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É verdade que uma mãe pode ter gêmeos de pais diferentes?

O fato raro, chamado de superfecundação heteroparental, veio à tona depois de casos recentes registrados na China. Entenda!

Por Flávia Antunes
21 Maio 2020, 12h47

No nascimento de gêmeos, é normal que a família se depare com bebês que não são totalmente idênticos – especialmente em caso de bivitelinos, formados pela fecundação de dois óvulos diferentes. Recentemente, porém, um acontecimento na China mostrou que é possível que outro mecanismo seja responsável pelos pequenos receberem cargas genéticas distintas.

Depois de realizar um teste de DNA, procedimento padrão nas maternidades chinesas, um pai descobriu que apenas um dos gêmeos de sua mulher era seu filho. Deng Yajun, diretora do Centro de Identificação Forense de Zhongzheng de Pequim e responsável pelo relatório de paternidade, afirmou ao China News Weekly que a chance da situação acontecer gira em torno de uma a cada 10 milhões.

“O fato recebe o nome de superfecundação heteroparental e seu funcionamento é semelhante ao de uma gestação gemelar de não-idênticos”, explica o Dr. Matheus Roque, especialista em reprodução humana da Clínica Mater Prime e membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.

Segundo o médico, para que o caso raro se desenvolva, a mulher precisa ter relação sexual com dois parceiros diferentes e produzir dois óvulos – de maneira natural ou por conta de medicamentos que induzam à ovulação –  que serão fecundados pelos respectivos espermatozoides.

Com poucos registros na literatura médica, o especialista afirma que a incidência da superfecundação heteroparental pode ser bastante variável. “Estimativas norte-americanas, por exemplo, apontam para a ocorrência em um a cada 400 nascimentos de gêmeos. Outros falam de um a cada 13.000 nascimentos no geral”.

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Apesar de no caso chinês o teste de DNA ter sido feito logo após o nascimento dos bebês, o profissional diz que a testagem de paternidade pode acontecer em qualquer etapa da vida da criança, desde que surja uma solicitação por parte dos pais, ou então como demanda de alguma questão judicial, como processos de contestação da paternidade.

Sobre a produção de mais de um óvulo pela mãe, Dr. Matheus indica que pode estar ligada a diversos fatores. “Geralmente, a mulher ovula um óvulo por mês. O fato de gerar duas células reprodutivas pode estar ligado a uma história de gêmeos dizigóticos (não-idênticos) na família ou então a alterações hormonais decorrentes da idade avançada. O uso de medicações, como indutores de ovulação, também pode favorecer o processo”, esclarece ele.

Apesar de ser rara em humanos, a superfecundação heteropaternal é comum em animais como cães, gatos e vacas, como explicou a presidente da Associação de Embriologistas Clínicos, Carroll Jason Kasraie, ao The Guardian. “As fêmeas têm, ao longo da vida, múltiplos acasalamentos com múltiplos machos, e isso aumenta a chance de produzirem vários descendentes. Já os humanos, não possuem um processo reprodutivo tão eficiente”, diz.

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