Durante as entrevistas que faz com executivas e mulheres de sucesso para o blog Mulheres Incríveis, a jornalista Brenda Fucuta sempre se depara com o tema da maternidade. “Existem exceções, mas em geral as minhas entrevistadas estão buscando o equilíbrio entre a maternidade e a carreira”, conta Brenda. Ainda assim, poucas assumem que não fácil ser mãe nos dias de hoje, em que o mercado de trabalho é tão competitivo e não perdoa que as mulheres não estejam 100% disponíveis para a vida profissional.
Intrigada com esse cenário, Fucuta teve a ideia de fazer um levantamento com mulheres de várias idades, de todas as regiões do país e de diferentes classes sociais, para saber como a maternidade é vista atualmente. Foi aí que nasceu a pesquisa “A nova mãe brasileira”, feita em parceria com o Instituo Qualibest. Participaram do estudo 1 317 mulheres, a maioria com idades entre 18 e 44 anos, e que têm filhos em diferentes faixas etárias (a maior parte entre 0 e 13 anos). As entrevistas foram feitas a partir de questionários online e trouxeram dados curiosos, que escancaram uma realidade cada vez mais evidente, mas ainda ignorada por muitos. Confira a seguir:
Rotina pesada (e falta de dinheiro)
63% das entrevistadas confessam considerar a vida de mãe hoje em dia “difícil e exaustiva”. Não é para menos: dar conta dos filhos, do trabalho, dos cuidados com a casa e de si mesma é bastante coisa. E tudo isso sem contar, muitas vezes, com a participação do parceiro ou com a ajuda de outra pessoa.
Quando perguntadas sobre o que torna a maternidade nos tempos atuais tão difícil, 75% declararam que isso se deve a questões financeiras. “Muitas mães criam os seus filhos sozinhas e quase 40% delas são as principais responsáveis financeiras das famílias”, comenta Brenda Fucuta. E não pense que isso se restringe àquelas com salários menores. “Curiosamente, não há grande variação entre classes sociais quando assunto é a falta de dinheiro. Imagino que, quando dizem que gostariam de ter uma renda maior, as mulheres se referem à eterna vontade dos pais em oferecer mais recursos aos seus filhos”, analisa a jornalista.
Outros pontos elencados pelas mães no que se refere à dificuldade em dar conta da rotina estão falta de tempo para a vida pessoal e para o trabalho, ter paciência para repreender/corrigir os filhos e encontrar energia para brincar e fazer atividades com as crianças.
Culpa
É provável que as mães nunca tenham se sentido tão culpadas quanto nos tempos modernos. E a pesquisa tentou mapear isso por meio de um cruzamento de perguntas sobre o que as leva a carregar toda essa culpa. O dinheiro, mais uma vez, se mostrou de grande preocupação entre as mamães: 55% assumiram se sentir culpadas por não terem condições financeiras de oferecer o que elas acreditam que seus filhos merecem, como uma escola melhor, roupas novas, itens eletrônicos e viagens. Em segundo lugar veio a falta de paciência – 36% delas sentem uma grande culpa quando perdem as estribeiras. Outras razões para esse sentimento envolvem não ter disposição ou tempo para brincar e ajudar os pequenos nas lições de casa, deixar que eles passem muitas horas vendo TV ou jogando videogame para que se mantenham calmos, ser muito exigente e rigorosa, não conseguir impor limites, sentir-se distante dos filhos e não amamentar ou alimentar as crianças de forma correta. Apenas 8% das participantes não escolheram nenhuma alternativa.
Mães (im)perfeitas
Se a realidade das mães está mudando, tudo indica que a visão das mulheres sobre a maternidade também. Quando perguntadas qual imagem melhor define a mãe brasileira, 51% das entrevistadas escolheram a opção “A mãe que ama seus filhos, mas também ama seu trabalho, seu parceiro e tem outros interesses na vida”. Apenas 18% elegeram a frase “A mãe que tem seus filhos como prioridade”.
E mais: boa parte das mulheres (41%) disseram não se sentir representadas pela imagem da mãe na mídia (em filmes, novelas e redes sociais). Para se ter uma ideia, 46% afirmaram que a ideia de “mãe perfeita” não as representa, assim como as figuras de mães que estão sempre felizes, que são multitarefas, que são guerreiras e vencem tudo ou que fariam qualquer sacrifício pelos filhos.
Julgamentos e cobranças
Apesar de saberem que não existe um modelo perfeito de mãe, 70% das participantes da pesquisa revelaram se sentir cobradas ou julgadas no exercício da maternidade. E quem são os responsáveis por tantas cobranças e julgamentos? Bem, segundo 72% das entrevistadas, em primeiro lugar, elas mesmas. Depois aparecem as mães delas (30%) e as sogras (15%). Os maridos foram escolhidos por 29% das mamães e os filhos por 19%.
Um achado interessante desse tópico é que 6% das mulheres assumiram se sentir julgadas por outras mães nas redes sociais. E acontece mesmo: espaços como o Facebook fazem com que as pessoas queiram dar sua opinião sobre tudo, inclusive a vida dos outros! Ao mesmo tempo, contudo, isso permite novos debates e reflexões. “Achei tão interessante a polêmica em torno daquela mãe americana que postou uma foto em que ela amamentava o filho enquanto fazia xixi que passei a querer investigar o assunto. Por que tantas mulheres ficaram indignadas com aquela foto? Por que não podemos mostrar a maternidade como é, imperfeita como tudo na vida? Nesse sentido, as redes sociais são um importante palco para o debate sobre como idealizamos a figura da mãe”, reflete Brenda.
Necessidade de parceria
Como dá para ver, as mães levam nas costas o mundo e mais um pouco. No levantamento, as entrevistadas foram solicitadas a apontar seus melhores parceiros na criação dos filhos. Os maridos foram eleitos por 60% das participantes. Em segundo lugar aparecem as avós maternas (20%), seguidas da escola (6%). A sogra e a babá foram citadas por apenas 1% das mulheres.
Mas será que o que as mães querem é mesmo alguém para cuidar dos filhos? Pelo visto, não. Ao serem questionadas sobre o que gostariam de ter para melhorar a criação dos pequenos, 70% das mulheres destacaram dinheiro. Além disso, elas desejam mais energia para brincar e ajudar nos estudos e também poder contar com pessoas para auxiliar nos afazeres domésticos. Apenas 12% declararam sentir falta de alguém para dividir os cuidados com a meninada. Para Brenda Fucuta, o recado é claro: o problema não é dar conta das crianças, mas de todo o resto. “Está na hora de dividirmos as tarefas domésticas com outros membros da família, inclusive com os próprios filhos”, pontua a idealizadora da pesquisa.
E você, como enxerga a maternidade hoje em dia?