Como ensinar noções de segurança para uma criança pequena

A responsabilidade é dos pais, mas algumas dicas podem tornar os filhos mais cuidadosos.

Por Mônica Brandão (colaboradora)
Atualizado em 18 jan 2017, 16h42 - Publicado em 18 jun 2015, 12h10
Thinkstock/Getty Images
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O sonho de qualquer pai é que o filho viva com segurança. Seja enquanto está dentro de casa pulando do sofá, seja quando está lidando com estranhos no mundo lá fora. A preocupação é justificada quando observamos os dados sobre a infância no Brasil. Segundo a ONG Criança Segura, os acidentes domésticos são a principal causa de morte de crianças entre 1 e 14 anos. Já as estatísticas da Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas mostram que são mais de 50 mil crianças e adolescentes desaparecidos no Brasil. Muitos deles sequestrados.

Não é o caso de passar a criar o filho numa redoma de vidro, mas algumas atitudes podem deixar a família mais tranquila. Mesmo sendo pequenas, as crianças conseguem assimilar algumas noções de segurança quando ensinadas da maneira correta e em uma linguagem compreensível para a idade delas. Conversamos com especialistas para descobrir as melhores dicas.

1. A responsabilidade é sua

Antes de mais nada, um alerta importante: ensinar essas noções ao filho não tira a sua responsabilidade como pai de mantê-lo seguro. Ao saber onde estão os perigos, ele poderá de fato ser mais cuidadoso, mas isso não é uma garantia contra os acidentes. “A responsabilidade pela integridade física e emocional da criança é dos pais. É um grande erro transferir isso a ela”, alerta Alessandra François, coordenadora nacional da ONG Criança Segura.

2. Como falar com a criança

A melhor maneira de ensinar noções de segurança a uma criança pequena é usar exemplos que tenham coerência com o dia a dia dela. Ao explicar, por exemplo, que ela não deve aceitar balas de um desconhecido, diga que ela poderá ter uma dor de barriga horrível, já que ele não sabe encontrar as melhores balas, como a mamãe. A ideia é informar, e não amedrontar a criança.

Foi essa a maneira escolhida pela escritora Aline Angeli, autora de O Livro das Emergências – O Que Toda Criança Esperta Precisa Saber Sobre Segurança. “No livro, a criança não é ‘ameaçada’ e é nem vítima de um mundo perigoso. Não tem lição de moral. Ela só é estimulada a ser mais esperta e inteligente do que as armadilhas montadas pelo perigo. Elas se sentem fortes, poderosas, e não assustadas”, diz Aline. “A maioria das crianças compreende a noção de que o perigo se esconde em algumas situações, e acredito que vale a pena, sim, apresentar conceitos como o de acidentes caseiros e problemas com estranhos para elas o quanto antes. É preciso treinar com os pequenos o desfecho para situações de emergência, como saber o número do telefone de casa caso se percam na rua”, continua Aline.

As explicações devem ser dadas por inteiro (“Se você cair da janela, vai se machucar, terá muitos dodóis e não poderá mais ficar com o papai e a mamãe”). Do contrário, corre-se o risco de a criança ficar curiosa sobre o desfecho e fazer exatamente o que não pode só para saber o que acontece. E dê um tempo para ela absorver a explicação. Dependendo da idade e do desenvolvimento, o pequeno precisará de mais conversas. Como tudo o que se relaciona à educação infantil, o segredo é a repetição. Explique muitas vezes, e sempre que for necessário. Não será da primeira vez que a criança entenderá e agirá como você quer.

Quando algo ocorrer, se ela realmente cair do sofá ou acompanhar outra pessoa até a lanchonete sem avisá-la, não grite, não berre. Converse. A criança tem de sentir que há uma parceria entre vocês. “Se ficar com medo e perder a confiança nos pais, ela nunca mais vai contar o que fez. Tem de haver uma cumplicidade para que os filhos falem sobre o que aconteceu”, explica Glauce Assunção, psicóloga e neuropsicóloga do Hospital São Camilo/Santana, em São Paulo. Equilibre a bronca para manter o canal de comunicação aberto.

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3. Como lidar com pessoas estranhas

Não se engane. Mesmo crianças que costumam “estranhar” quem não conhecem vão seguir um desconhecido se ele oferecer um brinquedo ou um doce. Crianças são crianças! E tendem a achar que adultos são sinônimos de segurança. Os pais precisam explicar, de forma equilibrada, que nem todo mundo é legal, que algumas pessoas são “bobas”, podem bater, deixar a criança sem comida, roubar seus brinquedos e por aí vai. Procure ser o mais claro possível. Não fale em bicho-papão e homem-do-saco.

