Família

Coronavírus x crianças: 3 mães contam como lidaram com a doença nos filhos

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por Flávia Antunes Atualizado em 17 fev 2021, 10h59 - Publicado em
12 fev 2021
18h47

Em relatos sinceros, as mães revelaram como foi o diagnóstico, rotina em casa e o que passou em suas cabeças quando os pequenos contraíram o novo coronavírus

Crianças são mais afetadas por uma série de doenças respiratórias, o que fez com que desde o começo da pandemia muitas dúvidas cheias de temor se instalassem: “será que meu filho vai sofrer mais com os sintomas se for infectado?“, “se engravidar, posso transmitir o vírus para o bebê?” e a mais recente “a nova variante da covid-19 tem mais impacto nos pequenos?

Muitos desses questionamentos continuam sem respostas conclusivas e milhares de famílias no mundo todo precisaram lidar com a doença na prática em meio a tantas dúvidas. Algumas testemunharam seus filhos passarem ilesos pela doença, outras encararam versões leves e teve quem enfrentou quadros severos, envolvendo internações e sintomas que perduraram.

Para entender um pouco mais sobre a vivência na prática, conversamos com três mães que conviveram com o Sars-CoV-2 em suas casas. Independente de se os pequenos tiveram quadros leves ou mais graves, um sentimento se mostrou comum no relato de todas elas: o medo diante da imprevisibilidade da doença. Veja só os relatos completos:

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"Tomei um susto, por ser uma doença desconhecida em que não sabíamos qual seria a reação do organismo"

Marcela Ribeiro, gerente administrativa, é mãe de Theo, de 3 anos, e Rafaella, de 6 e ambos foram infectados pela covid-19, mas não desenvolveram sintomas graves.

“Fomos diagnosticados no dia 3 de novembro. Eu tive febre na sexta-feira anterior, no sábado minha filha de seis anos teve também e, em seguida, meu filho mais novo e meu marido. Até então achamos que era uma virose, porque não haviam outros sintomas, mas recomendaram no meu trabalho que eu fizesse um exame, que acabou dando positivo.

Quando falei no hospital que as crianças tiveram febre, não foi preciso colher o exame deles, porque entende-se que os sintomas eram os mesmos. No mesmo dia, perdi o olfato e paladar e lembro que estávamos fazendo uma pipoca de microondas e minha filha falou: ‘não deve estar fazendo, mãe, porque não tem cheiro’, e foi aí que percebi que ela também tinha perdido o olfato. 

Quando o laboratório me ligou dizendo que eu tinha testado positivo, minha filha ouviu e se assustou muito, porque todo o tempo estávamos usando máscara, nos protegendo e ouvíamos pessoas falando que perderam alguém… Ela ficou perguntando se iria acontecer alguma coisa com a gente, se a mamãe ia morrer.

Ver a repercussão no noticiário e até através dos próprios amiguinhos pode ter impactado. Mas fomos explicando que ficaria tudo bem, que não estávamos com sintomas graves… Provavelmente eu que levei a doença para a casa, porque meu marido estava trabalhando em home office e as crianças tendo aulas online. 

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(Marcela Ribeiro/Arquivo Pessoal)

Confesso que quando recebi o positivo, também tomei um susto, por ser uma doença desconhecida em que não sabíamos qual seria a reação do organismo. Foi um susto grande principalmente porque meus filhos estavam ficando com a minha mãe – pois eu já tinha retornado ao trabalho – e fiquei com medo de transmitir a doença para ela, que já é grupo de risco por ser hipertensa. Então ficamos apreensivos, apesar de não termos contaminado ninguém.

A rotina depois do diagnóstico foi de isolamento. Ficamos 14 dias trancados no apartamento e isso foi bem complicado, principalmente por não termos contato com ninguém, não podermos sair para comprar nada – acabamos pedindo tudo por delivery. Para as crianças foi ainda mais difícil, principalmente a parte de ficar trancado dentro de casa, sem poder ao menos descer no prédio, dar uma volta no quarteirão.

Ao menos a recuperação foi tranquila, só o meu olfato que demorou mais para voltar. O pequeno não entendia muito o que estava acontecendo e só reclamava de não poder ver os avós e os tios, mas minha mais velha se mostrou bastante chateada e a alimentação ficou complicada, porque não sentia o gosto da comida. O bom é que nenhum de nós precisou ir ao hospital ou ficar internado”. 

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"Minha filha chegou até a beijar o irmão à força dizendo que queria pegar o coronavírus também"

Sara Duarte é administradora de empresa e mãe de Caio, de 9 meses - que contraiu a doença -, e Luiza, de 4 anos. O desafio maior na sua casa foi ter que proteger a filha, que não aceitou bem o distanciamento.

“Suspeitei da doença no dia 10 de janeiro, quando notei que havia perdido o olfato e o paladar. Como na ocasião o Caio estava com coriza e meu marido com dor de cabeça, fomos todos ao hospital realizar o exame PCR. O meu e do Caio deram positivo para covid-19 e do meu marido, negativo.

