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Campanha incentiva a presença de mais bonecas negras nas lojas brasileiras

Com o nome "Cadê nossa boneca?", iniciativa da ONG Avante – Educação e Mobilização Social, de Salvador, defende maior representatividade para as crianças negras no mercado de brinquedos.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 27 out 2016, 23h50 - Publicado em 20 abr 2016, 13h06
Manuela Cavadas
Manuela Cavadas (/)
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Enquanto trabalhavam para arrecadar brinquedos para serem doados a crianças carentes de Salvador, na Bahia, as amigas Ana Marcilio, Mylene Alves e Raquel Costa notaram que, entre as muitas bonecas disponíveis, nenhuma era negra. A partir disso, o trio decidiu criar uma campanha nacional que incentivasse a diversificação de bonecas (e bonecos) nas lojas brasileiras. Daí nasceu, no fim de 2015, o projeto Cadê nossa boneca?.

Criada pela ONG Avante – Educação e Mobilização Social, localizada na capital baiana, a ação acontece principalmente no Facebook. Na rede social, são disponibilizados conteúdos que propõem o debate sobre a representatividade na infância e incentivam a interação dos seguidores. Futuramente ainda estão previstas intervenções urbanas. “E gostaríamos também de organizar uma campanha de arrecadação de bonecas negras para doação”, conta Ana Marcilio, porta-voz da iniciativa e consultora da Avante.

Mas, por que é tão importante que os pequenos se sintam representados pelos seus brinquedos? “Bonecos e bonecas devem refletir a diversidade da população ao invés de reforçar padrões de beleza estereotipados”, aponta Ana. E isso se torna ainda mais urgente quando falamos de um país em que 53,6% da população é negra, segundo o IBGE. “Conviver com a diversidade e encontrar-se, identificar-se e projetar-se nas/nos bonecas/os seria um ganho enorme para as crianças, principalmente na autoestima”, alerta a especialista.

Racismo

E por qual motivo as bonecas negras não chegam às prateleiras das lojas? Segundo Ana Marcilio, há várias explicações para essa questão – e uma delas seria o preconceito. “Ao conversarmos com fabricantes, comerciantes e consumidores, o que vemos é um novelo difícil de se desatar: um consumidor que diz não comprar pela ausência de oferta, um comerciante que diz não ofertar pois não há demanda e um fabricante que diz até fabricar, mas não tem saída”, relata a porta-voz. No entanto, ela acredita que, se as opções de bonecas negras e loiras disponíveis nas lojas fossem iguais, não haveria dificuldade de comercialização. “Falta investimento para bancar esse comércio, vontade de fazer ele crescer. Daí que penso que a maior variável é a do racismo mesmo. Aquele racismo internalizado a tal ponto que alguns se dão ao luxo de nem sequer o sentir”, opina.

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Papel dos pais e da escola

De acordo com Ana Marcilio, oferecer brinquedos que reflitam diferentes padrões estéticos e culturais deve ser uma preocupação dos pais. “É interessante pensar nos símbolos que eles carregam. A busca por brinquedos que reflitam os valores familiares, a diversidade do país e a cultura local é, sem dúvida, interessante”, propõe.

Na escola, Ana também aponta a urgência de a sociedade plural em que vivemos ser representada. “Por exemplo, é comum encontrarmos, no cotidiano escolar, uma série de barreiras para alcançarmos a ‘igualdade racial’: o penteado, o pertencimento religioso e até o próprio currículo são algumas das tensões que vão aparecer quando falamos de racismo”, exemplifica. “As instituições públicas e privadas precisam avançar em seus fazeres para que não perpetuemos valores eurocêntricos”, sugere.

 

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