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Chegada do bebê: como evitar (ou contornar) a “crise da cegonha”

Não é raro casais entrarem em crise depois que se tornam pais; entenda por que isso ocorre e como lidar com a situação

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 27 out 2017, 06h00 - Publicado em 27 out 2017, 06h00
 (IuriiSokolov/Thinkstock/Getty Images)
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Em um mundo ideal, a chegada de um bebê na vida de um casal é motivo de alegria geral, incondicional e irrestrita, aquela “cola” extra que une ainda mais duas pessoas que já se amam. Mas, na vida real, nem sempre é assim. Ao longo de mais de cinco décadas, diversos estudos feitos no Brasil, no Reino Unido, nos EUA, em Portugal e em outros países ocidentais indicam que cerca de 25% dos casais acabam se separando até cinco anos depois que a família aumenta.

É a chamada “crise da cegonha”. “A vinda de um filho coloca mais uma pessoa na dinâmica. O casal passa da condição de parceria, de dupla, para a exigência de outros comportamentos e habilidades que nem sempre são planejados”, afirma a psicóloga e terapeuta sexual Margareth dos Reis.

Isso é apenas um dos aspectos, o mais básico. A psicóloga também nota que a diferença das mudanças na vida da mulher e do homem contribuem para um possível distanciamento. “O pai logo volta a trabalhar, a ter sua rotina, e não passa por todas as transformações que a parceira experimentou durante a gravidez e depois do nascimento do bebê. A mãe sofre mudanças profundas no corpo, tem uma diminuição natural da libido por causa do hormônio prolactina produzido para a amamentação, vive um cansaço muito grande. O sexo diminui. O homem pode se sentir de lado e não saber lidar com isso.”

Uma terceira causa do estranhamento entre o casal é o próprio lidar com o bebê. “É muito comum o homem não saber como fazer o que precisa e não perguntar para ninguém. Ou então a mulher perder a paciência e pular na frente para fazer as coisas do jeito dela. Isso tudo gera atritos”, destaca Margareth. “O casal deixa de se enxergar.”

Como evitar a crise depois do nascimento do bebê?

A melhor estratégia é se preparar de fato para a realidade de quando o bebê estiver do lado de fora da barriga da mãe. Na opinião da psicóloga Carol Braga, especialista em psicologia infantil e familiar, é preciso ter a consciência de que o distanciamento pode ocorrer, mas é temporário.

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“O cansaço físico e emocional é natural, mas só perdura se o bebê for colocado como o centro de todas as atenções, um reizinho ou rainhazinha da família. O bebê tem que se adaptar à rotina da casa, não o contrário”, defende.

Nesse sentido, é legal conversar muito e estabelecer os momentos de casal, não de pais. “Os adultos devem tomar as rédeas da rotina e encaixar a vida da criança, do casal, da família nela. Os dois podem se planejar para sair para jantar, para se curtir”, orienta Carol.

casal sentado com os rostos e as palmas das mãos encostadas
Ter tempo para viver como casal é importante para evitar crises depois do nascimento do bebê (yacobchuk/Thinkstock/Getty Images)

Margareth observa que a baixa de sexo por um período não precisa significar falta de proximidade: “Não deve diminuir a atenção de um para o outro, o carinho. É importante conversar sobre como se sente em relação a tudo. Um momento de papo entre os dois é inclusive uma trégua no meio da loucura que é a vida com um bebê. Ajuda muito no sentido de dar um alimento para o relacionamento.”

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A síntese, então, é: conversar, conversar e conversar mais um pouco; não deixar a comunicação de adultos morrer por causa da dedicação ao bebê. “Se o casal está fortalecido, se ajuda no enfrentamento das situações e não tem muitos problemas”, garante Margareth.

O casal já está em crise depois do nascimento do bebê. E agora?

Sempre é tempo de resolver as crises de casal, e você não precisa ter medo de entrar nos 25% das estatísticas lá do começo da matéria – lembre-se que 75% dos casais NÃO se separam.

Carol sugere uma abordagem bem prática da situação: colocar no papel como cada pessoa do casal pode satisfazer seus cinco papeis de vida. “Cada um tem suas atribuições como donos da casa, eles próprios (os indivíduos), mãe ou pai, amante e profissional (mesmo que não trabalhe fora). Coloquem em uma folha de papel dividida em cinco colunas quais são suas funções, atribuições e atividades em cada uma delas. Forcem-se a cumprir as tabelas até que aquilo se torne natural”, ensina. Isso, segundo a psicóloga, é tomar as rédeas da vida de maneira consciente. “A falta de rotina gera cansaço, estresse e distanciamento.”

Se não for possível fazer isso por conta própria – e é perfeitamente normal que não seja –, não hesitem em buscar o auxílio da terapia de casal para resgatar a relação. “É importante trazer de volta um casal que ficou perdido no meio de tudo, sem perceber que as coisas poderiam ter sido conduzidas de outra forma”, esclarece Margareth. “Em geral, é difícil reconhecer onde começou o problema, a dimensão dele e saber como enfrentá-lo. A terapia ajuda o casal a enfrentar tudo isso e se reencontrar”, finaliza.

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