“O que o Dia das Mães representa para mim”
Conheça a história de uma mulher que perdeu a mãe quando a sua filha tinha apenas um ano de vida, saiba qual foi a lição que ela tirou de tudo o que viveu e qual o significado que essa data passou a ter.
Marina Mac Knight, 30 anos, é mãe da Helena, de 1 ano e 6 meses, administradora e idealizadora do Instagram Mães Atuais. Aqui, ela conta um pouco da sua trajetória e como foi descobrir que a sua mãe tinha câncer em um estágio avançado. Confira!
“Constituir uma família e me dedicar inteiramente a ela sempre foi o meu projeto de vida! Nunca tive grandes ambições profissionais justamente por nutrir a vontade de ser mãe em tempo integral. Tenho a impressão de que esse desejo nasceu por admirar muito a minha mãe. Ela não trabalhou fora e dedicou-se inteiramente a nós – família e casa – sem jamais mostrar qualquer arrependimento da sua escolha de vida, muito pelo contrário, era completamente realizada. Sabe aquela pessoa feliz, cheia de tarefas, que executa tudo com perfeita maestria? Essa era a minha mãe!
Eu cresci acompanhando-a. Do mercado ao banco. Da feira ao médico. Da resolução das pendências de casa até a correria de nos levar e buscar na escola. Somos três filhos, de forma que não preciso mencionar a correria em que ela vivia, mas uma correria feliz. E não pense que ela sofreu à medida em que fomos crescendo e nos tornando independentes. Com equilíbrio, minha mãe sempre soube manter sua vida própria e os compromissos pessoais, apesar de ter escolhido voltar-se para a família. Esse sempre foi o meu espelho, minha inspiração de maternidade e de mulher.
Quando me casei, fui morar na cidade do meu marido, Campinas. Minha mãe continuou em Mogi das Cruzes. A presença diária deixou de ser física, mas matávamos a saudade por telefone, ligando uma para a outra várias vezes ao dia. Depois de 3 anos casada e de muitas tentativas de engravidar, enfim eu e o meu marido conseguimos encomendar a nossa tão desejada e esperada Helena. Era a realização de um sonho antigo – não só meu, mas dela também de ser avó. Quando a pequena nasceu, contei com a abençoada ajuda da minha mãe, que ficou por 20 dias em casa. Além do meu esposo, foi nela que encontrei todo apoio e segurança que precisava como mãe de primeira viagem. A chegada da Lelê transformou a família e vivenciar a pureza de um bebê é algo inexplicável!
Infelizmente, quando a Helena estava com quase 5 meses recebemos uma notícia arrasadora: minha mãe foi diagnosticada com câncer de pâncreas em estágio IV. Ela não poderia ser operada e o tempo ganhou o nome horrível de sobrevida – até hoje arrepio ao ouvir esta palavra. Como aceitar que a luz da família estava doente? Aquela pessoa contagiante, que praticava atividades físicas diariamente e fazia exames com regularidade? Eu não conseguia acreditar. Minha parceira de vida? Não, ela não! Antes do diagnóstico, me imaginava senhora e ela mais senhorinha ainda, juntas como sempre foi. Para piorar, além de morar longe, eu estava amamentando, o que tornava mais difícil a logística de estar tão presente quanto gostaria.
Em questão de dias o tratamento começou e a família, que já era unida, se transformou em uma rocha. Todos voltados para uma só causa: a cura do nosso pilar de sustentação. Mesmo sabendo que o câncer não era curável, esperávamos por um milagre e lutamos com todas as possibilidades. Fazíamos planos e imaginávamos como seria quando tudo aquilo virasse passado. Nem mesmo diante da doença o astral da minha mãe mudou. Ela seguia forte e alegre, o que confortava e acalmava nossos corações.
Foram 7 meses de luta, durante os quais passei a admirá-la ainda mais. No dia 14 de novembro de 2015, durante a comemoração do aniversário de 1 ano da Helena, fomos informados de que a situação havia piorado. Antecipamos o fim da festa e partimos para o hospital. Ela era tão grandiosa que nos esperou chegar para se despedir. No meio de tanta dor, ser mãe fez toda a diferença. Me voltei ainda mais para a Lelê e mergulhei em nosso dia a dia, pois sabia que ela precisava de mim e isso me fortaleceu. A rotina com um bebê é corrida e ocupar a cabeça com algo tão encantador foi bom.
A falta que a minha mãe faz é imensa. Ela era a minha melhor amiga, quem me aconselhava e sempre tinha um ponto de vista diferente para mostrar. Digo que hoje caminho míope, pois ela realmente enriquecia minha maneira de ser e de enxergar o mundo. Frequentemente imagino o que ela estaria me dizendo nas situações desafiadoras da maternidade, que não são poucas! Muitas vezes, me pego com lágrimas nos olhos, pensando o quanto ela estaria aproveitando comigo a maternidade vendo o desenvolvimento da Helena – sua neta querida. Também sinto saudades daquelas dicas que só nossas mães sabem dar.
Hoje sou mãe em tempo integral, exatamente como sonhei. Ser mãe é transformador e nos faz querer ser alguém melhor! Inspiração não falta, pois tenho como base a maneira de ser da minha mãe e a relação que construímos. Dói muito pensar que a Lelê não terá lembranças do que viveu com a vovó Lúcia. Elas tinham uma afinidade enorme. A Helena fazia a maior festa ao vê-la, já que mesmo morando em cidades diferentes, nos falávamos diariamente por Facetime. Menciono normalmente a avó para ela, mostro fotos, conto histórias e canto músicas que ela gostava. Ao longo dos meses de tratamento fiz muitos vídeos das duas juntas para mostrar a relação que tiveram.
Esse Dia das Mães será especial e doloroso: meu segundo com o maior tesouro da minha vida e o primeiro sem a minha grande companheira. É um misto de emoções: alegrias, tristezas, mas principalmente gratidão pelo privilégio de ter ao lado pessoas tão especiais. Existem mães e filhas que convivem muitos anos e não estabelecem um vínculo intenso de amor e amizade. Eu tive a oportunidade de viver 30 anos com a minha mãe em perfeita harmonia. Penso que Deus foi muito generoso em ter me dado um lindo presente chamado Helena, antes de levar meu outro presente, Lúcia. Eu realizei o sonho dela de ser avó, o meu de ser mãe e tivemos um ano juntas nessa relação especial para nós três. A pequena talvez não se recorde, mas sei que existe uma sementinha da vovó dentro dela.
Para as mamães que estão fragilizadas como eu, peço que pensem na grandeza de Deus, olhem as bênçãos ao seu redor, agradeçam pela saúde e todas as oportunidades que aparecem diariamente. Se permitam chorar e viver esse vazio que a partida traz, mas reparem também no sorriso do seu filho e na grandiosidade que isso tem. A saudade será eterna, mas usem-na com sabedoria e seja a melhor mãe para o seu novo amor! Procuro sempre pensar que perdi a presença física, mas tenho-a dentro de mim. O que vivemos e o que sentimos, transcende dimensões e jamais será mudado. Tenho um anjo que olha por nós e acredito que ainda nos encontraremos! Feliz Dia das Mães! Para as sortudas que ainda contam com as suas, beijem e abracem muito, por vocês e por todas nós que, infelizmente, já as perdemos.”