Não é exagero dizer que, se a gravidez fosse uma orquestra, o cálcio seria forte candidato a regente. Isso porque ele tanto regula processos do organismo materno diretamente envolvidos na gestação (como a coagulação sanguínea e o fluxo de nutrientes para o bebê) quanto influencia a formação do feto. Esse mineral contribui, principalmente, para a formação do esqueleto do bebê, fortalecendo ossos e dentes. Também auxilia na regulação dos batimentos cardíacos e na coagulação sanguínea. Se estiver em falta, tudo isso pode ser prejudicado.
Para a gestante, a falta de cálcio é um problema ainda mais sério. “Se o feto não receber a quantidade que precisa para se desenvolver, automaticamente usará o cálcio armazenado nos ossos e dentes da mãe. Esse roubo pode ocasionar cãibras, cáries e unhas quebradiças nas mulheres. Se elas engravidarem várias vezes e não repuserem o cálcio, poderão desenvolver a osteoporose no futuro”, explica o obstetra Ricardo Barini, do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista.
Risco de pré-eclampsia
A carência de cálcio ainda pode contribuir para a subida da pressão arterial na gestante, elevando os riscos de pré-eclampsia. Se não for tratada, essa doença pode levar ao parto prematuro, colocando o bebê e a mãe em perigo. Segundo o obstetra Ricardo Barini, do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista, os estudos científicos ainda não conseguiram identificar como o mineral age no organismo para reduzir esses riscos.
O problema é que muitas mulheres consomem quantidades baixíssimas do mineral. “Pouco cálcio é um problema em qualquer idade ou condição, mas, para as grávidas, as consequências podem ser graves”, afirma a nutricionista Carolina Bortoletto, especialista em nutrição materno-infantil, de Belo Horizonte.
Onde encontrar
Mulheres grávidas precisam de 1 200 miligramas de cálcio por dia. O mineral é encontrado, principalmente, nos derivados do leite. Iogurtes naturais e com frutas e leite integral e desnatado são muito indicados nessa fase. Amêndoa, sardinha, camarão, ricota e brócolis são outras fontes.
Mas calma, você não precisa consumir grandes quantidades desses alimentos. “Alguns hormônios da gravidez aumentam a capacidade do organismo de absorver o cálcio. A preocupação é não deixar as reservas baixarem para que os estoques não sejam desfalcados com as transferências feitas ao bebê”, explica a nutricionista Lara Natacci, coordenadora da Nutrivitta Assessoria Nutricional, em São Paulo, e autora do livro Dietbook Gestante – Tudo o que você deve saber sobre alimentação na gestação, na lactação e para bebês (Ed. Mandarim).
Outros fatores
Não são apenas os alimentos que você põe no prato que irão interferir nesse equilíbrio. “Estresse, falta de exercícios e baixos níveis de vitamina D são fatores que prejudicam a absorção do cálcio. Por isso, além de investir na qualidade de vida, a gestante deve tomar um pouco de Sol diariamente para estimular a produção natural de vitamina D pelo organismo“, afirma Lara. Cuidado também com as combinações feitas. “Não se deve, por exemplo, incluir laticínios e carne na mesma refeição”, ensina Giovana. É que o ferro presente nas carnes prejudica a assimilação do cálcio.
O ácido oxálico é outra substância que interfere negativamente na absorção. Abundante nas folhas de espinafre, acelga e beterraba, ele reage com o cálcio, formando um composto impossível de ser digerido. Para diminuir o risco de combinações infelizes, o gastroenterologista Dan Waitzberg, diretor da Ganep Nutrição Humana, em São Paulo, aconselha distribuir pequenas porções de laticínios ao longo do dia. “Na gestação, é preciso comer de três em três horas, e queijos e iogurtes rendem bons lanches. De preferência, em versões desnatadas, que contêm menos gordura”, diz ele. Se preferir os similares de soja, leia o rótulo e compre apenas os que tenham cálcio adicionado.