A maioria das mães teme uma coisa: o fim da licença-maternidade e o retorno ao trabalho. Muitas vezes, essa angústia aparece antes mesmo dos filhos nascerem e algumas mulheres decidem não voltar para o emprego por não conseguirem ficar longe dos seus bebês. Como essa decisão envolve muitas questões, ela deve ser planejada e pensada com cuidado. Se você está vivendo esse dilema, fique atenta a alguns fatores antes de tomar uma atitude.
1. Analise a renda familiar
Pergunte-se se será possível viver sem o seu salário e qual o impacto que essa mudança trará. Converse com o seu parceiro, coloque todos os gastos no papel e veja se a nova condição será viável para todos. “É preciso avaliar a questão econômica: quem arcará com o orçamento e como isso será administrado no dia a dia. Essa decisão deve ser bem pensada porque ela terá consequências não somente na vida da mulher, mas em toda a dinâmica da família”, orienta Cynthia Boscovich, psicóloga clínica, psicanalista e membro regular da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana. Depois de pensar em todas as questões, você conseguirá decidir se esse realmente é o melhor caminho. “Outro ponto que deve ser levado em consideração é quanto a mãe ganha. Eu iria receber muito pouco e não valeria a pena pagar um berçário. Sem falar nos custos para levá-lo e buscá-lo e no quanto gastaria com a farmácia, já que os bebês ficam muito doentes quando entram na escolinha”, afirma a mamãe Nani Oliveira.
2. Saiba que a rotina também pode ser desgastante
Ficar em casa para cuidar dos filhos tem um grande impacto na vida da mulher. Ao mesmo tempo em que ela terá a oportunidade de acompanhar o pequeno, também poderá ficar cansada com o acúmulo de tarefas. “Para mim essa troca foi válida e estou fazendo-a pela segunda vez, mas a vida cotidiana da maternidade também tem momentos muito difíceis. Se a mãe não conseguir se adaptar à nova realidade, pode tentar se recolocar no mercado de trabalho”, comenta Luciane Hélio. A mãe Viviane Gonçalves também saiu do emprego quando a filha nasceu e reconhece que nem todas as mulheres têm essa opção. “Eu não me arrependo da minha escolha, mas às vezes sinto saudade de ir para rua, trabalhar, ter o meu próprio dinheiro”, revela.
3. Pense no que você realmente quer
É claro que é necessário ouvir a família e ver as possibilidades que existem, mas essa questão precisa ser bem avaliada e resolvida internamente. “As mães que decidem deixar o trabalho devem agir por elas. Se fazem essa troca pensando se serão reconhecidas podem sofrer decepções e frustrações e isso terá um peso muito grande no futuro. Elas devem se sentir seguras com a decisão para saber administrar as opiniões externas, que sempre existirão”, explica Cynthia Boscovich. Para a psicóloga, é importante que as mulheres não criem expectativas e pensem no seu bem-estar, na necessidade e vontade que têm de se dedicar integralmente à função de mãe. “Eu sigo a criação com apego e prefiro ensinar os valores da minha maneira. Escolhi ficar em casa com o bebê pelo menos até ele andar e falar e recomendo que as mulheres que podem abdicar com amor da sua vida profissional por um tempo façam isso”, comenta Nani Oliveira.
4. Veja se você tem condições emocionais para voltar ao trabalho
No começo, é normal que a mamãe fique ansiosa e aflita com a nova situação, mas é importante que ela saiba qual é o seu limite. “A gravidez foi complicada e o meu filho ficou 93 dias na UTI. Eu só conseguiria deixá-lo com uma babá e teria que ser alguém experiente, com noções de enfermagem, o que ficaria muito caro para o nosso orçamento. Outro problema foi o fato de eu não estar pronta para trabalhar no mês seguinte da sua alta, pois fiquei todo o tempo em que ele foi internado em outra cidade e só via minha filha mais velha e o marido aos finais de semana”, conta a mãe Natália Kussler Heberle. Como cada situação é diferente, é importante analisar com calma antes de decidir. “O meu pequeno era alérgio à proteína do leite e não podia ter nenhum tipo de contato. Valeu a pena ficar com ele em casa porque o meu filho se curou completamente graças ao afastamento total do leite e derivados”, revela a mãe Priscila Akama.
5. Converse com a sua família
Apesar de essa decisão estar centrada na mulher, ela também tem impacto na vida dos outros integrantes como parceiros, filhos mais velhos e avós. “O homem pode parar de trabalhar para ficar com o filho. Essa não precisa ser necessariamente uma escolha feminina”, afirma a psicóloga Cynthia Boscovich. Algumas mulheres vivem essa experiência e Tatielly Leticia é uma delas: “Aqui em casa será diferente. Sou funcionária pública e depois de seis meses volto ao emprego. O meu marido ficará em casa com o bebê até ele completar dois anos”. Para Cynthia, tudo precisa ser avaliado dentro do contexto familiar, do que todos esperam e dos benefícios e malefícios que essa escolha pode acarretar.
6. Pense também em outras possibilidades
Muitas mães desejam ficar com os filhos nos primeiros anos de vida, mas também querem ter uma renda e satisfação profissional. “Eu volto a trabalhar em março, mas já estou aflita de pensar que vou deixar minha filha de cinco meses. Estou analisando as coisas que posso fazer em casa para ganhar dinheiro como artesanato, algo que eu gosto”, diz Tyhawanna Oliveira. Esse é um caminho que muitas mães estão buscando. Pensando na angústia em retornar ao emprego após a licença-maternidade, as amigas Camila Conti e Ana Laura Castro resolveram criar, em 2013 (quando estavam grávidas), o Maternativa – um projeto que reúne informações e trocas de experiências sobre o empreendedorismo materno. “Nós não queríamos voltar para o mercado tradicional porque não temos um sistema que favorece esse retorno. Ao contrário: ele é despreparado para receber mulheres que ainda amamentam, que não estão dormindo a noite toda e não se sentem produtivas no trabalho. Muitas vezes, as mães querem voltar, mas as condições são tão ruins que elas acabam desistindo”, afirma Camila.
O projeto surgiu porque as duas tinham vontade de empreender, mas encontraram muitas dúvidas no meio do caminho e, por isso, resolveram criar um grupo no Facebook para debater com outras mães que estavam na mesma situação. Elas só adicionaram as amigas próximas, mas a ideia cresceu tanto que em um mês elas já tinha cerca de 600 participantes. Depois vieram os encontros presenciais e a criação do site, que tem o objetivo de ser uma vitrine para as mães empreendedoras. “Nós não cobramos nada para as mulheres cadastrarem suas empresas no portal ou mesmo para participarem dos encontros. Temos um financiamento coletivo, que é a primeira tentativa de conseguirmos dinheiro para formalizarmos o projeto como negócio social e reinvestirmos na rede para remunerar as pessoas que tem trabalhado com a gente”, conta Camila. Segundo ela, para muitas mulheres, o empreendedorismo materno é mais uma necessidade do que uma escolha.
“Eu sempre falo que é fundamental ter planejamento, ver o que quer fazer, pensar no público-alvo, pesquisar o que as pessoas estão criando nessa área, montar um plano de negócios, ter um planejamento financeiro porque o retorno vai demorar, fazer uma reflexão se você realmente quer empreender e se isso cabe na sua vida. Apesar de ter autonomia, você também trabalhará muito em casa e terá que organizar uma rotina que funcione para o negócio e o seu filho”, orienta Camila.