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Pesquisa confirma transmissão do vírus zika pela placenta

Cientistas do Paraná analisaram amostras placentárias de uma gestante que apresentou sintomas da infecção por zika no início da gravidez e sofreu um aborto.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 28 out 2016, 01h55 - Publicado em 21 jan 2016, 15h07

Nesta quarta-feira (20), um estudo inédito do Instituto Carlos Chagas (ICC), da Fiocruz Paraná, trouxe novos achados sobre a ação do vírus zika no corpo de pacientes grávidas. Em parceria com pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a equipe de cientistas confirmou o que até então era apenas uma suspeita: esse agente infeccioso é mesmo capaz de ultrapassar a barreira placentária.

Os estudiosos analisaram amostras da placenta de uma mulher que vive na região Nordeste e que sofreu, na oitava semana de gestação, um aborto retido – quando o feto deixa de se desenvolver dentro do útero. Nas primeiras semanas de gravidez, a paciente havia apresentado manchas no corpo, um dos principais sintomas de infecção por zika.

Em laboratório, os especialistas fizeram exames com anticorpos capazes de reconhecer não só o zika, mas outros vírus da mesma família, a exemplo da dengue e de chikungunya. Os resultados foram positivos e confirmaram a presença de proteínas virais em células placentárias. O passo seguinte foi avaliar partes da placenta com alterações morfológicas – daí que veio a identificação de traços do DNA do zika.

Mecanismo

Os pesquisadores também detectaram o vírus em células Hofbauer, que são produzidas durante a gravidez e agem na manutenção da placenta e na defesa do bebê. Elas têm uma grande capacidade migratória e a principal hipótese é que o zika as use para alcançar os vasos fetais. Inclusive, esse é o mesmo mecanismo do HIV, o vírus da aids.

“Embora não possamos relacionar esses achados com os casos de microcefalia e outras alterações congênitas, este resultado confirma de modo inequívoco a transmissão intrauterina do zika vírus”, diz a virologista Cláudia Nunes Duarte dos Santos, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do ICC/ Fiocruz Paraná. A partir disso, os cientistas pretendem delimitar estratégias para impedir o processo de infecção e/ou transmissão desse agente infeccioso.

Novos casos de microcefalia

Nesta quarta-feira, também foi divulgado o novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre os casos de microcefalia. De acordo com a pasta, até o dia 16 de janeiro foram notificados 3 893 casos suspeitos da malformação cerebral em 764 municípios de 21 estados. O documento também aponta que, de todos os quadros em investigação, 224 foram diagnosticados como sendo, de fato, microcefalia, seis confirmaram a relação com o zika e outros 282 foram descartados. Continuam em análise 3 381 casos.

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Até agora, foram registrados 49 óbitos por malformação congênita. A relação dessas mortes com o zika foi confirmada em cinco deles – um no Ceará e quatro no Rio Grande do Norte.

Ajuda para as mães de bebês com microcefalia

A fim de dar suporte às famílias dos bebês vítimas de microcefalia no Brasil, foi criado o site Cabeça e Coração. Sem fins lucrativos, o objetivo da iniciativa é divulgar a história de mães de crianças que nasceram com a malformação cerebral, além de conectá-las a pessoas dispostas a fazer doações materiais ou financeiras.

Ao fim dos relatos, há uma lista com os itens que as mães precisam. Lá também estão o endereço e as informações da conta bancária de cada família. “Quando nasce uma criança com essa condição, um dos pais geralmente tem que parar de trabalhar para se dedicar exclusivamente ao filho. A criança tem que fazer terapias várias vezes por semana, além de precisar de cuidados especiais por toda a vida. Assim, a renda da família diminui – e isso pode trazer dificuldades diversas”, escrevem as criadoras do site.

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