O alerta vem dos pesquisadores da Faculdade de Medicina Albert Einstein da Universidade Yeshiva, nos Estados Unidos. O estudo, realizado com 11 mil crianças entre seis meses e sete anos de idade, revelou que os pequenos que apresentam ronco, apneia noturna ou respiração oral estão mais propensos a desenvolver quadros de ansiedade, hiperatividade, agressividade e depressão, além de enfrentar dificuldades nos relacionamentos sociais.
Com a pesquisa, os cientistas tentaram mostrar como os distúrbios respiratórios do sono podem prejudicar o funcionamento do cérebro. Por exemplo, quando a criança ronca é sinal de que o ar encontra dificuldades para entrar nas vias aéreas. Se ele entra em menor quantidade, o nível de oxigênio presente no corpo diminui, aumentando a presença de gás carbônico. Isso mexe com o equilíbrio químico e com a organização dos neurônios, influenciando na produção de sustâncias responsáveis pelo equilíbrio do organismo. Como consequência, surgem problemas como a falta de atenção, a hiperatividade, a ansiedade e a depressão.
“Qualquer alteração no corpo ou no ambiente que leve a fragmentação do sono pode ocasionar problemas no neurodesenvolvimento em curto, médio ou longo prazo. Isso depende da gravidade e da frequência com que o sono é interrompido”, avisa Saada Ellovitch, neuropediatra do Hospital Samaritano, de São Paulo. Quando a criança não dorme bem, seja por conta de distúrbios respiratórios ou devido a fatores externos, as células que produzem os chamados neurotransmissores, não funcionam como deveriam e deixam de liberar substâncias essenciais para o bem-estar e o bom comportamento social.
“A produção de dopamina, o neurotransmissor responsável pela atenção e envolvimento da criança nas atividades ao longo do dia, fica comprometida, fazendo com ela se torne dispersa”, completa a neuropediatra. Já quando o pequeno tem a respiração interrompida no meio do sono, a chamada apneia noturna, ele não chega à fase mais profunda do descanso, o que prejudica a liberação da acetilcolina, uma substância que influencia na memória e na aprendizagem.
O diagnóstico
Nem sempre os pais conseguem perceber que seus filhos apresentam distúrbios respiratórios do sono. “Muitos deles vêem o ronco ou a respiração oral como algo normal. Mas não é! E a causa da disfunção precisa ser investigada”, alerta a pneumologista pediátrica e especialista em medicina do sono Beatriz Neuhaus Barbisan, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Não é apenas o ronco, porém, que deve ser observado. “Os pais precisam verificar se a criança se movimenta muito durante a noite. Isso pode ser sinal de que ela procura uma forma de respirar melhor”. A pneumologista também alerta para a transpiração noturna, que indica incomodo e esforço além do normal para respirar.
Ronco
O ronco, que acontece quando o ar encontra dificuldades para entrar no corpo, pode ser causado por um desvio de septo nasal; pelo tamanho exagerado das amígdalas, localizadas na garganta; e adenóides, localizadas no nariz. Os quilos extras também podem contribuir com o problema, tanto nos pequenos como nos adultos, já que a gordura tende pesar sobre a faringe, dificultando a chegada do ar nos pulmões.
Apneia
Já a apneia noturna acontece quando a criança tem um pequeno despertar, por conta da falta de ar nos pulmões. “Geralmente, por ser um processo automático e inconsciente, a criança nem percebe que acordou. Então, muitas vezes, isso só é diagnosticado com exames mais detalhados, que analisam uma noite inteira de sono”, esclarece Saada.
Respiração oral
Ao respirar de maneira errada, o ar acaba entrando pela boca, enquanto o correto é que entre apenas pelo nariz. Essa característica pode estar relacionada a problemas genéticos, como a maxilares menos desenvolvidos ou mandíbula menor do que o ideal para o corpo. A solução muitas vezes está no uso de aparelhos ortodônticos.
Rinites, alergias, gripes e resfriados
Crianças e adultos podem apresentar rinites, asma e gripes que influenciam na respiração. Quando se trata de algo pontual, o jeito é cuidar do problema e esperar o incômodo passar. “Como se trata de algo momentâneo, o desenvolvimento não é prejudicado. No máximo, algumas noites de sono maldormidas”, completa Saada.
Outros problemas
Sono ruim
“Não só para a criança, mas para todos nós, um dia produtivo só pode começar após um bom sono”, diz o pediatra Moises Chencinski, de São Paulo. Uma rotina marcada pela privação do descanso pode deflagrar outros problemas de saúde para pequeno:
Obesidade
Durante o sono, a leptina, o hormônio da saciedade é secretado. Sem ele, o corpo sente mais fome e é induzido a consumir mais que o necessário.
Diabetes
A falta de sono inibe a produção de insulina, hormônio responsável por tirar o açúcar do sangue mandá-lo para dentro das céulas. Sem ele, assim como nos adultos, as crianças podem apresentar quadros de pré-diabetes.
Crescimento
Durante o descanso, o hormônio do crescimento, chamado GH, é liberado. Sem o sono, essa liberação fica prejudicada, o que prejudica o crescimento.