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Telas eletrônicas não deveriam ser usadas no primeiro ano de vida, diz OMS

Conheça o que já se sabe sobre o impacto do tempo de tela no desenvolvimento infantil e como fazer o uso consciente dos dispositivos

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 25 abr 2019, 16h38 - Publicado em 25 abr 2019, 16h21
Criança usando o tablet com o pai
 (monkeybusiness/Envato)
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou nesta semana orientações sobre a atividade física nos cinco primeiros anos de vida. Uma das preocupações da entidade é que o tempo em frente às telas estimule o sedentarismo, ao substituir as atividades que exigem movimento do corpo.

Entre as recomendações, a OMS sugere que crianças não usem dispositivos eletrônicos com telas, como celulares e tablets, antes do primeiro ano de vida. Até o segundo ano, o uso sedentário, quando a criança só fica sentada assistindo a algo, é contraindicado. Aos dois anos, o limite deve ser de uma hora por dia, e quanto menos melhor.

A posição recém-divulgada da OMS é similar à da Associação Americana de Pediatria, que recomenda que os bebês só tenham contato com telas a partir dos 18 meses de vida, e ainda assim por apenas uma hora ao dia. A Sociedade Brasileira de Pediatria, por sua vez, também contraindica o uso passivo antes dos dois anos. Entre os dois e cinco, a orientação é limitar o tempo de exposição a uma hora diária.

Por que limitar?

A influência das telas no desenvolvimento infantil ainda está sendo estudada, mas suspeita-se que haja impacto na capacidade de concentração, socialização e aprendizado dos pequenos. “O problema é que você acaba substituindo outros estímulos que são necessários nessa fase da vida, quando a criança começa a conhecer o próprio corpo e explorar o ambiente ao seu redor“, explica Deborah Moss, neuropsicóloga mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de São Paulo.

Para o desenvolvimento cognitivo, não existe nada como a interação no mundo tridimensional, com sua imprevisibilidade e desordem. A partir da exploração do corpo e dos estímulos sensoriais do contato com o chão, da experimentação de cheiros e sabores, a criança desenvolverá seu repertório tanto de movimentos quanto de linguagem.

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E, mesmo que não hajam prejuízos imediatos do excesso das telas, eles podem aparecer mais anos depois. “O comportamento sedentário pode se manter ao longo dos anos se for estabelecido nessa fase”, aponta Deborah. É justamente por conta da percepção de que faltam atividade física e brincadeiras offline que a OMS lançou esta nova recomendação.

Ficar parado tempo demais pode afetar ainda a coordenação motora. “Trabalho com crianças de seis, sete anos, e vejo que elas têm dificuldades na escrita porque não desenvolveram seu repertório motor, não pulam corda, não andam de bicicleta, não brincaram o suficiente”, comenta Maria Helena Sampaio de Castro d’Âncora, psicomotricista de São Paulo, que presta assessoria na Lil’Fit, uma ideia de negócios que surgiu justamente da pouca movimentação dos pequenos nos dias atuais.

Meu filho usa o celular, e daí?

A recomendação é restrita, mas pouco aplicável na vida real. No Reino Unido, 75% dos bebês usam eletrônicos diariamente. É praticamente inevitável que o bebê tenha contato com um eletrônico, além dele ser um recurso comumente utilizado pelos pais para momentos em que é preciso entreter os filhos. Sendo assim, mais do que proibir, o ideal é discutir o uso racional dessas tecnologias.

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Até mesmo porque, da mesma maneira que parece haver impacto negativo no peso, na qualidade do sono e no comportamento dos pequenos, a tecnologia também pode trazer benefícios ao desenvolvimento infantil. Um estudo inglês de 2016 feito com 715 crianças sugere que o uso do touchscreen pode até melhorar a coordenação motora fina, embora deixe claro que mais estudos são necessários para entender como isso ocorreria.

Neste sentido, há muita diferença entre o uso passivo e ativo. Existem aplicativos que trabalham coordenação e a criatividade, jogos e canais educativos no Youtube, que estimulam a criança de uma maneira lúdica e apresentam cores, letras e sons. A participação dos pais também é importante neste processo.

Entre os 18 e 30 meses de vida os bebês estão começando a desenvolver habilidades como pensamento simbólico, memória e controle de atenção, então as crianças podem ficar distraídas por efeitos visuais e sonoros sem absorver o que está sendo ensinado ali. Assim, os pais devem conversar sobre o que elas estão assistindo e transferir os aprendizados para experiências da vida real.

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Fora o uso educacional, tudo bem deixar o bebê alguns minutos vendo um desenho para ir ao banheiro, cozinhar ou fazer qualquer outra coisa. O problema é mesmo o exagero. No fim, o que vale é o equilíbrio e a reflexão sobre como os eletrônicos interagem com a família. O Royal College of Paediatrics and Child Health, da Inglaterra, recomenda que os pais façam a si mesmos as seguintes perguntas:

  • O tempo de tela é controlado?
  • O tempo de tela interfere nas atividades da família?
  • As telas eletrônicas atrapalham o sono?
  • Você consegue controlar os petiscos ingeridos durante o uso de telas?

A entidade diz que, se as respostas forem satisfatórias, é um sinal de que a família está conseguindo gerenciar bem os tablets e companhia.

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