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Por Coluna
Camila Queres é educadora infantil e mãe de Bento e de Joaquim. Tem pós-graduação em Gestão e Educação e hoje está no comando do berçário Toddler, em São Paulo
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Todas as crianças se desenvolvem de forma diferente, inclusive as autistas

Educadora ressalta como estar atento às peculiaridades dos pequenos é importante para estimular os processos de aprendizagem. Confira!

Por Da Redação
2 abr 2018, 18h40

Na escola, distantes dos pais, as crianças têm a oportunidade de se comportar livremente, de se descobrirem como indivíduo. Não à toa muitos pais se assustam ao saber que os filhos comem sozinhos, dormem sem colinho, mordem os coleguinhas e, dependendo da idade, contam histórias fantasiosas, pequenas mentirinhas. As educadoras observam as preferências, a forma como os baixinhos interagem entre si, descobrindo, aos poucos, aqueles que tendem a ser mais tímidos, mais agitados, aqueles que se concentram mais e aqueles que se dispersam mais facilmente.

Sob o olhar da especialista, os pequenos revelam habilidades e dificuldades variadas. O diálogo com a família surge, então, como ponto crucial para a estimulação e o desenvolvimento da criança. Em alguns casos, quando as dificuldades aparecem de forma muito latente, a escola pode recomendar o acompanhamento por outro especialista. Psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, odontopediatras e terapeutas ocupacionais passam, assim, a atuar em parceria com a família e a escola. Vale ressaltar que todas as crianças revelam dificuldades em maior ou em menor grau. Mas alguns desses obstáculos são encarados como sintomas que, quando combinados, conduzem a diagnósticos. A falta de contato visual, de interação com outras pessoas, a repetição persistente de movimentos e palavras são sinais que, em conjunto, podem revelar um quadro de autismo. Esse é o fim do mundo? Não! Não é.

Como trabalho diretamente com a primeira infância, já acompanhei de perto o momento da descoberta, quando a família começa a perceber diferenças de comportamento, um ritmo distinto de aprendizagem. Muitas vezes, as observações da educadora são recebidas com certo descrédito. É o amor que nos cega, a negação. Com o tempo e a persistência da escola, o pediatra é consultado e outros especialistas são envolvidos. Os diagnósticos de autismo são demorados e, nem sempre, tão precisos quanto os pais gostariam.

Nos primeiros anos de vida, ainda não se sabe ao certo quais serão as limitações da criança – se é que existirão limitações! Em todos os casos que acompanhei, a família e a escola conseguiram estimular de forma adequada e os progressos foram muito mais evidentes. Sem a negação, os caminhos da aprendizagem se abrem e o pequeno começa a se desenvolver de forma saudável, no seu ritmo.

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Mas, afinal, não deveria ser assim com todas os baixinhos, sendo ou não autistas? Em sala de aula, é responsabilidade do educador diferenciar suas estratégias de ensino para que todos sejam capazes de aprender. Há alunos mais visuais, outros mais auditivos, outros que precisam se movimentar, outros que requerem um maior número de repetições etc. Como qualquer outro aprendiz, o autista precisa ser reconhecido em suas peculiaridades, para que possa aprender da melhor maneira possível.

Alguns leitores devem estar pensando, “claro que aprendem, muitos autistas são inteligentíssimos”. Verdade, mas, quando falo de aprender, vou além dos conteúdos disciplinares. Saber como tocar, a se deixar tocar, a olhar nos olhos, a se abrir para as relações sociais, a comunicar seus sentimentos. Esses aprendizados são tão ou mais importantes para o autista do que os conceitos matemáticos. No espaço da escola, no convívio com os colegas de classe e com os adultos, ele compreende sobre si mesmo e sobre o outro. Quando há progresso nos aspectos socioemocionais, há também melhora na capacidade de expressão, na aprendizagem como um todo. Bom, mas isso vale para todas as crianças, certo?

Os desafios para os autistas podem ser maiores, mas, como qualquer outra criança, quando se sentem confiantes, seguros e compreendidos, eles aprendem, desenvolvem-se e criam vínculos afetivos. É a descoberta de um mundo novo, repleto de possibilidades e conquistas. Com mais atenção e cuidado do que muitos pais fariam, você descobrirá as preferências, as habilidades e as dificuldades do seu filho, estará atento para ensinar sobre as relações, para estimular o ganho de autonomia. Cada criança é um universo particular. Você recebeu um convite para conhecer mais de perto o universo do seu filho, entre com cuidado e se faça bem-vindo!

Camila Queres

É educadora infantil e mãe de Bento, de 2 anos, e de Joaquim, de 1. É formada em Letras pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e tem pós-graduação em Gestão e Educação. Trabalhou na Escola Britânica do Rio de Janeiro e na Chapel School, em São Paulo. Hoje está no comando do berçário Toddler Desenvolvimento Infantil

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