Alergia alimentar é assunto sério. Ela ocorre quando há uma resposta exagerada do organismo a determinada substância (que pode ser uma proteína ou até conservantes, corantes e aditivos) presente no alimento. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), estima-se que o problema afete 3% das crianças. As manifestações cutâneas e gastrointestinais são as mais comuns, mas as reações também podem levar ao chamado choque anafilático, que causa disritmia cardíaca e dificuldade para respirar.
Por isso, não tem jeito: se você perceber que o seu filho teve algum tipo de reação ao ingerir um alimento – leite, ovo e soja são alguns dos maiores vilões -, procure o pediatra imediatamente. Só um médico poderá fazer o diagnóstico de forma precisa. As orientações indicam que o profissional da saúde analise o histórico da criança e faça um exame físico. Se não descartar de cara a hipótese de alergia, a investigação inclui diversas etapas: entre elas estão exames cutâneos e de sangue; dieta de exclusão, na qual o ingrediente suspeito de causar a alergia é retirado do cardápio do pequeno; e testes de provocação, que consistem em dar novamente o alimento à criança e observar se os sintomas se manifestam.
Algumas medidas, porém, são capazes de evitar que a situação chegue a esse ponto. Confira as recomendações para grávidas, mulheres que amamentam ou ainda mães que estão introduzindo os primeiros alimentos sólidos na dieta do seu filhote. Seguir essas dicas é cortar a probabilidade de a criança desenvolver uma alergia alimentar ao longo da vida.
Durante a gravidez
Tenha uma dieta equilibrada
“Apesar de existir essa orientação na diretriz, é bom deixar claro que o que a mãe come enquanto está grávida não muda a propensão de a criança desenvolver alergia alimentar. No entanto, ela deve seguir um cardápio saudável para garantir os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bebê”, orienta Ana Paula Castro, pediatra e alergista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Se você é alérgica a algum alimento, evite-o
“A mulher pode ter uma reação grave ao alimento e, como está grávida, precisa ficar atenta ao medicamento que usará”, explica Ana Paula Castro. “Se ela tiver uma crise, isso não quer dizer que a criança será alérgica também”, completa.
Se não for alérgica a nenhum alimento, não precisa tirar do seu cardápio aqueles itens famosos por serem altamente alergênicos
Ou seja, ovos, nozes, amendoim, peixe ou leite de vaca podem ser consumidos sem preocupação. Não há provas conclusivas de que evitá-los afastaria por tabela uma alergia alimentar na criança.
Durante a amamentação
Não exclua itens da sua dieta
A pediatra Ana Paula afirma que o cardápio consumido pela mulher que amamenta não influencia na possibilidade de o bebê desenvolver alergias.
Respeite a idade de mamar no peito
A amamentação exclusiva até os 6 meses – como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – é uma ótima forma de garantir que o seu filho produza anticorpos, que vão protegê-lo de problemas como as alergias. Segundo Fátima Rodrigues Fernandes, pediatra e alergista do Hospital Infantil Sabará, na capital paulista, “o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses é ainda mais importante para os bebês de famílias em que as pessoas têm tendência à alergia.”
Na fase das primeiras papinhas
Introduza os alimentos sólidos na dieta do seu filho entre os 4 e 6 meses de idade, nem antes e nem depois disso
“Não é certo oferecer alimentos sólidos antes desse período porque o bebê ainda não desenvolveu a capacidade de mastigar e existe o risco de aspirar a comida”, ensina Cid Pinheiro, pediatra do Hospital e da Maternidade São Luiz, em São Paulo. No entanto, atrasar demais a introdução de alimentos sólidos também não é recomendado. “Porque só o leite materno não tem todos os nutrientes que a criança precisa, ela perde potencial de crescimento e pode, inclusive, desenvolver anemia”, completa Pinheiro. Vale lembrar que as mães podem continuar amamentando até os 2 anos, desde que o bebê receba também, outros alimentos, como frutas, verduras e legumes.
Não há evidências de que atrasar a introdução de alimentos potencialmente alergênicos, como leite, ovo e amendoim, vai impedir que a criança desenvolva alergia
O pediatra Cid Pinheiro garante que “se a criança já tem propensão a ser alérgica, ela vai desenvolver o problema em algum momento da vida”. O que muda é o seguinte: a reação é tanto maior quanto menor for a criança, ou seja, “se um bebê lamber uma paçoca de amendoim, por exemplo, a reação vai ser muito mais grave do que seria se experimentasse o doce quando já fosse maior”, completa Pinheiro.
Alergia x Intolerância
A diferença entre esses dois problemas está no que origina cada um deles. No caso das alergias alimentares, existe um mecanismo imunológico, ou seja, o paciente desenvolve sensibilização a determinada proteína alimentar e isso dispara a produção de anticorpos (imunoglobulina E). Isso, por sua vez, determina quadros que podem ser transitórios ou permanentes, tais como urticárias, edemas, dermatites, sintomas gastrointestinais (vômitos, diarreia, dor abdominal, sangramento nas fezes) e ganho de peso abaixo da média. Mais raramente podem ocorrer sintomas respiratórios, como rinite e asma.
No caso de uma intolerância, porém, o sistema imunológico fica completamente fora da história. É um problema digestivo, ou seja, aquele organismo não tem enzimas para digerir determinado alimento. Por exemplo: nas crianças que não toleram o leite, há uma falta de lactase, a enzima que degrada os açúcares do leite.