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Doença celíaca na gravidez: entenda o que é o problema de Isis Valverde

Sintomas e tratamento: conversamos com especialistas para esclarecer as dúvidas sobre a enfermidade na gestação.

Por Luísa Massa
Atualizado em 15 jun 2018, 16h41 - Publicado em 15 jun 2018, 16h06
 (@isisvalverde/Instagram)
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Dores abdominais, diarreia, gases, perda de peso, fraqueza… Esses são alguns sintomas da doença celíaca, desencadeada pela ingestão do glúten. A atriz Isis Valverde, que anunciou em abril que está esperando o primeiro filho, recebeu o diagnóstico do problema com 19 anos. Agora, grávida, a questão começou a ser noticiada pela imprensa e gerou questionamentos: quais são as consequências da enfermidade ao longo dos 9 meses? Ela pode trazer prejuízos para o bebê?

“Precisamos diferenciar a doença celíaca de sensibilidade ao glúten, que é a incapacidade ou a dificuldade de digerir o glúten, mas sem o acometimento imunológico. A doença celíaca é caracterizada pela inflamação crônica do intestino em pessoas que têm predisposição genética, como parece ser o caso de Isis. O glúten está presente em alimentos com trigo e derivados, malte, cevada e centeio”, explica Anna Carolina Miotto, nutróloga do Instituto EndoVitta, de São Paulo.

O fato é que nem sempre a enfermidade é identificada facilmente, mesmo porque algumas pessoas podem não apresentar os sintomas clássicos. Especialistas afirmam que a menarca (quando a primeira menstruação ocorre muito tarde) e amenorréia secundária (quando a mulher fica muito tempo sem menstruar) são outros indícios que podem sinalizar o problema. Mas é por meio da endoscopia – exame que analisa o trato digestivo e respiratório – que o resultado é detectado.

“O diagnóstico certeiro só é comprovado pela biopsia do duodeno ou do jejuno – partes do intestino delgado. Durante o procedimento, tiramos um pedacinho deles para a análise. Outra forma de fazer o rastreamento (para ver se a paciente tem maior chance de desenvolver o problema e aí sim ir recomendar a endoscopia) é por meio dos exames sorológicos de sangue. Neles, pesquisamos as células que têm anticorpos de determinadas enzimas”, acrescenta a nutróloga.

Fertilidade

Os médicos dividem a opinião na hora de relacionar o problema com a fertilidade e afirmam que há poucas pesquisas aprofundadas sobre a questão. “Essa é uma doença autoimune – isto é, quando o nosso organismo produz anticorpos contra a gente mesmo imaginando que existe um corpo estranho – e, se não for bem tratada, se a paciente não fizer dieta, ela pode ter uma necessidade de nutrientes que não vai ser suprida devido à má absorção intestinal. Nesse sentido, se ela receber poucos nutrientes pode se tornar infértil”, esclarece Adriana de Góes, ginecologista e obstetra especialista em Reprodução Humana Assistida, também da capital paulista.

A especialista ainda ressalta que em poucos casos isso acontece: usualmente, é pouco provável que uma mulher celíaca – e que não apresenta outros problemas de saúde – tenha dificuldades para engravidar. As probabilidades podem ser maiores se ela também tiver outra doença autoimune, já que, segundo a obstetra, isso pode estar associado com a diminuição da taxa de implantação endometrial, o que poderia prejudicar a fertilidade. Mas é claro que cada caso tem suas particularidades e deve ser avaliado individualmente pelo médico.

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Gravidez

Se a mãe seguir a principal recomendação para tratar o problema – que é ficar longe dos alimentos que contêm glúten – e acompanhar o pré-natal, tudo indica que ela terá uma gestação tranquila. É fundamental manter essa regra para que não ocorra uma inflamação no intestino e, consequentemente, a má absorção de nutrientes que são importantes para o desenvolvimento do bebê. A nutróloga afirma que, se isso acontecer, a grávida pode, por exemplo, até ingerir alimentos que contêm ferro e zinco, mas terá dificuldade para assimilá-los.

A doença celíaca exige um cuidado maior – principalmente com a alimentação. Por esse motivo, a mulher que apresentar o problema deve ficar mais atenta durante a gravidez. “A enfermidade aumenta a chance de outros problemas, entre eles, o câncer de intestino. Só existe uma forma de tratá-la: uma dieta totalmente isenta de glúten. Isso significa não comer nada que tenha traços de glúten e ficar de olho na contaminação cruzada – quando, por exemplo, você usa uma bancada ou um forno onde foram preparadas comidas com glúten. Tem que olhar todos os rótulos e evitar ir em restaurantes desconhecidos para não correr o risco”, explica Anna Carolina.

