Se aprendi algo nesses quatro anos de maternidade é que pais e mães são diferentes e criam seus filhos de maneiras muito distintas. O que é certo para uma família, é completamente errado para a outra – ter uma criança em casa é um exercício diário de reconhecimento das próprias crenças, valores e do que você acredita ser o melhor para passar para as gerações futuras.
Falando assim, a impressão que fica é que o papel de mãe e o de pai na educação dos pequenos é difícil de ser exercido, certo? E é mesmo, porque nos deparamos com questões sutis, sobre as quais nem sempre sabemos o que fazer. Recentemente, por exemplo, eu li uma notícia de que uma marca americana, a Pee Wee Pumps, está vendendo sapatos de salto alto para bebês de 0 a 6 meses, ou seja, que ainda nem engatinham. No site, chegam a dizer que os acessórios “são exatamente como o par de sapatos favorito da mamãe, mas em miniatura”. Como obviamente os pequenos não usariam o produto para andar (o que seria um absurdo completo!), apenas para dar um “charme” à produção (em uma ocasião especial, uma festa ou para uma sessão de fotos), os sapatinhos até poderiam passar como algo ingênuo e fofo. Mas um olhar mais atento me fez pensar em outros pontos de vista.
Um sapato de salto alto é um dos maiores símbolos de uma mulher sexy. Quando é que nós, mães, adultas, utilizamos o item em nossa produção? Quando queremos nos sentir lindas e poderosas, não é mesmo? Pois então fica a pergunta: o que isso pode ter a ver com a infância, com os anos mais doces e despreocupados da vida? E, pelo menos para mim, a resposta é: nada! Criança ter que ser criança, se vestir como criança, brincar como criança. Criança tem que ser livre para não “andar na moda” (aliás, no meu mundo ideal os adultos também deveriam ser), para ser reconhecida bela exatamente como ela é, sem a necessidade de artifícios.
Mas eu poderia ir além. Porque como mãe de menina, eu desejo que minha filha saiba o que valorizar quando crescer. E ao invés de criá-la colocando atenção na beleza e no consumo (porque, cá entre nós, existe algo mais supérfluo do que um sapatinho de salto alto para bebê?), prefiro que ela cresça acreditando em sua inteligência, na sua capacidade de construção de um planeta melhor para todos – exatamente como acredito que a mãe de um menino faria.
Claro que isso não exclui a possibilidade de ser feminina, de gostar de se arrumar, de usar um batonzinho (e até um sapato de salto) de vez em quando. Só que para tudo existe a hora certa – então que ela curta esse pedacinho tão puro de sua vida agora, porque terá muito tempo para viver no mundo dos adultos.