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Certos antidepressivos podem aumentar o risco de más-formações no bebê

Em pesquisa, americanos concluíram que, se consumidas na gravidez, algumas substâncias usadas no tratamento da depressão elevam a probabilidade de o pequeno nascer com doenças congênitas.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 28 out 2016, 03h17 - Publicado em 17 jul 2015, 13h31

Em julho de 2015, a ciência deu mais um passo para entender algo que muitos pesquisadores vêm investigando: os riscos que antidepressivos oferecem para a gestante e o bebê. Isso porque, em um estudo publicado na última edição do renomado periódico British Medical Journal, especialistas do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, viram que alguns remédios da classe dos inibidores seletivos de captação de serotonina (ISRS) – os mais usados contra a depressão – aumentam o risco de o pequeno nascer com problemas no coração e no cérebro.

Para chegar ao resultado, o time de cientistas analisou mais de 27 mil mulheres que se tornaram mães entre 1997 e 2009. Dessas, 17 952 tiveram filhos com más-formações; os bebês das outras 9 857 participantes nasceram saudáveis. Todas as mamães consumiram, pelo menos uma vez entre o último mês antes da concepção e o terceiro mês de gravidez, um desses ISRS: citalopram, escitalopram, fluoxetina, paroxetina e sertralina. Foram excluídas do levantamento aquelas que utilizavam outras substâncias para tratar a depressão e as diabéticas, já que a doença também eleva o risco de anomalias no feto.

Após analisar todos os dados, os americanos notaram que duas substâncias se mostraram nocivas aos bebês: a paroxetina, associada a problemas cardíacos, anencefalia e má-formação do crânio; e a fluoxetina, ligada a um número maior de defeitos na parede do coração e também na estrutura do crânio. A sertralina, usada por 40% das voluntárias, não prejudicou os bebês – embora estudos anteriores já tenham apontado o efeito negativo.  

Risco ainda é baixo

Apesar de esse e outros trabalhos reforçarem a relação entre os antidepressivos e as más-formações, não há motivo para as grávidas que tomam esses medicamentos interromperem imediatamente o tratamento da depressão. É que, mesmo existindo o risco, a probabilidade de esses problemas acontecerem por causa dos antidepressivos ainda é muito baixa. De acordo com o estudo do CDC, o número de bebês que nascem anencéfalos, por exemplo, são 2 a cada 10 mil. Com a paroxetina, a incidência sobe para 7 casos a cada 10 mil nascimentos. “Os números aumentam, mas continuam sendo doenças raras”, analisa o psiquiatra Fernando Fernandes, do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo.

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A importância de tratar a depressão

É comum que a tristeza profunda dê as caras durante a gestação. “Até 20% das mulheres podem experimentar a depressão na gravidez ou no período puerperal, isto é, um pouco antes ou depois do parto”, revela Fernandes. Isso ocorre tanto por causa da ação dos hormônios quanto do estresse típico dessa fase.

A questão é que, se não tratada, a depressão ameaça, e muito, o bem-estar da mãe e do bebê. “Ela aumenta em até 2,4 vezes o risco de a criança nascer prematura ou com baixo peso”, adverte o psiquiatra do IPq. Por isso, é preciso avaliar o risco-benefício de dar antidepressivos para a gestante. “Ela não sofre apenas um desgaste físico e psíquico. A harmonia familiar e a vida social dessa mulher também são afetados”, afirma.

O tratamento da depressão na gravidez é muito parecido com o de uma paciente que não espera um bebê. Ele dura de seis a nove meses e também se baseia no uso de antidepressivos – inclusive os tais ISRS. “Os inibidores seletivos são as medicações mais usadas hoje em dia no tratamento da depressão”, conta o psiquiatra. “Além de ter um bom perfil de tolerabilidade, eles são potentes e apresentam poucos efeitos colaterais”, descreve.

Apesar de baixo, a probabilidade de os ISRS causarem problemas congênitos no bebê é maior no primeiro trimestre da gestação, quando o feto ainda está se formando. “Se a mãe decidir não tratar nesse período, recomendamos iniciar o tratamento no segundo trimestre, quando não há mais o risco”, orienta Fernando Fernandes. 

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