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Problemas em relação ao corpo e à aparência já podem começar aos 3 anos de idade, diz estudo

De acordo com especialista, o comportamento relacionado à própria imagem nessa fase ainda é uma repetição do que os pequenos escutam, mas já influencia na autoestima que eles terão no futuro. Entenda!

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 17h03 - Publicado em 14 set 2016, 11h23
Thinkstock/Getty Images
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É tão comum associar o início dos problemas em relação ao corpo à fase da adolescência que quase nunca paramos para pensar que essas questões podem começar mais cedo – muito mais cedo, na verdade – do que imaginamos. De acordo com um novo estudo inglês, desenvolvido pela Associação de Profissionais de Puericultura e Primeiros Anos, as evidências apontam que por volta dos 3 anos de idade os incômodos ligados à aparência já começam a surgir.

A pesquisa ainda é pequena, mas já indica motivos de preocupação: 350 profissionais da área infantil foram questionados se já haviam observado sinais de problemas com o corpo em crianças de ambos os sexos. Aproximadamente um quarto deles disse ter visto pequenos de 3 a 5 anos infelizes com a própria imagem e quase metade afirmou ter observado sinais do transtorno em indivíduos de 6 a 10 anos. Entre todos os participantes, 31% contou ter ouvido crianças de 3 a 10 anos se chamando de “gorda” e cerca de 20% afirmou ter presenciado casos em que determinados alimentos foram recusados por serem engordativos.

E como o universo infantil não está alheio às relações sociais que prevalecem em boa parte do mundo, os profissionais observaram que as meninas tendem a ter uma consciência muito maior sobre sua imagem do que os meninos, o que certamente está ancorado em fatos históricos. “Infelizmente os resultados não surpreendem”, disse Claire Myski, CEO da Associação Nacional de Distúrbios Alimentares, nos Estados Unidos. “A ansiedade em relação ao corpo em crianças a partir dos 3 anos se relaciona com atitudes mais amplas sobre corpo e saúde que vemos na cultura popular”, afirma.

Copiando os modelos
Entretanto, de acordo com a professora doutora Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças de Beleza da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro, e pesquisadora e psicoterapeuta do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social, aos 3 anos de idade a imagem corporal de uma criança ainda está longe de ter sido definida. “Isso só vai acontecer lá pelos 6 anos, coincidindo com a fase da alfabetização. A percepção do próprio corpo pressupõe uma maturação psíquica e, por isso, leva mais tempo. O que acontece nessa fase é que elas ainda estão só mimetizando, ou seja, reproduzindo os comentários que ouvem dos pais e das pessoas próximas”, explica a especialista.  

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Isso significa que é o universo ao redor da criança que contribui para a noção que ela vai formar de beleza e do que é “bom” ou não, levando com ela todas aquelas ideias preconceituosas que carregamos ao longo da vida – e isso nem precisa acontecer de forma consciente! Aquele hábito de se olhar no espelho fazendo careta, dizer que está gorda, falar que não vai comer isso ou aquilo para manter o peso – atitudes muito comuns no universo feminino e que são incentivadas há décadas – já faz com que as crianças comecem a assimilar conceitos do que é “certo” ou “errado” quando o assunto é o próprio corpo. 

É por esse motivo que, depois de ter filhos, a atenção ao seu próprio comportamento é tão importante. Hábitos inofensivos antes da maternidade acabam se tornando modelos para os pequenos que, embora não pareça, estão sempre muito atentos a tudo. Essa preocupação é ainda mais essencial se considerarmos o contexto em que vivemos, formado por uma mídia que supervaloriza uma aparência padronizada, rotulando tudo que é diferente como “feio”, como aquilo que se deve evitar.

E como os baixinhos não vivem 100% do tempo em casa e com os pais, os outros indivíduos que fazem parte da vida deles de forma mais ativa também influenciam nesse processo. “É só pela via da educação que a gente pode transformar isso e os educadores e cuidadores são, também, modelos nos quais a criança vai se espelhar – os professores da escola, de balé, de música… São esses os agentes que vão mostrar para a criança que ela não vai ser bonita só se for magrinha de olho azul, mas sim ajudar a construir um imaginário de que a beleza é muito mais diversa”, diz Joana.

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Muito além do peso
A especialista ressalta que, embora a questão com o peso se destaque e seja o foco da pesquisa inglesa, ela não é o único fator que leva os pequenos a se questionarem sobre sua aparência: “Se você pede para uma criança negra fazer um desenho de uma menina bonita, é muito provável que ela faça uma loirinha, magra, de olho azul e cabelo liso, e isso, às vezes, é valorizado pelos professores. Essas referências de branqueamento não são só externas, mas reforçadas principalmente no discurso familiar”.

Diante deste cenário, fica a pergunta: o que os pais ou responsáveis pela formação dos pequenos deveriam fazer para mudar isso, já que são eles os primeiros exemplos? Claro que não há fórmula mágica e que não é do dia para a noite que você vai conseguir transformar seus hábitos, mas tentar ficar atenta às atitudes perto das crianças já é um bom começo. Além disso, preocupar-se com o que é falado para elas também é muito importante. “Ainda que ditas com uma carga afetiva, expressões como ‘gordinha da mamãe’ ajudam a introduzir nos filhos noções negativas sobre a aparência deles. Então, é a dedicação desde muito cedo que vai trabalhar a autoestima da criança para que ela se sinta confiante e possa se aceitar”, ressalta a pesquisadora.

Por fim, Joana de Vilhena lembra mais um aspecto fundamental da nossa sociedade. “Tratar de preconceito no Brasil é muito complicado. Aqui as pessoas têm horror à gordura e, nesse caso, é ainda mais difícil de identificar um discurso preconceituoso porque ele sempre vem disfarçado de preocupação com a saúde; as pessoas costumam dizer que estão criticando o peso das outras com boa intenção”, diz ela.

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Pensando nisso, é importante que não só os pais, mas que todos se dediquem desde cedo a mostrar às crianças que a beleza não é única e elas nunca devem se preocupar em seguir um padrão.

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