Mãe viciada em álcool dá à luz filha com Síndrome Alcoólica Fetal
O caso aconteceu há mais de 20 anos, mas os efeitos causados pela cerveja prejudicam menina até hoje.
Em entrevista ao jornal The Sun, Linda McFadden fez um relato impressionante sobre como seu vício em álcool prejudicou sua vida e a de suas filhas, Sarah e Claire. Hoje, aos 53 anos, é com arrependimento que a inglesa de Richmond relembra a luta perdida contra o alcoolismo durante suas duas gestações. “Eu tinha 15 anos quando experimentei cerveja pela primeira vez em uma festa. Aos 22, o álcool consumia todos os meus pensamentos”, conta Linda.
Foi nessa fase da vida que ela conheceu David, que acabou se tornando pai de Sarah, a primeira filha. “Eu sabia que não era bom para o bebê, então tentei parar, mas não consegui”, relata. Apesar de David insistir em oferecer a Linda outras opções de bebidas não-alcoólicas, ela não mudava de ideia. “Ele não entendia que, para mim, aquilo não era uma escolha”, diz.
Duas semanas antes da gestação chegar a termo, o parto de Sarah teve que ser induzido pois os exames constataram que ela já não crescia mais. A menina nasceu com 1,956 kg e acabou sendo alimentada por um tubo no hospital.
“Nós desconfiamos que Sarah pode ter a Síndrome Alcoólica Fetal”, disse um dos médicos a inglesa, que conta ter sentido muita vergonha ao descobrir as dificuldades de aprendizado que bebês afetados pela síndrome podem ter. Apesar dessa desconfiança, porém, a pequena cresceu de forma saudável e teve todo o desenvolvimento no tempo certo.
“Nessa época eu já tomava oito canecas de cerveja por dia”, lembra Linda, que mesmo após o choque com o nascimento de Sarah não conseguiu parar de beber. Enquanto a filha crescia, ela continuava bebendo e escondendo garrafas pela casa.
A história se repete
Poucos anos depois, Linda engravidou novamente. “Naquela época eu já estava tão viciada que nem cogitei parar de beber”, conta. Dessa vez, o parto foi adiado em dois meses e sua segunda filha nasceu com menos de 900 gramas e menos de 50% de chances de sobreviver.
Segundo os médicos, Claire apresentava características que acusavam a Síndrome Alcoólica Fetal, com os pequenos olhos mais separados e o nariz plano. “Quando trouxemos ela para casa um mês depois, ela estava se desenvolvendo com atraso, mas atribuí isso à prematuridade. Eu não queria admitir que minha bebida tinha a afetado”, diz Linda.
Um dia, mais alguns anos depois, a mãe esqueceu o forno ligado e dormiu. A brigada de incêndio teve que lidar com a fumaça que tomou conta da cozinha e o serviço social ameaçou passar a guarda das crianças para outra pessoa da família. Ela acabou concordando em se tratar enquanto David cuidava das filhas.
Quando voltou para casa, meses depois, conseguiu perceber o que o álcool durante a gravidez causou em Claire. “Ela sofria de ansiedade e estava ficado para trás das outras crianças na escola. Contar a ela que aquilo era resultado do meu alcoolismo foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer”, relatou.
“Hoje faz 17 anos desde que tomei a última gota de álcool, mas Claire, agora com 23, vive com os efeitos da minha cerveja de todos os dias. Ela é independente e namora, mas tem muitas dificuldades sociais. Felizmente, somos muito próximas. Ela sabe o quanto eu me arrependo. É claro que nunca vou me perdoar. Me sinto muito culpada por ter traído minha filha”, finaliza Linda.
Não há dose segura
A medicina ainda não chegou à conclusão definitiva em relação à existência ou não de uma dose segura de álcool durante a gravidez. Por isso, recomenda-se sempre zero ingestão de substâncias alcoólicas na gestação.
“O álcool é uma substância química prejudicial para o bebê e a exposição pode acontecer em qualquer período da gravidez, mas não se sabe a dose necessária para que isso aconteça. Obviamente, a mulher que sofre de alcoolismo vai ter um risco maior, mas isso não quer dizer que quem bebe ocasionalmente durante a gravidez não possa ter um filho com afetado pela Síndrome”, explica o médico Wagner Rodrigues Hernandez, mestre em obstetrícia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
O especialista destaca ainda que nem todos os bebês que têm a Síndrome Alcoólica Fetal apresentam alteração crânio-facial, mas podem ser diagnosticados ao longo da vida. “Pode-se fazer o diagnóstico por déficit de atenção, de audição, de visão, dificuldades de comportamento, de interpretação… Tudo isso pode ser afetado pelo álcool”, destaca o obstetra.