Que o parto natural é a melhor opção para a saúde da mãe e do bebê não há mais dúvidas, tendo em vista as diretrizes recentes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS) para tentar diminuir a alta incidência de cesáreas no país e no mundo.
Mas, para garantir que a experiência seja realmente positiva, o ideal é que o parto seja também humanizado, conceito que ganha força entre os especialistas e que exige menos procedimentos e intervenções desnecessárias. Embora não haja uma definição precisa do que é um parto humanizado, uma coisa é regra: os desejos e preocupações da mulher devem ser ouvidos.
E isso passa – e muito – pela posição em que o bebê chegará ao mundo. “Infelizmente, a posição de rotina, que é aquela deitada de barriga para cima não é a mais recomendada”, explica Anatália Basile, enfermeira doutora em Ciências da Saúde e coordenadora do Programa Parto Seguro, da prefeitura de São Paulo. Ocorre que a mulher geralmente não tem acesso a essa informação, justamente o que iniciativas como o projeto paulistano tentam evitar.
Desenvolvido pelo Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (CEJAM), o Parto Seguro é atualmente oferecido em nove hospitais públicos da capital paulista e visa devolver autonomia para a mãe, com um plano individual de parto e a possibilidade de escolher a posição em que ela se sente mais confortável.
Escolher posturas não convencionais, como em pé ou deitada de lado, parece tão vantajoso que, na rede atendida pelo programa, não só as cesáreas estão abaixo dos 35% recomendados pela OMS como apenas 5% dos partos naturais são feitos na posição litotômica, a mais conhecida. Abaixo, explicamos por que esta postura pode dificultar a chegada do bebê e listamos outras seis que, de fato, facilitam o nascimento do pequeno.
1. Litotômica
Na cena típica do parto normal, a mulher está deitada de barriga para cima e as pernas levantadas. O problema é que essa posição não facilita a saída do bebê. E, se a mãe fica assim por muito tempo, o útero pesa sobre os vasos que irrigam a placenta – o que tende a diminuir o aporte de sangue e oxigênio ao bebê e dificultar a escuta dos batimentos cardíacos fetais.
Como essa situação é perigosa, o médico ou profissional de saúde se vê impulsionado a lançar mão de processos que aceleram o parto e hoje são desencorajados, como o uso de ocitocina. Outra intervenção que ocorre muito neste cenário é a episiotomia, corte feito no períneo para ajudar na expulsão do filhote que até tem indicações em determinados casos, mas que não deve ser usado rotineiramente por aumentar o risco de complicações.
2. Lateral
É a que lidera a lista de “não convencionais” do Parto Seguro – 22% dos partos naturais do programa são feitos dessa maneira. A mãe deita-se de lado, com as pernas flexionadas e uma delas levantada. Quando a contração ocorre, a perna abaixa. Nessa posição, aliás, as contrações são mais intensas e menos frequentes, o que torna a experiência mais confortável e o parto mais rápido. Como a gestante já costuma dormir assim, fica mais fácil assumir a postura na hora de dar à luz o pequeno, que por sua vez recebe oxigênio sem problemas até seus instantes finais no útero. É indicado a todas as gestantes que estão habilitadas para o parto normal.
Aliás, essa regra vale para todas as posições que apresentaremos aqui. “Não há contraindicações para estas posições. Pelo contrário, elas devem ser incentivadas e ajustadas conforme a necessidade e o conforto de cada mãe”, explica Cristiano Salazar, ginecologista e obstetra do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, que realiza o programa Parto Adequado, em moldes similares ao Parto Seguro.
3. Em pé
Pode assustar à primeira vista, mas o parto em pé tem ganhado muitas adeptas. Graças à providencial contribuição da gravidade, ele ajuda a promover a expulsão do bebê. “Entre as vantagens da posição vertical está o aumento dos diâmetros pélvicos maternos, quando comparado à posição litotômica, ou seja, aumenta a via de passagem do pequeno”, afirma Anatália Basile. A mulher pode ficar apoiada numa parede para facilitar o processo, que exige também alguma força nas pernas. Não há contraindicações, mas nessa posição a gestante pode perder um pouco mais de sangue – o que não chega a ser um problema nem exige transfusão. Nos partos humanizados, a mãe é incentivada a caminhar à vontade, então pode acabar por assumir naturalmente a posição.
4. Sentada em banqueta
A mulher se posiciona em uma banqueta especial, com um buraco no meio por onde o bebê passa – mas há muitos formatos diferentes. Geralmente, o acompanhante fica atrás para dar apoio, mas é possível também se sentar sozinha nesse equipamento. As costas podem ficar curvadas para frente ou para trás: não há regras. Como a gestante está sentada com os pés no chão, os músculos do assoalho pélvico ficam mais relaxados, o que também facilita a saída do bebê. Sem contar que ela não força as articulações de joelho, tornozelo e demais membros inferiores.
5. Semissentada
Assim como nas posições verticais, ela facilita a descida do bebê, com a principal vantagem de oferecer conforto às mães. A inclinação também diminui a pressão do útero sobre alguns vasos sanguíneos e garante a circulação adequada de oxigênio e sangue. Para que seja realizada, é preciso que haja uma cama mais larga e reclinável, específica para as salas de parto humanizado, com apoios para que a mulher possa levantar os pés.
6. Quatro apoios
Essa ainda não é muito praticada no Brasil (ao contrário de outros países), mas também tem suas vantagens. Apesar de exigir um pouco dos joelhos, ela alivia parte da dor lombar que as gestantes comumente sentem durante o trabalho de parto. Se desejar, a mulher também pode apoiar os cotovelos e, assim, transformar a posição em seis apoios. Por ampliar a abertura da pelve, essa posição facilita a passagem de bebês mais lentos e, assim como as outras, diminui a necessidade de episiotomia.
7. De cócoras
Ganhou fama com o aumento do interesse pelo parto humanizado e, por conta da posição em que a mãe fica, aumenta o espaço para a passagem do bebê, além de também contar com o auxílio da gravidade. A gestante fica agachada com os joelhos flexionados e os pés no chão e pode manter as mãos apoiadas em uma cadeira ou outro móvel. A mãe pode, ainda, ficar de frente para seu acompanhante, que abaixa junto com ela. Foi assim que a atriz Sheron Menezzes deu à luz seu primeiro filho, Joaquim, no final de 2017.
Qual é a melhor?
Depende. A ideia não é eleger uma delas, mas sim estimular que mulheres aptas a parir naturalmente sejam estimuladas a testar as posições que desejarem durante o trabalho de parto. E, claro, sejam orientadas sobre elas antes disso. Nos centros que oferecem o parto humanizado, tudo ocorre na sala chamada de PPP (pré-parto, parto e pós-parto), que é equipada com uma cama maior, banquetas e apoios. Há, ainda, outras variações dessas posições que podem ser assumidas neste momento tão especial. Só não vale mais ficar engessada na maca – rotina que tem tudo para ficar no passado!
– Anatalia Lopes de Oliveira Basile, enfermeira doutora em Ciências da Saúde e coordenadora geral do Parto Seguro à Mãe Paulistana no CEJAM;
– Cristiano Salazar, ginecologista e obstetra do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, que oferece o programa Parto Adequado, outra iniciativa para estimular a humanização do nascimento.