Depois de passada a fase inicial, quando há maior risco de perda gestacional, começamos a curtir mais intensamente a gravidez, mas a pergunta que sempre vem à cabeça da maioria dos pais – e não era diferente conosco! – era: “Será que meu bebê apresenta alguma malformação?”.
Atualmente, os exames durante o pré-natal são capazes de diagnosticar centenas de doenças, desde síndromes cromossômicas – como a de Down – até outras pequenas malformações, como pé torto ou lábio leporino. Há testes de sangue colhidos no início da gestação que já podem fazer diagnóstico de anomalias cromossômicas no feto, assim como outros mais invasivos, a exemplo da biópsia do vilo corial ou da amniocentese – neste último caso, retira-se uma amostra do líquido amniótico. Mas o exame mais utilizado para o rastreamento de enfermidades cromossômicas e diversas alterações são as ultrassonografias morfológicas. Os demais exames têm indicação precisa apenas para casais com maior risco.
O ultrassom morfológico do primeiro trimestre deve ser realizado entre 11 semanas e 13 semanas e 6 dias. Nesse exame, é possível avaliar o risco de síndrome de Down (e outras síndromes) baseado na translucência nucal, que é a medida da nuca do feto. De acordo com essa medida mais chance inicial da síndrome em razão da idade materna, é calculado o risco do bebê apresentar alguma alteração.
A translucência é normal com valores abaixo de 2,5 mm e quanto maior for a medida acima de 2,5mm, maior o risco do bebê ter algum distúrbio cromossômico. Dos casos de síndrome de Down não detectados pela translucência nucal, cerca de 50% podem ser identificados pela incorporação da medida no sangue materno da fração livre do beta-HCG e da proteína A plasmática associada à gestação (PAPP-A). Esses exames podem ser dosados antes, durante ou após a ultrassonografia, desde que respeitado o intervalo entre 9 e 13 semanas.
Por exemplo, uma mulher de 35 anos tem chance inicial de ter um bebê com Down de 1 para cada 380 nascimentos. Ao fazer o ultrassom, se a medida da translucência nucal for normal esse risco diminui. O ultrassom não exclui nem confirma a síndrome, mas pode afastar a chance e o casal ficar mais tranquilo – ou pode mostrar que o risco é maior e, nesse caso, prosseguir a investigação para confirmar ou excluir a alteração com exames mais invasivos.
No nosso caso, minha esposa tem 32 anos e a transluscência foi baixa. O risco calculado foi de 1 caso para 2 mil nascimentos. Agora, mesmo sabendo que ainda há boa parte da gestação pela frente, pudemos relaxar e curtir mais intensamente a gravidez e o crescimento da nossa pequena Giovanna que vem aí.
Se o obstetra já fica ansioso para cada gestante que está acompanhando, imagina quando a gestação que acompanha é da própria esposa? Confesso que estou quase levando o ultrassom para casa, mas tento não demonstrar tamanha ansiedade.
No próximo texto, falarei sobre o papel do pai nessa fase da gravidez. A mulher muda fisicamente e emocionalmente e o parceiro deve saber lidar com esse turbilhão de hormônios, alterações de humor e sintomas físicos.
É graduado em medicina pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (SOGESP), co-autor/colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da SBRH e autor do livro ”Ginecologia e Obstetrícia – Casos clínicos” (2013). É diretor clínico e sócio-fundador da clínica de reprodução humana Mater Prime, de São Paulo.