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Congelamento de óvulos antes dos 30 anos viraliza no TikTok. Faz sentido?

Será que o procedimento é recomendado para mulheres mais jovens? Veja o que diz um especialista em reprodução humana

Por Carla Leonardi
9 ago 2023, 11h53

Você já viu a hashtag #eggfreezingjourney? Em português, ela significa #jornadadecongelamentodeóvulos, e viralizou no TikTok com relatos de jovens mulheres – muitas com menos de 30 anos – sobre a busca por prolongar a fertilidade.

Grande parte dos depoimentos se refere ao alívio de poder focar na carreira e não se preocupar em encontrar o “parceiro ideal” a tempo. A demanda é válida, certamente. Mas será que fazer o congelamento ainda na faixa dos vinte anos é a melhor ideia?

“Quanto mais jovem fizer, maior vai ser a chance de sucesso se for necessário utilizar os óvulos numa técnica de fertilização in vitro“, afirma Rodrigo Rosa (@dr.rodrigorosa), ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana, sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime e do laboratório Mater Lab.

Porém, ele pondera. “Acontece que precisamos avaliar qual é o custo x benefício e qual é a probabilidade que a mulher tem de utilizar esses óvulos no futuro. A decisão de congelar antes dos 35 anos – e, principalmente, dos 30 – deve ser baseada no histórico familiar“, explica. Segundo Rosa, há algumas particularidades que, de fato, levam à recomendação de fazer o congelamento cedo, como quando há caso de menopausa precoce na família, se a mulher já passou por cirurgia ovariana e se ela já tem uma baixa reserva ovariana (que pode ser avaliada por meio de exame), por exemplo.

Para aquelas que não se encaixam em nenhum caso particular, mas planejam se tornar mães só depois dos 35 anos, a possibilidade de congelamento existe, mas a vantagem não é tão grande. “A qualidade dos óvulos não vai ser muito maior do que se ela fizesse entre os 31 e 34 anos. A maioria delas talvez nunca utilize esses óvulos, então não faz muito sentido”, ressalta o especialista, que complementa: “Mesmo mulheres abaixo dos 30 anos vão ter óvulos de qualidade e outros com alterações genéticas. Isso é inerente à espécie humana, então, nunca há garantia de um bebê no futuro”.

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Imagem de um óvulo sendo fertilizado. Imagens transparentes em fundo azul
(Sebastian Kaulitzki/Science Photo Library/Getty Images)

Como é o processo para congelar os óvulos?

Para possibilitar a coleta dos óvulos, antes, é feito um estímulo ovariano com hormônios, no começo do ciclo menstrual, para que a haja o recrutamento de outros folículos que normalmente não cresceriam e seriam descartados pelo organismo – num ciclo normal, o usual é que apenas um folículo se desenvolva.

Rodrigo Rosa explica que esse estímulo dura cerca de dez dias e é feito por meio de medicamentos injetáveis subcutâneos. Quando os folículos atingem um tamanho adequado, é marcada a coleta dos óvulos. Esse é um procedimento seguro, feito por uma agulha acoplada a um ultrassom transvaginal que entra nos folículos e aspira o líquido de seu interior, de onde vêm os óvulos. Em seguida, eles são observados por microscópio e, os que estão maduros, são congelados para uso futuro. O procedimento é feito com anestesia geral leve e dura de 20 a 15 minutos.

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“O risco da coleta é, principalmente, de hemorragia ou de algum quadro infeccioso, mas são extremamente raros. Já os efeitos colaterais do estímulo variam de acordo com a mulher. Quanto mais folículos, mais intensos são eles, sendo os principais retenção de líquido, inchaço, sensação de peso na pelve e alterações de humor. Eles tendem a diminuir e a passar totalmente após a menstruação“, diz o médico.

Por fim, ele reforça que nada é certeza de sucesso. “A taxa de sobrevivência dos óvulos após o congelamento depende da qualidade deles e da idade com que foram congelados. Além disso, não são todos os óvulos que viram embriões, nem todos os embriões que se desenvolvem e ficam aptos para transferência, e nem todos os embriões implantados que vão resultar em uma gravidez bem sucedida”, finaliza. Vale lembrar que, ainda assim, essa é a técnica de maior sucesso para a gravidez assistida que a ciência tem hoje.

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