Era 5 de março de 2000. A indígena Inês Ramirez Perez estava em sua pequena casa, isolada no alto das montanhas de Oaxaca, no sul do México. Grávida, ela sentia as dores do início do trabalho de parto. A preocupação com o bebê crescia – dois anos antes, ela não havia conseguido dar à luz um filho.
Esperar por ajuda médica não era uma alternativa: a unidade de saúde mais próxima ficava a 80 km de distância de sua aldeia, cercada de estradas irregulares. O sol já tinha se posto e seu marido, que a havia ajudado nos partos dos seus seis filhos, estava bebendo em outro lugar.
Após 12 horas de dor incessante, à meia-noite, a mulher de 40 anos sentou-se em um banco de madeira, debaixo de uma única lâmpada. Inês tomou alguns goles de álcool isopropílico, pegou uma faca de 15 centímetros e começou a cortar a própria barriga. Ela passou por camadas de gordura e músculos, até chegar em seu útero e retirar a criança. O cordão umbilical foi partido com uma tesoura e, em seguida, a mexicana desmaiou.
“Eu não aguentava mais a dor. Se meu bebê fosse morrer, decidi que também teria que morrer”, contou em uma entrevista para o jornal australiano The Sydney Morning Herald, em 2004. Ela acredita que tudo levou cerca de uma hora. Quando recuperou a consciência, enrolou um tecido em volta do abdômen repleto de sangue e pediu ao ao filho Benito, então com 6 anos, que estava em casa, que buscasse ajuda.
Horas depois, a criança retornou acompanhada do assistente de saúde da aldeia, Leon Cruz, e de um outro profissional. Inês foi encontrada no chão, ao lado de seu bebê vivo. Leon costurou a incisão, de 17 cm, com agulha e linha comuns. Então, os dois colocaram a mãe e o recém-nascido em uma esteira de palha e os levaram à única estrada da cidade, que chegaria a uma clínica, a mais de duas horas de distância.
Inês precisou ser internada no Hospital Geral Dr. Manuel Velasco Suarez. Mesmo sem testemunhas que confirmassem o relato da mãe, os obstetras Honorio Galvan e Jesus Guzman, que a examinaram 12 horas, estavam totalmente convencidos do ocorrido. Em 10 dias, a indígena teve alta. A criança foi batizada de Orlando Ruiz Ramirez e, aos 4 anos de idade, foi descrita por Inês como um “menino indisciplinado”, em entrevista ao The Sydney Morning Herald.
Em 2001, os médicos Honório e Jesus divulgaram a história da mulher em um congresso médico, mas o caso recebeu pouca atenção. O reconhecimento veio após a publicação no International Journal of Gynecology and Obstetrics, em março de 2004. “Medidas incomuns e extraordinárias para preservar seus filhos às vezes levam mulheres a decisões extremas, que colocam em risco suas próprias vidas. Medidas sociais, educacionais e de saúde devem ser instituídas em todo o mundo, para evitar esses eventos extremos”, relataram os pesquisadores.
Até hoje, Inês Ramirez é reconhecida internacionalmente como a única mulher a ter realizado uma cesariana, bem-sucedida, em si mesma.