Marina Barros descobriu que tinha diabetes aos 15 anos. Depois de passar mal na escola e ser levada para o hospital, ela entrou em coma por cetoacidose diabética – uma das complicações da doença. “Na época eu não fazia ideia do que era diabetes, então, lembro que não me senti mal por isso. O médico disse que bastava aplicar insulina e fazer dieta para ter uma vida normal. Só depois de alguns anos percebi que ele tinha mentido. Ter diabetes é bem mais complicado que isso”, revela.
Com o tempo, a blogueira foi se adaptando e aliou o acompanhamento médico com a terapia, o que a ajudou a encarar melhor o que estava vivendo: “Aprendi a reconhecer meus sentimentos bons e ruins. Senti-los em sua totalidade e depois agir. Se estou feliz, comemoro, me sinto positiva. Mas se fico triste, não me forço para ter uma postura de falsa felicidade. Me permito chorar e odiar o diabetes. Esse sentimento vem e vai embora”, afirma. Para compartilhar com outras pessoas a sua nova realidade e abordar questões da enfermidade, ela criou o blog Diabética Tipo Ruim em 2014.
Agora em outubro, Marina deu outro passo, mas pensando nas crianças. Ela lançou uma linha de bonecos que vêm com acessórios como bomba de insulina, seringa, caneta e medidor de glicemia, com o intuito de mostrar de forma lúdica aos pequenos a importância de cuidar desde cedo da doença. “A ideia principal é que os pais e médicos usem o boneco para falar ‘vamos aplicar insulina nele? Depois fazemos o mesmo em você’. Outras crianças que não são diabéticas podem ver os brinquedos e perceber que é normal andar com uma bombinha de insulina pendurada na cintura”, comenta a idealizadora do projeto.
À venda em uma loja virtual a partir de R$ 78, os bonceos são inspirados em modelos americanos e fazem referência aos personagens mais queridos da criançada, como os super-heróis e as princesas da Disney. “Eles são feitos à mão e têm no mínimo 7 pontos de aplicação do cateter de velcro. Também acompanham um monitor de glicose com tirinhas, um cartão com a história da personagem e um certificado de amizade para que a criança se comprometa a ajudar o seu novo amigo no controle da insulina”, informa a blogueira.
Marina acredita que os pais devem ser sinceros e cuidar do lado emocional para poder transmitir segurança aos baixinhos: “Quando a criança entende que ela tem uma doença, que vai tomar insulina e ter alguns cuidados, a coisa fica mais perto da realidade. Eu acho que pais que ficam ‘tapando o sol com a peneira’ e dizendo que o filho não tem nada acabam incentivando-o a acreditar nisso e ele pode não se cuidar porque não entende a importância que isso tem”, opina.
Ela conta que, mesmo depois de receber o diagnóstico do diabetes, a sua casa continuou seguindo a mesma rotina de antes: os doces não foram retirados do cardápio da família, que acreditava que ela deveria saber quando e quanto comer. “Meus pais sempre me ensinaram a viver os sentimentos. Se quisesse chorar por ter diabetes, eu podia e isso era tratado como normal. Lembro da minha mãe dizer ‘filha, você não vai ter tudo que quiser na vida. Acostume-se. Chore para liberar o seu peito, mas depois enxugue as lágrimas. Se eu pudesse, tiraria o diabetes de você e colocaria em mim, mas não posso. Então, chore, mas enquanto chora, aplique insulina”, revela.