Há quase um ano convivendo com o surto do coronavírus pelo país, as consequências negativas estão sendo, cada vez mais, apontadas pelas organizações de saúde. É o que o mostra uma nota da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sobre a relação entre a pandemia e os casos de tuberculose em crianças.
A publicação traz luz para um estudo recente feito pela Stop TB Partnership, instituição engajada em controlar e extinguir a doença, e que está vinculada com o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS/ONU). Na pesquisa, os resultados apontaram que a estimativa é de que, até 2025, surgirão 6,3 milhões de novos casos de tuberculose, e mais de 1,3 milhão de pessoas serão vítimas fatais da doença.
E o cenário brasileiro não é menos preocupante. A SBP lembra que mais de 70 mil casos novos de tuberculose, causados pelo Mycobacterium tuberculosis (o bacilo de Koch), são diagnosticados por ano no país. E as crianças compõem 7% da doença, isto é, por volta de 4.900 delas são infectadas através de gotículas espalhadas na tosse, espirros e respiração.
A piora com a pandemia
Pediatras demonstram preocupação com o possível aumento dos números de crianças infectadas pela doença devido ao isolamento social por conta do coronavírus. “O fato dos pais não estarem levando os filhos às consultas para acompanhar a rotina, assim como muitos não levaram as crianças à vacinação, pode acabar retardando não só o tratamento da tuberculose como de muitas outras doenças relacionadas à infância”, explica a pediatra Flávia Oliveira, membro da SBP.
Como lembra a especialista, manter a carteirinha de vacinação em dia é essencial, inclusive para o combate da tuberculose. Ainda no hospital, o recém-nascido deve receber a famosa BCG nas primeiras horas de vida. Isso só não acontece em exceções, como o bebê ter menos de dois quilos.
“A BCG protege contra as formas graves da doença, como a meningite e a tuberculose miliar, que é quando a bactéria se espalha pela corrente sanguínea podendo atingir outros órgãos, como ossos e rins”, detalha Flávia.
Acompanhamento é necessário
Pela vacina não proteger as crianças das formas mais leves da doença, tanto o documento da SBP quanto a médica lembram que isso se conecta diretamente com um dos grandes problemas da tuberculose: ela ser uma doença familiar.
“Um adulto, que contraiu tuberculose porque não tomou a vacina, pode transmiti-la à criança ao fazer um quadro crônico arrastado, mesmo sendo assintomático. Sendo assim, é uma doença que envolve toda a família que mora junto”, explica a pediatra.
Essa fácil transmissão por contato leva a infecção ser mais presente em populações mais carentes, pela necessidade de dividir um mesmo espaço, muitas vezes pequeno e com pouca ventilação, o que favorece o contágio. “Estima-se que uma pessoa com tuberculose possa transmiti-la para 15 a 20 pessoas ao longo da evolução da doença”, exemplifica Flávia.
O que também reforça a necessidade de um acompanhamento rotineiro com o pediatra é a semelhança entre os sintomas da tuberculose com outras enfermidades, inclusive a Covid-19 – como tosse prolongada, perda de apetite, de peso, e fadiga. Para isso, a forma mais segura de estabelecer um diagnóstico preciso é não faltando na consulta marcada para o bebê e iniciar o tratamento caso seja necessário.