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Não é “só um cortezinho”: as 7 camadas da cesárea e a cicatrização delas

Apesar de ser um procedimento seguro, quando bem indicado, a cirurgia exige cuidados específicos

Por Da Redação
16 jun 2023, 10h11
close na barriga de uma mulher, com um corte horizontal de cesárea. Suas mãos seguram os pés de um bebê, posicionado sobre sua barriga
 (Jane Khomi/Getty Images)
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Quando alguém precisa passar por uma cirurgia, espera-se que a pessoa tenha uma recuperação tranquila, que repouse por um período e que não faça esforço tão cedo, certo? No caso de uma cesárea, porém, a história não é bem assim. A mãe não só não consegue descansar como deveria, como também ganha um bebê para cuidar, alimentar, acalmar… Embora seja seguro, quando bem indicado e feito por equipes médicas competentes, em bons hospitais, trata-se de um procedimento cirúrgico e, portanto, pode, sim, ter riscos e complicações.

“É a cirurgia mais feita no mundo”, afirma o ginecologista e obstetra Wagner Hernandez, especialista em gestações gemelares e de alto risco. Em 2022, no Brasil, 57,7% dos nascimentos foram por cesariana, segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde – o número é quase quatro vezes mais alto do que a taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é 15%.

Apesar de acontecer várias vezes, todos os dias, em quase todos os cantos do mundo, a cesárea exige cuidados. Não, não é “só um cortezinho”. “Cortamos sete camadas para chegar até o bebê”, explica Hernandez.

Os cortes da cesárea

“Na ordem: primeiro, incisa-se a pele. Depois, o subcutâneo, que seria a gordura. Então, abrimos duas aponeuroses, que são os tecidos que conectam o músculo aos ossos. Depois, afastamos os retos abdominais (aquela musculatura que forma os ‘gominhos’ na barriga) – essa parte não é cortada, mas abrimos ao meio. Em seguida, vem o peritônio parietal, uma capa que protege o intestino, o peritônio visceral, que é como se fosse uma outra capinha que reveste os órgãos e, só então, chegamos ao útero”, detalha o médico. Ufa! Complexo, não?

O tempo que leva para fazer tudo isso varia, dependendo de diversos fatores. Por exemplo: se é ou não a primeira cesárea da mulher, se ela tem cirurgias abdominais prévias, se tem obesidade ou não… Há também a questão do profissional que está fazendo. De acordo com o especialista, é possível que o procedimento dure de 30 a 40 minutos, nos casos mais rápidos, a uma hora e meia ou duas horas, nos mais complicados.

cirurgia cesariana. Na foto, é possível ver um médico manipulando instrumentos na mesa de cirurgia e outros profissionais ajudando. Estão usando roupa de proteção azul, máscara e touca.

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Cesariana e a cicatrização

De todas essas sete camadas, apenas a pele fica aparente e, geralmente, é a cicatrização com que as pessoas se preocupam mais – já que essa é a área que conseguimos enxergar. No entanto, é preciso lembrar que há todos os cortes internos também.

Um dos principais é o corte no útero, que, segundo Hernandez, demora um pouco mais para cicatrizar. “Por isso, costumamos pedir às mulheres que querem engravidar novamente depois de uma cesárea que aguardem um intervalo de pelo menos 18 meses, para que cicatrize de maneira adequada e minimize o risco de ruptura”, diz. É fundamental garantir um bom fechamento do órgão, após a cirurgia, para parar o sangramento local e evitar complicações futuras.

Outra camada que também merece uma atenção um pouco maior é a das aponeuroses. Já havia escutado esse termo? “Ela é a mais forte, e segura todo o conteúdo abdominal. Portanto, se não tiver uma boa cicatrização, pode acabar evoluindo com uma hérnia, por exemplo”, afirma o obstetra.

Já os peritônios e a pele subcutânea costumam fechar mais rápido: “Em sete dias, muitas vezes, a pele já está cicatrizada”, conta o médico.

O corte é sempre na horizontal?

Na grande maioria das vezes, a incisão da cesárea é feita na horizontal, na parte inferior da barriga. A incisão vertical sangra menos, compromete menos nervos e é feita com frequência em alguns países, como o Japão.

No Brasil, os cortes costumam ser horizontais, porque afetam menos fibras. “Isso permite uma cicatrização melhor e uma chance de um parto normal subsequente, em uma próxima gestação, com maior segurança”, explica o especialista.

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Cuidados com os cortes e a recuperação

Uma das principais vantagens do parto normal, para a mãe, é justamente o processo de recuperação e de cicatrização. “O risco de infecção e de sangramento é maior nas cesáreas”, diz Hernandez.

“Como em qualquer cirurgia, é preciso tomar todo um cuidado de assepsia e limpar bem a área para proteger do risco de contaminação”, acrescenta. Isso vale durante e após a operação. Por isso, é tão importante a paramentação e o uso do campo cirúrgico (aquele tecido azul que fica entre o peito da mãe e a barriga, enquanto o procedimento ocorre).

Para evitar problemas e garantir uma boa recuperação da cesárea, o ideal é que a mulher não faça esforço físico e atividades por pelo menos um mês ou quarenta dias. “Esse período é justamente para dar tempo de camadas, como a das aponeuroses, cicatrizarem corretamente e minimizar o risco de complicações, como hérnia”, explica.

A partir daí, o obstetra faz a avaliação durante as consultas de pós-parto e, aos poucos, vai liberando a mãe para que retome sua rotina normal. O importante é fazer o acompanhamento médico da forma correta e não exagerar no esforço – ainda que isso seja desafiador para quem tem um recém-nascido em casa.

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