Os riscos e benefícios de uma gravidez tardia
O médico Mauricio Chehin, do Grupo Huntington Medicina Reprodutiva, esclarece questões cruciais para auxiliá-la a realizar o sonho da maternidade.
Hoje não são mais o tempo, a idade e muito menos o homem que ditam quando a mulher deve ter filhos. Respeitados alguns limites biológicos, ela pode engravidar mais madura e quando tiver planos de vida voltados para isso. Seja pela postergação dos relacionamentos estáveis, pela escolha de dar foco à vida profissional ou investir primeiro na independência financeira, a gravidez tardia já é uma realidade crescente nos estados mais ricos do país. Dados do IBGE apontam que o número de mulheres que foram mães após os 40 chegou a 30% no Sul e no Sudeste em 2015. Além disso, vemos cada vez mais exemplos dessas escolhas entre as celebridades, como a apresentadora Eliana, cuja segunda gravidez foi anunciada aos 43 anos, e a cantora Janet Jackson, que deu à luz em janeiro deste ano, aos 50.
As conquistas femininas de independência e autonomia já chegaram há um tempo à maternidade, mas há algumas restrições e cuidados a se considerar. Uma delas são os desdobramentos que a idade traz aos óvulos. Estima-se que, ao nascer, a mulher tenha por volta de 7 milhões deles. Logo com a primeira menstruação esse número cai para 500 mil e chega a menos de 25 mil aos 42 anos. Além da queda na quantidade, a qualidade deles é comprometida após os 35, porque, ao longo do tempo, os óvulos sofrem consequências dos efeitos do ambiente, como poluição, radiação e medicações, entre outros.
Assim, embora não exista uma idade limite para congelar óvulos, é recomendável fazê-lo o quanto antes, se possível antes dos 37 anos para garantir as propriedades dessas células reprodutivas. A partir deste ponto, as chances de engravidar com os próprios genes caem progressivamente, segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). Isso porque, até os 32, a probabilidade chega a ser de até 60%.
Outro ponto a ser considerado são os riscos de abortamento, partos prematuros e malformações do feto durante a gestação, que sobem conforme a idade da mulher avança. A chance de o bebê ter Síndrome de Down, por exemplo, é de 1 para cada mil nascimentos aos 30 anos, 1 para cada 100 aos 40 e de 1 para 10 aos 49 anos. A boa notícia é que o diagnóstico desta e de outras síndromes pode ser feito antes da concepção, técnica chamada de diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), que consiste em analisar geneticamente os embriões obtidos com a fertilização in vitro.
Dito isso, podemos também observar os pontos positivos da gravidez tardia. Ela pode significar a possibilidade do bebê chegar em um momento em que os pais têm um contexto profissional mais estável, com melhores condições financeiras e, quem sabe, um relacionamento amoroso estabelecido. A produção independente se beneficia desses aspectos na carreira e nas finanças, e a mãe, em ambos os casos, também pode ter conquistado um quadro de mais maturidade, experiência e sabedoria para criar seus filhos. Cada decisão tem seus prós e contras, mas o importante é tomá-la com responsabilidade e conhecimento.