tive descolamento de placenta, mas, passado isso, trabalhei até ela nascer. Catarina chegou em janeiro de 2012. Então, decidi parar com o anticoncepcional porque queria uma vida com menos medicamentos. Assumi o risco da perda do ovário, já que tinha conseguido o que eu queria.

Quando estava próximo do primeiro ano da Catarina, comecei a sentir vontade de engravidar novamente. Sabia que só um milagre faria com que eu conseguisse engravidar naturalmente, então nunca acreditei que isso fosse acontecer. Mas na festinha de 1 ano dela, fiquei enjoada, achava que havia comido muitos doces e salgadinhos, mas o enjoo continuou e meu marido até brincou que eu só tinha ficado daquele jeito quando estava grávida. Sonhadora, decidi fazer um teste – e foi quando vi os dois risquinhos e não acreditei. Na realidade, ninguém acreditava! Virei história na clínica em que trabalhava. Minha família e amigos perguntavam se eu tinha feito mais um tratamento escondido. Não, não fizemos tratamento!!! Foi natural! Foi nosso ‘milagre’! Mas falando racionalmente, acredito que a gestação é a última fase do amadurecimento reprodutivo feminino e a Catarina me fez mãe e fértil. Meu padrão de ciclos foi todo alterado após a primeira gestação.

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Daniela Foltran

Quando descobrimos que eram gêmeos, entramos num estado de choque, ríamos – apenas ríamos; era um sentimento de felicidade e medo juntos. Como assim? Eu não podia engravidar e, agora, esperávamos gêmeos? A minha ‘ficha’ foi cair por volta do quinto mês de gestação. Eu tinha um ritmo de trabalho bem acelerado, a primeira filha demandava bastante e apenas fui vivendo um dia após o outro. Passado o susto, senti-me completa, havia experimentado a superação da infertilidade e a surpresa de uma gestação não planejada.

A gravidez foi tranquila e agitada! Trabalhei naturalmente e parei um mês antes das gêmeas nascerem. Elas chegaram bem! Mas eu ficava exausta com três bebês (1 ano e 7 meses de diferença). Emilia nasceu com um torcicolo congênito que evoluiu para um quadro de plagiocefalia (deformação do crânio). Por isso, necessitava de fisioterapia e visitas constantes à AACD para ajustes do capacete corretivo. Gabriela desenvolveu um hemangioma tuberoso de pálpebra. Até termos esse diagnóstico, ouvi pessoas sugerindo que a mais velha batia nela diariamente, que o sutiã de amamentação a machucava, entre outras coisas. Foram semanas de aflição e busca até o diagnóstico, mas o tratamento medicamentoso não surtiu o efeito desejado e precisamos operar.

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Quando me perguntam o que é ser mãe de três, sempre respondo que é um turbilhão de sentimentos e sensações. Não posso negar que demanda muito trabalho, que é um gasto mental e físico muito grande com crianças novas e superativas, mas a recompensa de amor é absurda! Nunca vivenciei momentos de ternura e companheirismo como agora. Apesar de haver uma crise de ciúmes aqui ou ali, a união desse trio é tamanha! Elas falam abertamente que se amam, pensam umas nas outras no momento de ganhar um doce ou da brincadeira.

Quando as gêmeas tinham 4 meses, apesar de todas as necessidades que tinham no momento, voltei a trabalhar no ritmo de antes. Em reprodução humana, você não tem finais de semana nem feriados. Meus dias começavam cedo, saía e deixava o marido com as três. A divisão entre trabalho, fisioterapia, médicos, mais velha que não dormia e aquela lista de afazeres foi me prejudicando de uma certa forma que cheguei ao limite da sanidade. Comecei a ter dificuldades para sair de casa, passava mal, não conseguia dirigir. Atribuí isso ao cansaço e me afastei por um mês no trabalho. Não melhorei. As crises de pânico me dominavam de uma forma que eu não conseguia exercer nada, acordava no meio da noite com pensamentos trágicos! Emagreci 7kg em pouco mais de uma semana. O dilema entre abandonar uma profissão tão sonhada e emocionalmente construída em minha história pessoal, colocando em risco o lado financeiro da minha família, e viver mais presente na vida das minhas sonhadas crias me consumia a cada dia.

Foram cerca de três meses de fundo do poço. Precisei de ajuda do marido e da família para cuidar das meninas, pois só de abrir a porta de casa entrava em pânico, travava, a visão escurecia, perdia o controle dos movimentos. Num primeiro momento fui diagnosticada com Síndrome do Pânico, mas mudei de médico, pois apenas estava consumindo remédios que mascaravam os sintomas. No segundo tratamento psiquiátrico (que continuo até hoje), recebi o diagnóstico de Síndrome de Bornout, para a qual recebi dosagens balanceadas de remédios controlados, mais alinhados para poder recomeçar e retomar minha vida.

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Para me salvaguardar, finalmente decidi abandonar tudo e deixar de lado a profissão de embriologista. Orientada pelo meu marido, comecei a me dedicar ao artesanato como terapia auxiliar aos problemas psiquiátricos. Foi o que me ajudou inicialmente, pois eu não tinha vontade de sair de casa ou voltar a trabalhar em lugar algum.

Daniela Foltran e família

Comecei a fazer bonecos de crochê e babadores para as meninas. Eventualmente, fazia alguns produtos para os amigos ou para presentear alguém. Quando eu estava produzindo, meu corpo se sentia em plenitude, sem crises, sem pensamentos trágicos ou negativos. Toda aquela angústia depressiva simplesmente ‘sumia’ da minha mente. Foi então que percebi que minha vida havia mudado. Passaram-se quase dois anos sem que eu tivesse percebido que eu não tinha mais medo de sair de casa, de conversar com um estranho, de dirigir ou de pensar que algo trágico acontecesse com minha família. Foi um sentimento de renascimento, como se fosse a aurora de todas as minhas manhãs. A vida começou a fazer sentido novamente, mas não para voltar a trabalhar loucamente 12 horas por dia e, sim, dedicar-me loucamente a ser mãe e poder auxiliar outras mães. Só que a ajuda agora iria ser de mãe para mãe.

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Esse renascimento, induzido pelo artesanato sem compromisso, me fazia feliz, com vontade de contemplar a vida a cada dia, com vontade de viver intensamente para minhas filhas e marido. Tinha vontade de sair contando para as pessoas todo o sofrimento passado, mas, principalmente, contar todo o sucesso alcançado, como se tivesse sido libertada de um mal. Daí surgiu o nome do meu negócio atual: aurora, senhora!. Nome que faz todo sentido para mim, pois é como se a cada produto entregue eu contasse minha história de superação, como se eu dissesse: senhora, depois de tudo, eu renasci!

Em momento algum me arrependo das minhas decisões profissionais; ser embriologista foi uma fase ótima da minha vida, durante a qual realizei o sonho da maternidade e de ajudar a construir famílias; mas empreender me proporcionou vivenciar a maternidade da maneira que eu queria. Trabalho em casa, tenho a possibilidade de estar em contato mais profundo com as meninas.

Como sou bastante espiritualizada, não nego que minhas filhas são meus presentes do céu. Elas nasceram de mim, mas eu também nasci com elas. Em verdade, renasço a cada instante. Se educar uma criança é se reinventar a cada situação, faço o paralelo que empreender com as três filhas é dançar um ritmo novo a cada instante”.

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