Alimentação infantil: o que fazer quando a criança não come

Chantagem, castigo, briga… A hora das refeições pode ser um momento traumático para a meninada. Por isso, às vezes a ajuda profissional é necessária. Consultamos especialistas para saber como proceder quando o pequeno é ruim de garfo.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 20h26 - Publicado em 2 jun 2016, 11h33
Thinkstock/Getty Images
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Sabe aquela criança que não come? Não, não é aquela que faz birra quando tem brócolis no prato ou que abre o berreiro pedindo refrigerante na hora do almoço. É a que quase nunca sente fome, recusa as principais refeições e come muito pouco por dia, com um cardápio super restrito. Em geral, casos assim preocupam tanto os pais que eles acabam sem saber o que fazer. Forçar a comida? Deixar o filho sem guloseimas, mesmo que seja só isso que ele aceite comer? Ou dar só o que ele gosta, afinal, pelo menos assim ele não vive praticamente de vento?

Lidar com a alimentação infantil não é fácil mesmo. Essa é uma tarefa diária, que começa antes de o pequeno vir ao mundo. “A família determina a formação do hábito alimentar desde antes do nascimento, com o comprometimento da alimentação da gestante, por exemplo. Posteriormente, isso continua com o aleitamento materno, a introdução de alimentos complementares e a transição para a dieta da criança mais velha”, explica o Prof. Dr. Mauro Fisberg, pediatra, nutrólogo e coordenador do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.

Além disso, manter uma rotina alimentar em casa é muito importante para que a criança desenvolva hábitos saudáveis. Sentar à mesa para comer em horários regrados, oferecer alimentos bons para a saúde em todas as refeições (ainda que o pequeno não os aceite) e evitar distrações como celulares ou TV ligada são algumas medidas essenciais para que a meninada entenda que aquele é um momento importante do dia. A questão é que, às vezes, essas são as nossas próprias tentações, afinal, não é porque somos adultos que sabemos comer bem (ou até mesmo como nos comportar). Mas é sempre bom lembrar que criança aprende pelo exemplo – não adianta nada querer que ela coma as verduras quietinha se você pediu um hambúrguer e está postando foto no Instagram. Tornar a mesa um ambiente agradável e de conversa é essencial.

Quando nada dá certo

A falta de interesse pela comida costuma ser só uma fase e passa conforme a criança cresce. Mas em alguns casos, essa atitude se estende ao longo dos anos. Em qualquer uma dessas situações, é importante que os pais busquem ajuda sempre que desconfiarem de que algo está errado. “O pediatra é o primeiro profissional a ser consultado, mas outros especialistas podem ajudar. Na análise inicial, o pediatra irá avaliar a dinâmica do problema, se está levando a riscos ou não e se existem problemas clínicos que devem ser abordados com exames e procedimentos”, destaca Fisberg.

Quando os casos se mostram mais complexos, profissionais como nutrólogos especializados em pediatria, bem como nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais podem ajudar. “Existem lugares em que a equipe atua em forma conjunta, como ocorre no Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto PENSI, mas a atuação pode acontecer também de modo isolado, com apoio de outros profissionais em centros diferentes”, explica o especialista.

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Nada de chantagem

A gente cresce aprendendo que raspar o prato dá direito à recompensa e, talvez por achar que isso realmente funciona, ou então por não procurar conhecer outros métodos, acaba replicando esse comportamento com os filhos. Mas oferecer algo em troca de comida não é um caminho adequado, já que a criança passa a entender que os alimentos funcionam como moeda de troca.

Do mesmo jeito, tentar forçar a alimentação ou deixar a criança o dia todo de estômago vazio, para que ela sinta fome na hora do jantar, por exemplo, também não são boas medidas, porque se ela não quiser, não tem jeito: não vai comer. Sem contar que atitudes como essas trazem prejuízos para os pais e para os baixinhos. “Problemas de longa duração podem causar sequelas no comportamento da criança e até mesmo no da família, dando origem a traumas por forçar alimentos, colocar o filho de castigo… Além de gerar uma tremenda sensação de impotência nos pais”, alerta Fisberg.

Cada caso é um caso

Se o seu filhote é desses que comem feito um passarinho, não se desespere. Hoje em dia, já se sabe que comer pouco é relativo, uma vez que cada criança pode necessitar de um determinado aporte de alimentos. Então, nada de ficar comparando um filho aos irmãos ou aos filhos de amigos. “Devemos lembrar que em muitos casos, mesmo comendo pouco, muitas crianças conseguem ter um crescimento razoável e viver bem, ainda que que com poucos alimentos ou pouco volume de ingestão”, alerta o nutrólogo. 

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Entretanto, vale ressaltar que quando a restrição alimentar é severa e permanece por muitos anos, o risco de haver um comprometimento do crescimento é maior – primeiro afetando o peso e, posteriormente, a estatura. Além disso, podem ocorrer deficiências de vitaminas e minerais importantes para o funcionamento do nosso corpo. “Alguns nutrientes atuam no crescimento e podem fazer parte do desenvolvimento mental e neurológico. Por exemplo, o ferro, o zinco e outros metais têm participação essencial na cognição, memória, aprendizado, inteligência e capacidade de resolver problemas”, exemplifica o pediatra. Portanto, o cardápio do pequeno pode até ser reduzido, mas precisa ser equilibrado e variado. E lembre-se: o acompanhamento pediátrico (e dos pais) é fundamental para detectar precocemente eventuais encrencas.

 

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