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“O Outro Lado do Paraíso”: os riscos da amamentação cruzada

Em uma cena da novela, a mãe foi informada pelo médico que não tinha leite materno suficiente e, por isso, outra pessoa deveria amamentar o seu filho.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 mar 2018, 19h54 - Publicado em 28 mar 2018, 19h33

Na última terça-feira, 27, uma cena da novela “O Outro Lado do Paraíso“, da Rede Globo, causou polêmica. Isso porque a personagem Karina (Malu Rodrigues) recebeu orientações equivocadas do médico Samuel (Eriberto Leão) depois de dar à luz. A mãe foi informada pelo profissional que não tinha leite materno suficiente e, por isso, outra pessoa deveria amamentar o seu filho.

Apesar de ser um conteúdo de ficcção, esse tipo de mensagem atinge grande parte da população, que acaba seguindo as mesmas dicas. Nesta quarta-feira, 28, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou uma nota de esclarecimento sobre o caso, reforçando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde não recomendam a amamentação cruzada, ou seja, quando uma mulher amamenta o bebê da outra.

Em entrevista ao Bebê.com.br, Moises Chencinski, médico membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo, criador e incentivador do movimento “Eu Apoio o Leite Materno”, também falou dos riscos que a prática oferece. “AIDS, hepatite B e outras patologias podem ser transmitidas pelo leite materno. Existe uma janela imunológica de 2 a 3 meses: mesmo que a pessoa faça o exame e o resultado dê negativo, ela pode estar contaminada”, ressalta.

É claro que ninguém está questionando a generosidade do ato: oferecer para outro pequeno um alimento tão completo quanto o leite materno é, sim, uma demonstração de solidariedade. Mas dar de mamar a uma criança que não é o sua pode trazer inúmeras complicações e a forma mais segura para ajudar outros pequenos é procurar um banco de doação. “Depois de receber o leite, ele passará por análises, eventualmente será pasteurizado e depois oferecido para outros bebês que precisam – como os prematuros“, pontua o pediatra.

Também é importante destacar outro fator: mesmo que a mulher que faça a amamentação cruzada não esteja doente, ela pode estar tomando medicamentos que interferem na qualidade do leite. O acompanhamento do médico, que avaliará todas essas questões com a mãe, é essencial. “Busque a ajuda de pediatras que incentivam o aleitamento materno. Os bancos de leite fornecem informações e é possível procurar apoio emocional em grupos de mães”, orienta Moises.

Existe leite fraco?

Não. Não existe leite fraco! Quando tudo está fluindo bem, o organismo produz a quantidade necessária para suprir todas as necessidades nutricionais do bebê. Na cena da novela, em nenhum momento o médico fala sobre o que estaria impedindo a mãe de amamentar – como, por exemplo, uma doença, a pega incorreta ou alguma má formação da criança – e a falta de apoio é evidente.

“O bebê acabou de nascer e o leite que ele vai mamar é o colostro. No primeiro dia de vida, cabe no estômago dele 5 mL por mamada. A mulher precisa ser estimulada para amamentar e se sentir acolhida. Durante esse momento da novela, a mãe praticamente não fala, enquanto todos estão dando palpites, dizendo que ela não tem capacidade para alimentar o seu filho e discutindo o que vai ser feito”, destaca o pediatra de São Paulo.

O profissional explica, ainda, que esse colostro é produzido nos primeiros sete dias de vida da criança. Entre o 7º e o 30º dia, ela se alimenta do leite de transição. Passado esse período, o bebê passa a mamar o leite maduro. E é importante que ele seja oferecido em livre demanda, isto é, quando o bebê solicitar. Isso é o que mais ajuda na produção do leite materno.

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Moises Chencinski faz questão de deixar um alerta para os pais: “Não existe leite forte ou fraco. Em determinado momento, pode ter uma disfunção por alguma característica específica do contexto – como pega inadequada ou presença de freio lingual curto. Mas só tem um jeito de resolver essa questão: vendo a mãe amamentar e detectando os possíveis problemas. Isso é feito ainda na maternidade e na primeira consulta com o pediatra”.

 

 

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