Diga que se trata de um homem ou mulher ruins que podem levá-la para longe da mamãe. Por isso, não se deve aceitar nada de alguém que não se conhece e muito menos acompanhar essa pessoa a algum lugar. E, mesmo em situações nas quais é a mãe de um amiguinho ou uma tia que convida para sair, é necessário que ele avise a mamãe ou o papai. Nesses casos, é claro que a intenção do outro adulto geralmente é boa: ajudar e distrair a criança em determinadas situações. Mas você deve sempre saber onde e com quem seu filho está. Não é necessário incutir medo na criança, mas ela deve saber que não é bom sair sem avisar os pais.

Na lista das explicações a respeito do contato com pessoas estranhas, entra também um alerta sobre ser tocado por elas. O assunto é bem delicado, mas necessário. Vale mostrar que um carinho na cabeça é aceitável, mas que, no restante do corpo, é melhor que apenas papai e mamãe tenham acesso. Fale isso de forma tranquila, do mesmo modo que explica sobre o perigo de dedos na tomada. Crianças pequenas não têm malícia e vão encarar a explicação de forma mais prática do que você imagina.

Oriente seu filho para gritar bem alto se um estranho tentar levá-lo à força. A melhor frase para usar é “Esse não é o meu pai, socorro!”. Ele deve fazer isso mesmo que o tal adulto peça para que fique quietinho. É importante que os pais sempre tenham a confiança da criança para ensinar que, se alguém ameaçá-la dizendo “não conte isso para os seus pais”, ela faça exatamente o contrário e nunca guarde segredos.

4. O que fazer quando se perder

Perder uma criança em locais públicos é muito mais comum do que se imagina. Elas correm para todos os lados, se confundem com a multidão. Um momento de distração e você a perde de vista. Não adianta ficar ameaçando o pequeno a nunca mais sair de casa caso não pare quieto. O melhor é prevenir. A partir de 3 anos de idade, dependendo do desenvolvimento de seu filho, ele já conseguirá decorar o número do telefone de casa. Treine bastante. Ele vai adorar e se sentir importante. Antes disso, crianças devem sair sempre com um cartãozinho com o nome e telefone dos pais. Mostre que o cartão estará no bolso da roupa e, caso ela se perca, deve mostrá-lo a alguém.

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Mas quem? Aí está o segredo. Não é qualquer pessoa. Sempre oriente seu filho a procurar: a mãe ou pai de outra criança, um guarda/policial/segurança (é fácil para ela identificar o uniforme) ou alguém que trabalhe dentro de uma loja ou restaurante – de preferência no caixa para não ter erro. Diga que essas pessoas poderão ajudá-la a encontrar você novamente. Também é importante pedir que ela não saia da área onde se perdeu, pois você estará procurando por ali.

Caso se perca no shopping, combine que ninguém saíra do local. Se possível, ela não deve nem andar pelas escadas e continuar no mesmo andar, assim será mais fácil encontrá-la. Aqui valem as mesmas regras sobre pedir ajuda. Explique, por exemplo, que ela pode entrar na loja de brinquedo (as mais conhecidas das crianças) e conversar com uma vendedora. Outra dica bacana, dependendo da capacidade de entendimento da criança, é combinar um local ao qual ela deve ir caso se perca. Pode ser sua loja de fast-food preferida ou aquela doceria onde existe um sorvete delicioso – são informações visuais que a criança é capaz de guardar por associação.

Na rua, vale ressaltar o perigo dos carros e orientar para que fique na calçada. Ou, melhor ainda, que entre em um local como uma loja, restaurante, padaria, prédio, onde ficará mais segura e poderá pedir auxílio. Já na praia, o melhor é explicar o perigo de tentar entrar na água caso se veja sozinha. Não é ali que ela deve procurar os pais. Fale que, apesar de bonito, o mar pode ser bem chato com as crianças, pois pode tentar arrastá-las para o fundo e fazer muitos dodóis. Avise que isso acontece também com quem sabe nadar. Por isso, ele deve ficar na areia, perto do lugar onde viu os pais pela última vez. E deve procurar ajuda com outras famílias que estiverem por perto. Ou, se a praia tiver pontos de salva-vidas e informações, geralmente sinalizados com bandeiras bem vistosas, ensine-a a ir até lá. Em hipótese nenhuma ela deve acompanhar estranhos que não sejam o pai ou a mãe de outra criança ou que não estiverem uniformizados.

Finalize as explicações mostrando que o melhor mesmo é ficar sempre ao lado dos pais para nada disso acontecer e estragar o passeio. E, caso a criança se perca, quando achá-la, segure a ansiedade, dê bronca, mas não grite. Respire, mostre o quanto ficou preocupado e, caso ela tenha seguido algumas das suas orientações, elogie o seu desempenho. Mas deixe claro que aquilo foi ruim e não deve acontecer novamente.