As chances do problema se manter estável durante a gestação são altas, mas em algumas situações ele pode se agravar. Mais uma vez, tudo vai depender do estado geral da saúde da futura mamãe. “É necessário ter o rigor absoluto de alimentação na gravidez, além do acompanhamento nutricional. Esses nutrientes, se por ventura faltarem para a gestante, também podem faltar para o feto. Ele pode não se desenvolver adequadamente, ter algum desajuste na absorção do cálcio, do seu desenvolvimento ósseo, mas isso afeta o bebê em casos de desnutrição absolutamente severa, mesmo porque o organismo prioriza ele”, comenta a obstetra.

Em casos extremos e raros de total desequilíbrio da doença, outras consequências negativas podem surgir: o bebê pode ter o crescimento comprometido, há chance da placenta não se desenvolver adequadamente e o risco de acontecer um parto prematuro aumenta. Tudo isso decorrente das complicações infecciosas que a mãe enfrentou. Normalmente, uma grávida celíaca não precisa fazer uma suplementação diferenciada, apenas manter as vitaminas que já fazem parte de qualquer gestação – como o ácido fólico. Somente em situações excepcionais ela precisará repor alguns nutrientes – o que, obviamente, será avaliado pelos médicos.

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Diferente do que algumas pessoas pensam, a falta do glúten não vai trazer problemas para a gestante e o bebê. “Isso não vai fazer nenhuma falta para a criança. Pelo contrário: seguindo a dieta, a mãe vai ficar saudável, ter todos os nutrientes que precisa e vai passá-los para o filho”, explica a nutróloga do EndoVitta. Vale lembrar que as opções sem glúten no mercado (e até nos restaurantes) estão cada vez mais disponíveis. “Hoje temos uma sessão de alimentos sem glúten bastante ampla, então essa restrição de carboidrato não chega a ser tão significativa em uma dieta adequada. A paciente pode não ingerir glúten e consumir uma quantidade satisfatória de carboidrato”, ressalta Adriana.

Se a doença celíaca for tratada e acompanhada como se deve, provavelmente a mãe vai ter uma gestação tranquila. A questão é identificar o problema o quanto antes. “Assim como outras enfermidades importantes – como diabetes e hipertensão -, esse também é um problema que precisa ser controlado e respeitado pelo resto da vida. Acredito que a partir do diagnóstico de uma doença crônica, a paciente tem que seguir as orientações. Nesse caso, é uma dieta nutricional absolutamente severa para que o bebê nasça saudável, no tempo certo e de parto normal, se a mãe quiser”, finaliza a obstetra.

Hereditariedade

Essa é a dúvida que muitas pessoas têm: se os pais apresentam a doença celíaca, o filho também tem mais chance de desenvolver o problema? Sim. A nutróloga Anna Carolina diz que os profissionais acreditam que que a chance é 10% maior naqueles que têm parentes de primeiro grau com a enfermidade. Além disso, os que já possuem uma doença autoimune também estão no grupo mais susceptível.

“A pessoa tem que ter a predisposição genética, ou seja, ela tem que ter um gene para isso. Mas ninguém sabe ao certo por qual razão alguns têm o gene e não desenvolvem a doença e outros sim. O que acreditamos é que o tempo de aleitamento materno exclusivo influencia e também o quão precoce o glúten é oferecido para a criança – quanto mais tarde, menor a chance dela desenvolver”, afirma a especialista.

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Depois dos 6 meses de amamentação exclusiva, quando a introdução alimentar começar a ser feita, os pais celíacos devem ficar atentos. Os médicos recomendam que o glúten seja inserido aos poucos na dieta do pequeno para entender se ele tem sensibilidade e em qual grau porque, como foi dito anteriormente, a criança pode ou não desenvolver a doença.

Amamentação

É importante ressaltar que uma mulher celíaca pode amamentar tranquilamente. O fato de não ingerir glúten não influenciará na produção de leite materno. “A amamentação ocorrerá normalmente e ela é extremamente necessária porque vai diminuir as chances da criança desenvolver a doença se ela tiver predisposição”, pontua a nutróloga. Recado anotado!

 

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