Metade pai, metade obstetra: como eu me sinto
Vivenciar as descobertas da paternidade, mas também usar os conhecimentos técnicos para ajudar a esposa. Médico fala sobre a sua experiência.
Enquanto a gestação da minha esposa Renata avança e chega na 31ª semana (7º mês), me vejo sempre no dilema entre a razão de dar todas as orientações médicas como obstetra e a emoção de conviver com todo esse universo, pois é a primeira vez que fico todos os dias por muitas horas com uma única gestante.
Então, consigo perceber todas as dificuldades para manter à risca as orientações, ao mesmo tempo em que comprovo muito do que está escrito nos livros de obstetrícia. Como exemplo, vou falar sobre um sintoma comum na gestação: refluxo gastroesofágico.
Durante a gravidez, o trato gastrointestinal é mais lento e o tempo de digestão é mais longo, causando constipação, azia e refluxo. Esses sinais e sintomas estão escritos em qualquer livro de medicina.
Mas a convivência com uma grávida que sente “queimação” todos os dias, que acorda no meio da madrugada com refluxo, que tem que dormir quase sentada para amenizar os sintomas, me fez ficar mais sensível a todas minhas outras pacientes.
As recomendações como obstetra continuam as mesmas: comer pouca quantidade e fracionar mais as refeições, evitar deitar antes de 2 horas após se alimentar, tirar os alimentos gordurosos e de difícil digestão do cardápio. E, quando apenas essas medidas não surtirem efeitos, usar medicamentos que amenizam o problema.
Mas como marido, eu entendo que não é tão simples. Vejo minha esposa seguindo todas as orientações, utilizando os remédios permitidos e, mesmo assim, os sintomas permanecem. Nesse momento, deixo meu lado obstetra e apenas sou marido e pai da Giovanna, tentando dar conforto e transmitindo meus sentimentos.
É graduado em medicina pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (SOGESP), coautor/colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da SBRH e autor do livro ”Ginecologia e Obstetrícia – Casos clínicos” (2013). É diretor clínico e sócio-fundador da clínica de reprodução humana Mater Prime, de São Paulo.