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“Como tive gêmeos por parto vaginal após uma cesárea”

Depois de passar por uma cesariana indesejada, Soraya optou pelo parto humanizado na segunda gestação.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
17 abr 2017, 18h09

Soraya Sandoval é mãe de três meninas. A primeira, hoje com cinco anos, nasceu por meio de uma cesárea desnecessária e não desejada. As duas caçulas – gêmeas – vieram ao mundo após um intenso processo de busca por informações sobre o parto humanizado e pelas mãos de uma equipe preparada e muito acolhedora. Conheça essa história!

“Desde a minha primeira gestação eu queria ter um parto normal, mas eu pensava que tudo aconteceria naturalmente, que todos fossem apoiar essa decisão e que no momento em que eu entrasse em trabalho de parto a equipe do hospital esperaria o tempo que fosse necessário para minha bebê nascer. Mas infelizmente não foi assim que aconteceu!

Minha bolsa rompeu, começaram as contrações e fomos para o hospital. Chegando lá, imediatamente me examinaram e já me informaram que eu estava com 3 centímetros de dilatação. Gestante de primeira viagem, dando entrada na maternidade com pouca dilatação, sem acompanhamento de uma doula, sem informação e muita dor! Eu era um alvo fácil para a realização de uma cesárea desnecessária.

Assim que me acomodei no quarto onde eu passaria as próximas torturantes horas, já notei a frieza e falta de empatia da equipe que me recebeu. Esperava outro tipo de tratamento, afinal eu viveria o evento mais importante da minha vida: o nascimento da minha primeira filha. Mas para eles isso não importa. Eles fazem isso o tempo todo. Eu só era mais uma. E eles tinham pressa! 

Naquela maternidade não era permitida a entrada de mais de um acompanhante com a gestante. Eu queria muito que uma amiga fisioterapeuta ficasse comigo pelo menos durante as primeiras horas para me dar suporte físico e emocional. Eu não fazia ideia da importância da presença do meu marido naquele momento comigo, então escolhi que ela entrasse comigo primeiro.

Depois de umas 5 horas que eu já estava internada, o obstetra chegou para me examinar e me deu a triste notícia de que eu tinha dilatado muito pouco. Já bem desanimada e sem esperança, sem comer e tomar água, o médico aproveitou minha vulnerabilidade e me ofereceu uma cesárea. Sem titubear, eu aceitei. Naquele momento, eu pensava ter sido a melhor decisão a tomar. E talvez de fato tenha sido! Lá no fundo eu sabia que havia uma grande chance do meu parto terminar com muito sofrimento e trauma.

Fui para o centro cirúrgico e em 20 minutos eu já ouvia o choro da minha filha. Colocaram-na próximo ao meu rosto, dei um beijinho nela e logo a levaram para que ela fosse examinada e trocada. Minha vontade era pegá-la no colo, abraçá-la. Mas não podia. Enquanto me costuravam, eu ouvia seu choro e não podia nem olhar para trás para ver o que estava acontecendo. Depois que o bebê nasce, o tratamento da equipe do hospital com a mulher que já se tornou mãe não é muito diferente de quando ela chegou ainda grávida. As enfermeiras não davam a real importância para a minha dificuldade com a amamentação e de novo eu me sentia fraca e incapaz. Mas agora eu era responsável pela vida e nutrição de um ser: minha filha.

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Quando eu voltei para a casa, inconformada com o fato de não estar conseguindo amamentar do jeito que eu gostaria, comecei uma busca incessante por informações a respeito de amamentação. Até que eu caí no assunto ‘parto humanizado’ e descobri que eu tinha passado por uma cesárea desnecessária e havia sofrido alguns tipos de violência obstétrica.

Fiquei fissurada pelo assunto e a partir de então não parei mais de estudar sobre. Prometi a mim mesma que se um dia eu ficasse grávida novamente, tudo seria diferente. Quando minha filha estava com 3 anos, meu marido eu já nos sentíamos preparados para ter um segundo filho – e em fevereiro de 2015 descobri que estava grávida de novo.

Mais informada e empoderada, procurei uma doula e comecei a pesquisar equipes humanizadas para assistir o meu parto. Só que, para minha surpresa, o primeiro ultrassom revelou que era uma gestação gemelar. Foi um susto e a novidade nos pegou de surpresa! Não estava nos nossos planos ter três filhos! E agora o meu tão sonhado parto normal? E agora nossa vida? E agora tudo? Eu nunca tinha me interessado por esse universo gemelar, nunca tinha lido nada a respeito e tive que começar do zero.

