O combate à obesidade é, atualmente, uma das principais prioridades na área da saúde em todo o mundo. Uma luta que impacta não só políticas públicas, mas também o dia a dia e hábitos do cidadão comum. Mas é fundamental ter muito cuidado quando o assunto são as crianças e os adolescentes, pois dietas restritivas, visando controlar ou perder peso, podem ser perigosas nestas faixas etárias. Nesse caso, devem ser realizadas com supervisão de um profissional de saúde, uma vez que esta é uma fase de crescimento e desenvolvimento e as dietas devem ser desenhadas cuidadosamente para não trazer consequências negativas.
Deve-se também ter atenção aos perigos que a busca desenfreada por perda de peso ou a obsessão por não engordar podem causar. As consequências mais comuns, atualmente, são doenças tão graves quanto a obesidade, como os distúrbios alimentares, anorexia, bulimia, baixa estatura, entre outras. No que se refere à fase infantil, o cuidado deve ser ainda maior!
Quem não se lembra das tradicionais frases citadas aos filhos na hora das refeições em família: “Limpa o prato ou não sai da mesa!”, “Só mais três colheradas!”, “Se comer tudo ganha um presente!”. Pois é, acreditando que estão cuidando da saúde dos pequenos, na verdade os pais não têm noção de que atitudes como estas podem contribuir – a médio e a longo prazo – para dificultar o controle de peso e a prevenção da obesidade. Explico: ao fazer essas imposições às crianças, o que acontece é que os pais estão interferindo na oportunidade de autoconhecimento dos filhos em entenderem os limites e os mecanismos de fome e saciedade do seu organismo.
Não se pode “premiar” se ele comer tudo, pois se passa o conceito de que comer é castigo, é coisa ruim e o prêmio algo positivo.
Agindo dessa forma, os adultos impedem o conhecimento da criança das quantidades que levam à satisfação, favorecendo o aparecimento da falta de controle do que realmente é suficiente às suas necessidades, o que é uma causa importante do sobrepeso e da obesidade.
Essa é a essência, a base da chamada “educação alimentar”. Há que se entender que é possível comer de tudo, de tudo mesmo, sem especificidades. Pois o grande segredo é o equilíbrio.
Dietas restritivas focadas em ingredientes específicos, como por exemplo, aquelas que pregam a total eliminação de açúcares, glúten, lactose, gordura, entre outros, não só são soluções superficiais, como para as crianças podem prejudicar o desenvolvimento e o crescimento se praticadas sem uma justificativa clínica real. As crianças, até mais que os adultos, precisam de uma alimentação variada e balanceada, desenvolvendo assim hábitos alimentares saudáveis. Não se pode transferir tratamentos nutricionais de adultos para crianças.
No caso de crianças obesas, também é recomendado cautela ao enfatizar demasiadamente a restrição de certos alimentos. Na maioria absoluta das vezes, não é aconselhável cortar ingredientes ou alimentos específicos.
Então qual é a solução? Implementar uma dieta com redução calórica gradativa, sem ênfase a restrições específicas. Deve-se ter cuidado especial para assegurar a ingestão de micronutrientes (ferro, zinco, vitaminas A e D, por exemplo) em quantidades adequadas. E tudo deve ser feito sempre com o acompanhamento de um profissional de saúde habilitado em manejo nutricional (pediatra ou nutricionista).
Outro aspecto fundamental é estimular a prática de atividades físicas na criança. Descubra o que dá prazer para ela: andar de bicicleta, fazer um esporte, correr no parque e assim por diante.
É urgente entender que as dietas mais inteligentes e eficazes são as que determinam comer de forma diversificada, pois todos os alimentos têm contribuições nutritivas e funções para o bom desenvolvimento da criança e o funcionamento do organismo. O grande segredo é muito simples: equilíbrio, educação alimentar e atividade física. Esse também é um dos principais caminhos para se prevenir e combater a obesidade no futuro.
É pediatra especializado em gastroenterologia e nutrologia, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fellow em Nutrologia Infantil pela Universidade de Cornnel, em New York, e coordenador e pesquisador do Centro de Pesquisa Fima Lifshitz da UFBA