No ato do exame eu só estava sem o olfato e paladar, mas ao recordar de meus dias anteriores, lembro de ter tido conjuntivite, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas e tonturas. Já o Caio, estava com coriza, apresentou febre baixa e ficou choroso. Após a confirmação da doença, ele teve um quadro de febre alta, o que me fez levá-lo ao pronto socorro, onde foi diagnosticado com otite. Com isso, ele teve que tomar antibiótico, mas em 10 dias já estava curado.

Neste meio tempo, ficamos em completo isolamento social – inclusive longe do meu marido e da minha filha que não estavam com sintomas. Dormimos em quartos separados, usamos máscaras e álcool gel dentro de casa, fazíamos as refeições em outro horário e não compartilhávamos nenhum utensílio.

Meu filho nasceu prematuro em plena pandemia, então meu medo dele contrair o vírus sempre foi muito grande. Por isso, quando recebi o diagnóstico eu fiquei muito chateada, já que estávamos tomando todos os cuidados e mantendo distanciamento social, mas de certa forma aliviada dele estar com todas as vacinas em dia e estar mais forte fisicamente em comparação com quando saiu da maternidade.

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Já minha filha mais velha, sempre soube do coronavírus. Quando contraímos, foi difícil explicar para ela que teríamos que ficar sem nos abraçarmos e nos beijarmos – e essa parte foi complicada pra mim, porque ela não entendia a razão de não poder ter contato comigo, mas o irmãozinho sim. 

Por conta disso, quando meu marido voltava à noite do trabalho focava a atenção só nela. Chegou em um momento que ela queria o contato com o irmão e parecia que quanto mais eu orientava que ela ficasse afastada e não compartilhasse brinquedos, mais ela queria ficar perto e chegou até a beijar o irmão à força dizendo que queria pegar o coronavírus. 

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O segundo conflito foi por conta de eu ficar com o Caio no colo, porque ele estava mais choroso e manhoso e, quando ela vinha, eu deixava ela virada de costas para o meu rosto. Ela não estava entendendo de verdade que tínhamos um vírus que poderia passar para ela, embora entendesse que algo não estava 100%, porque sentia a tensão da casa.

Eu tentava explicar de uma forma menos traumática possível, mas senti que ficou bastante abalada. Eu ficava chateada e com pena, porque ao mesmo tempo em que queria protegE-la, não queria que se sentisse sozinha.

Foram dias bem desafiadores e conturbados, sem nenhuma rede de apoio. Mas com o passar do tempo fomos nos acostumando, fui vendo que o quadro não estava ficando grave – porque meu receio era esse – e fui ficando mais tranquila. Com muita conversa, amor e respeito, conseguimos passar por tudo isso”.

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"Ela ficou apavorada. Perguntava se ia morrer, porque estava ficando muito mal"

A orçamentista civil Andrezza de Souza é mãe de Fernanda. A menina tinha 9 anos quando recebeu o diagnóstico de covid-19 e chegou a ser entubada, ficando 10 dias no hospital.

“Minha filha teve a doença em maio. Estávamos a 60 dias sem sair de casa, penso que o vírus pode ter vindo pelas compras do mercado ou algo assim. Ela começou a se sentir mal, teve febre muito alta, e no terceiro dia sentiu fraqueza, não conseguindo ficar em pé sozinha, então decidimos levá-la ao hospital.

Em torno de dois dias depois, a Fernanda teve uma piora repentina. Chegou a ser entubada, teve parada cardíaca e ficou cerca de dez dias no hospital. Eu acompanhei ela durante todos esse tempo e o pai dela parou de trabalhar neste período, então trazia todos os itens lacrados e levava roupas para lavar em casa.

Nós não chegamos a fazer o teste, mas tanto eu quanto o pai dela tivemos alguns sintomas, como dor de cabeça e dor no corpo. No entanto, como não tivemos piora e tive que ficar com ela no hospital, acabei não fazendo o exame.

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(Andrezza de Souza/Arquivo Pessoal)

Foi muito difícil, principalmente porque ouvíamos que crianças não pioravam, que tinham geralmente sintomas leves – e não foi o caso dela, que teve uma piora muito grande, teve que ser entubada. Foi um momento bem difícil para a gente.

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Sem falar que ela ficou apavorada, principalmente por tudo que via na televisão. Perguntava se ia morrer, porque estava ficando muito mal. Apesar das intercorrências, minha filha teve uma recuperação até que rápida.

Contudo, quando voltamos para a casa continuamos isolados, sem sair de casa, principalmente porque ela não criou anticorpos, então pode contrair o vírus novamente. Ela fez a sorologia, porque teve uma sequela meses depois – um início de trombose -, e tudo isso por causa do Sars-CoV-2.

Ela gostaria de voltar presencialmente à escola mas, como a saúde dela ficou bem debilitada – ainda tem falta de ar e sente cansaço -, a escola prefere não deixar ela voltar, porque não tem uma quantidade de funcionários o suficiente para os acompanhar todos os alunos

Agora, ela continua com muito medo de tudo. Se vamos a algum lugar, ela não quer aglomeração ou ficar perto de pessoas, porque tem medo de pegar a doença de novo“.

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