Falar com as crianças é fundamental desde os primeiros dias de vida. A partir do diálogo, elas desenvolvem a cognição e a linguagem e é sempre uma alegria quando ouvimos a primeira palavra da boca dos pequenos.
Entretanto, a comunicação continua se desenvolvendo durante os anos. É a prática e o estímulo da conversa que nos possibilita diálogos cada vez mais longos e elaborados.
É na infância, também, que começamos a perceber o mundo externo e a lidar com frustrações, medos e desapontamentos. Porém, nomear emoções é uma tarefa complexa mesmo para adultos. Então surge a dúvida: qual é a melhor forma de falar sobre sentimentos com as crianças?
Estimule o autoconhecimento
Segundo a psicóloga Isabelle Vignol, especializada em terapia familiar, é preciso que os adultos conheçam o próprio funcionamento emocional antes de qualquer outra coisa.
“É impossível mediarmos qualquer tipo de conhecimento se não temos noção do que estamos falando. Imagine você querendo ensinar matemática para uma criança sem saber fazer contas de soma e subtração. É uma missão impossível”, explica.
Então, a primeira dica aos adultos é o autoconhecimento. Daí em diante, há uma série de recursos que podem criar a abertura necessária para o diálogo com as crianças. Isabelle recomenda ferramentas artísticas: filmes como “Divertidamente” e livros como “Emocionário” e “Ilha das Lágrimas”. Além disso, brincadeiras e conversas informais podem servir de apoio.
Exercite a percepção das emoções
De acordo com Isabelle, é necessário exercitar o “conhecimento das emoções” como qualquer outra habilidade.
“Demonstre interesse pelo que a criança sente, faça perguntas que a deixem curiosa e permitam com quem ela se conheça melhor. Substitua o ‘Como foi hoje na escola?’ por ‘O que te deixou feliz hoje?’, ‘Teve algo que te deixou irritada?’ ou ‘Alguma coisa te deixou com medo hoje?’. Caso ela tenha dificuldade em responder, dê sugestões, exemplos e fale de você”, sugere a psicóloga.
Nesses momentos, é importante ajudar a criança a dar nome ao que está sentindo. Adicionar palavras ao repertório infantil é essencial. Por exemplo, explicar que a vontade de chorar pode ser traduzida pela palavra “tristeza” ou que a dificuldade de respirar se chama “medo”.
Fale dos seus sentimentos e acolha a criança
Isabelle aconselha que os adultos relatem o que sentiram ao longo do dia, mostrando que falar sobre os sentimentos é algo positivo e normal. E, sobretudo, é preciso acolher as crianças.
“Não julgue ou duvide das respostas dela. Pelo contrário: elogie e estimule. Uma criança que sabe falar o que sente tem menores chances de desenvolver psicopatologias como a depressão e ansiedade, tem uma autoestima mais elevada, um melhor desempenho escolar e futuramente uma vida profissional e familiar com relações mais honestas, saudáveis e felizes”, finaliza.