“Como tive gêmeos por parto vaginal após uma cesárea”VEJA TAMBÉM: Como é a gravidez de gêmeos

Encontrei um grupo de apoio a mulheres que desejam parto normal de gêmeos no Facebook, o “Parindo Gêmeos”, e ali eu me encontrei! Só tinha mulheres que haviam parido seus gêmeos da forma mais natural e respeitosa possível – um parto mais lindo que o outro! Aquilo me deu uma paz. Eu sabia que era possível parir e amamentar gêmeos. Agora só restava encontrar a equipe que toparia assistir um parto normal gemelar com cesárea anterior. Na cidade onde eu moro, nenhum obstetra topou. Todos diziam que deveria ser cesárea pelo simples fato de serem gêmeos e mais ainda pela cesárea que eu já tinha feito há 3 anos.

E foi no grupo do Facebook que eu descobri um obstetra humanizado que atende na cidade de São Carlos. Uma das moderadoras do grupo havia parido lá e foi assistida por ele. Depois de conseguir todas as informações que eu precisava, falei com meu marido e decidimos conversar com esse médico. No dia da consulta, aproveitamos para conhecer a maternidade e nos apaixonamos! Estava decidido: o parto ia ser lá!

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Soraya Sandoval
(Arquivo Pessoal/Soraya Sandoval)

Agora era só seguir em frente e esperar a hora. As duas bebês estavam em posição cefálica, eu me sentia muito bem e estávamos muito saudáveis. Durante toda a gestação eu pratiquei yoga, dança do ventre e cuidava muito da alimentação. Minha grande preocupação era fazer essa gestação chegar a termo da forma mais saudável possível. Além de toda a preparação física com as atividades que vinha praticando, eu tinha toda informação de que precisava: sabia todas as indicações reais e fictícias para a realização de uma cesárea; conhecia praticamente todos os tipos de intervenções que poderiam ocorrer durante o trabalho de parto; sabia como respirar e me concentrar durante as contrações. Mas o mais importante: eu havia escolhido um obstetra humanizado e uma equipe humanizada, que realizavam seus atendimentos baseados nas mais atuais evidências científicas.

No dia 16 de setembro de 2015, eu entrei em trabalho de parto e fui para a maternidade com meu marido, minha doula e minha irmã juntos. Viajamos 120 km, mas foi muito tranquilo. Dei entrada na maternidade às 21h, com 4 cm de dilatação. No quarto em que me hospedei havia cama de casal, banheira e todos os aparatos para parto humanizado: banqueta, bola de pilates, barra.

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Fui muito respeitada por toda equipe do hospital e estava cercada de amor e carinho das pessoas que escolhi para estarem comigo naquele momento. As horas passavam sem eu perceber. Eu estava muito calma e procurei não criar expectativas. O obstetra passava de vez em quando para ver como estavam as coisas, sempre muito respeitoso e aguardando o tempo das minhas bebês. Tive a liberdade de comer e beber o que eu quisesse; pude me movimentar e ficar na posição em que eu me sentisse melhor; entrar e sair da banheira, do chuveiro… Enfim, pude ficar onde eu preferisse. Tudo estava correndo super bem! Minha pressão arterial estava ótima, os batimentos cardíacos das bebês estavam excelentes, então não havia motivo para pressa. Só nos restava aguardar. E assim foi até às 20h do dia 18 de setembro.

Eu me acomodei na banheira com meu marido de frente para mim e ali nossas bebês nasceram, num lindo e tranquilo parto na água. Cercadas de amor e respeito. Primeiro a Mariana e, 11 minutos depois, a Heloísa. Vieram direto para os nossos braços, sob os olhares atentos da doula, da minha irmã, do obstetra, das enfermeiras e da pediatra. Todos em silêncio e num ambiente com pouquíssima luz. Nem parecia que tinha mais alguém naquele quarto além do meu marido, eu e as bebês. Ali mesmo elas foram examinadas pela pediatra e não saíram mais de perto de mim durante minha permanência na maternidade.

E assim fui curada! Curada de uma ferida que me causaram quase quatro anos antes desse parto, quando me convenceram de que eu não era capaz de parir um bebê. Não pari um, mas dois de uma vez. Eu só tenho a agradecer a todos que participaram desse parto, direta e indiretamente, e a todos que apoiaram nossa decisão. Em especial meu marido, que é meu companheiro de todas as horas, que se informou e se empoderou comigo para passar por esse processo da forma linda que foi”.

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