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Entenda qual é o papel da doula

Conheça a importância do trabalho destas mulheres que ajudam a transformar a experiência do parto em um momento ainda mais especial e tranquilo.

Por Alessandra Rebecchi Feitosa (colaboradora)
Atualizado em 15 mar 2021, 15h14 - Publicado em 25 Maio 2015, 11h21
Doula com grávida
 (Nataliia Nesterenko/Getty Images)
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“Ela olhava nos meus olhos e dizia que eu iria conseguir. Não consigo imaginar meu trabalho de parto sem aquelas massagens que minha doula fazia. Eu sabia que estava em boas mãos e pude realizar um sonho: parir meu filho”, suspira Erika Patrícia Costa Farias, mãe de Pedro de 4 anos e Luis de 6 meses. O primeiro, nascido por meio de uma cesárea. O segundo nasceu em um parto natural restaurador, sem analgesia, na banheira do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.

Assim como Erika, muitas mulheres sonham em conseguir um parto normal, mas a maioria teme sentir dores insuportáveis e passar por este momento sem o apoio necessário. Esta é a principal função das doulas: dar suporte físico e emocional à gestante em trabalho de parto.

Mas afinal, o que é uma doula?

Doula não é parteira, não é enfermeira, nem substitui a presença do pai. Doula não faz qualquer tipo de procedimento invasivo como exame de toque ou administração de medicamentos.

No trabalho de parto, a profissional ajuda a mulher a encontrar as posições mais favoráveis durante as contrações, faz massagens e compressas para aliviar a dor, ajuda o parceiro a se envolver e participar ativamente do parto e informa o casal sobre todos os procedimentos que estão sendo realizados.“Ter a doula ao nosso lado foi fundamental. Ela me ajudou a ficar firme e não me desesperar vendo a Mariana sentir as contrações”, afirma Gabriel Guimarães, que viveu o trabalho de parto intensamente com sua esposa.

O serviço desta assessora começa antes do dia do nascimento do bebê, com encontros para conhecer a gestante e informá-la sobre as etapas do trabalho de parto, preparação do períneo e elaboração do plano de parto. E também continua após a chegada do novo membro da família, tirando dúvidas sobre o início da amamentação e conversando sobre a experiência do parto.

Maíra Duarte, doula há mais de três anos, diz que o mais importante para ela é levar informação de qualidade para que o casal consiga vivenciar o momento de dar à luz sem medo. “Maíra me sugeriu posições, fez massagem, olhou nos meus olhos e encorajou meu marido… Meu trabalho de parto durou cerca de 22 horas e esse apoio foi importantíssimo”, conta Camila Souza Torelli, que escolheu Maíra para ser sua acompanhante no parto de seu filho, Antônio.

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Após tentar o parto natural, Silvia Kawata precisou aceitar a necessidade de passar por uma cesárea e conta que não abriu mão do apoio da doula durante a cirurgia. “Nossa doula me deu conforto físico e psicológico tanto durante o trabalho de parto, quanto durante e após a cirurgia. Ficou comigo até a hora em que fui levada para a sala de pós-operatório e me disse palavras de carinho”, explica Silvia, que pôde contar com a presença da doula no centro cirúrgico por se tratar de uma cesárea necessária. As doulas costumam apoiar o parto natural e, dificilmente, concordam em acompanhar a gestante durante uma cesárea eletiva.

Doulas X Maternidades

A entrada das doulas não é permitida em todas as maternidades do Brasil. Por isso, antes de escolher o hospital que dará à luz, informe-se se a instituição permite a entrada desta profissional.

A Associação de Doulas de São Paulo acredita que este tipo de proibição aconteça por causa da falta de conhecimento sobre o trabalho dessas profissionais. “Por isso, uma das principais propostas da ADOSP é a conscientização voltada para diferentes públicos sobre quem é a doula, o que ela faz e não faz, assim como apresentar os benefícios desta acompanhante de parto profissional”, explica Daniela de Almeida Andretto, doula e membro da Comissão Científica da ADOSP.

O trabalho da doula é reconhecido?

A atuação da doula durante o parto é reconhecida e estimulada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudos mostram que a presença delas ajuda a diminuir em 50% os índices de cesáreas, 25% a duração do trabalho de parto, 60% os pedidos de analgesia peridural, 30% o uso de analgesia peridural, 40% o uso de ocitocina e 40% o uso de fórceps. O apoio profissional recebido durante o trabalho de parto e pós-parto aumenta as sensações de bem-estar da mãe e que esta ajuda combate a depressão pós-parto.

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Além de todo o suporte físico e psicológico, elas informam e orientam as mães a respeito dos procedimentos considerados desnecessários de acordo com as atuais evidências científicas e orientações da OMS. “Apesar de todas as evidências a favor da livre deambulação durante as fases de dilatação e expulsão, as mulheres ainda são levadas a parir em posição ginecológica, com as pernas amarradas aos estribos”, exemplifica a obstetra Carla Polido, professora assistente do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos.

Em muitos países, como Canadá e Estados Unidos, o acompanhamento das doulas é incentivado pelos médicos. A neurocientista brasileira Andreia Mortensen vive em Oregon, Estados Unidos, e afirma que até os cursos para gestantes dos hospitais costumam ser ministrados por estas profissionais.

Por aqui, as doulas já foram incluídas na Classificação Brasileira de Ocupação e conquistam seus certificados em cursos de até 200 horas que ensinam, além da teoria sobre o parto e as práticas para a profissão, todos os cuidados a respeito da proteção individual e das gestantes em um ambiente hospitalar. As aulas costumam ser ministradas por doulas experientes e obstetrizes em núcleos de apoio ao parto natural. Os mais conhecidos são o Grupo de Apoio à Maternidade Ativa, a Associação Nacional de Doulas e a Casa Moara. Para fazer o curso não é necessário ter formação na área da saúde.

Como encontrar uma doula?

Você consegue encontrar uma doula no site Doulas do Brasil, pesquisando em listas de discussão de gestantes na internet e blogs que algumas profissionais mantêm. Ela pode ser contratada em qualquer período da gestação.

A escolha da doula é fundamental, pois precisa haver empatia entre ela e a gestante para que exista confiança e cumplicidade no momento do parto. Cada doula tem um jeito de trabalhar e você deve escolher a que melhor se adequa as suas necessidades. Mas é importante lembrar que apenas ter uma doula não é garantia para se conseguir um parto natural.

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Em um país onde quase 90% dos partos em hospitais particulares são cesáreas (quando a recomendação da OMS é que haja no máximo 15%), é necessário ter ao seu lado um obstetra que realmente aceite acompanhar partos naturais e com a presença de uma doula. “Se a gestante tem interesse em receber o apoio contínuo da doula durante do trabalho de parto, ela pode compartilhar esse desejo com seu médico e tentar promover um encontro entre ambos”, orienta Daniela que acredita que este pode ser o início de uma parceria de respeito entre os profissionais de assistência ao parto.

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