5. Cuidados que elas devem ter na rua

Perder-se na multidão enquanto anda na rua não é o único problema que pode ocorrer com crianças. Infelizmente, os atropelamentos são a segunda causa de morte infantil no Brasil, segundo a ONG Criança Segura. A explicação é simples: até os 10 anos, o pequeno não tem noção de tempo nem de espaço e não desenvolveu a visão periférica. Fica confuso. Quando vê um carro e um caminhão vindo em sua direção, por exemplo, sempre achará que o último, em razão do tamanho, está mais perto. Mesmo que o carro esteja mais rápido. Ela é incapaz de planejar o ato de atravessar uma rua, que exige observar a calçada lá na frente, ter noção de quanto tempo demora alcançá-la e, ao mesmo tempo, calcular a distância e a velocidade dos carros, muitas vezes vindos de sentidos opostos.

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Complicado, né? Ela vai ter de crescer e praticar muito para fazer tudo isso sozinha. Até lá, só deve andar na rua acompanhada! E de mãos dadas com o adulto, que deve segurá-la de preferência pelo pulso – mais difícil de escorregar caso ela resolva sair correndo. Com frequência, os pequenos respeitam os adultos até a metade da rua e, depois, achando que não vem mais nenhum carro, soltam a mão e atravessam o restante correndo sozinhos. Não deixe que seu filho se acostume a fazer isso.

Hoje em dia, as calçadas também andam perigosas. Quase todo comércio tem estacionamento na frente e os portões das garagens de prédios aumentam a cada dia. Carros entram e saem a todo momento. Por isso, a mão dada também vale para a calçada.

6. Como se comportar em parques e playgrounds

Os perigos aqui são dois. Primeiro, é bom a criança ter a noção de que brinquedos quebrados, escorregadores com pontas soltas e trepa-trepa faltando partes podem machucar. E isso vai doer muito. A responsabilidade de verificar o estado de manutenção do parque é dos pais, mas a criança pode ajudar avisando quando notar algum problema. Mostre também que cada brinquedo funciona de um jeito, e será legal se isso for respeitado. Por isso, tentar pular do escorregar ou escorregar no trepa-trepa pode doer e acabar com a brincadeira. A ideia não é cercear a criança, mas orientá-la e diminuir o risco de acidentes.

Outro assunto importante, principalmente quando se trata de playgrounds de prédios, é você acompanhar de perto o que está acontecendo. O ideal é nunca deixar a criança sozinha nesses lugares, mesmo que tenha um grupinho de mães por ali, já que nem sempre é possível prever quando elas sairão do lugar. Explique para seu filho que, caso você não esteja por perto, ele não deve sair do playground. Não pode sair do prédio – isso pode ser combinado com o porteiro, mas lembrando que ele não é responsável por tomar conta da criança – e não deve ir ao apartamento de outra pessoa sem avisar você. Explique que ele também não gostaria se você saísse e não avisasse nada. Quer ir à casa do amiguinho? Interfone para os pais e pergunte se pode. Ele tem de fazer isso mesmo que os pais do amigo digam que está tudo bem.

7. As armadilhas dentro de casa

É impressionante como uma casa pode ser perigosa para uma criança pequena. Há móveis altos, cantos de mesa, tomadas, acessórios de cozinha, produtos de limpeza, remédios, pisos escorregadios ou muito ásperos, portas pesadas, janelas sem rede, fornos quentes, vasos sanitários, tapetes que escorregam… A lista não acaba. O jeito é ir mostrando como cada coisa, se usada da forma errada, pode causar dodói e impedir que a criança possa brincar durante um tempo. E explique tudo, com começo, meio e fim.

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Dependendo da idade do seu filho, não adianta, por exemplo, simplesmente guardar os remédios em lugares altos. Ele ficará curioso e arrastará uma cadeira para alcançar. Diga que, à medida que ele for crescendo, aprenderá a lidar melhor com tudo aquilo e os riscos de perigo irão diminuir – mas não acabar. Aproveite seus próprios acidentes, como um corte na hora de picar legumes, uma queimadura ao tirar o bolo do forno e até um tropeço, para exemplificar que aquilo pode doer e não é legal. Nada disso fará a criança se esquecer do quanto é gostoso pular do sofá ou xeretar na gaveta dos acessórios de cozinha. Afinal, são crianças e você é quem tem de ficar de olho. Mas, com o tempo e muita explicação, elas podem ficar um pouco mais cuidadosas.

Uma ótima ideia, quando falamos de segurança em casa, é ensinar o número de telefone da polícia para a criança. O 190 é um número fácil de decorar e achar no teclado. Explique que se trata de algo muito sério, um telefone especial que não deve ser usado à toa. Mas tem de ser discado se: um adulto pedir, mamãe, papai ou quem estiver cuidando dele desmaiar, pegar fogo em algum lugar, um desconhecido tentar entrar na casa. Se conseguir dizer o endereço para quem atender, melhor ainda. Acredite: crianças e adultos já foram salvos por essa pequena atitude.

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