Mais do que fortalecer o vínculo entre mãe e filho, dar de mamar na primeira hora de vida do recém-nascido é fundamental para a sobrevivência do pequeno que acabou de chegar ao mundo. “O leite materno é a primeira vacina do bebê, a primeira e melhor proteção que ele vai receber contra doenças e infecções”, assegura France Bégin, conselheira sênior em nutrição do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). “Os recém-nascidos representam metade de todas as mortes de crianças com menos de 5 anos de idade, e a amamentação precoce pode fazer diferença entre a vida e a morte”, complementa Bégin.
E não são poucas as crianças que deixam de se alimentar do leite da mãe assim que deixam a barriga. Em um pronunciamento feito no último dia 29 de julho, a Unicef divulgou que 77 milhões de bebezinhos (um pouco menos que toda a população da Alemanha) não são colocados para mamar no peito nos primeiros 60 minutos neste mundo. “Fazer os bebês esperarem muito para ter o primeiro contato com a mãe fora do útero diminui as chances de eles sobreviverem, limita a oferta de leite e reduz a probabilidade de amamentação exclusiva”, alerta a consultora em nutrição.
Segundo a entidade, foram feitos muitos esforços nos últimos 15 anos para aumentar o número de crianças amamentadas, mas os resultados ainda estão bem aquém do desejado. Em países do Leste e do Sudeste da África, esse índice cresceu 10%; já em nações do Oeste e do Centro do continente africano, as taxas permaneceram estáveis. Até mesmo no Sul da Ásia, onde triplicou o número de bebês em aleitamento na primeira hora de vida, a situação ainda é preocupante: 21 milhões de recém-nascidos não contam com esse benefício.
Maior risco de morte
De acordo com a Unicef, adiar de 2 a 23 horas a primeira mamada do pequeno aumenta em 40% a probabilidade de ele morrer ao longo do primeiro mês de vida. Se o bebê não mamar nas primeiras 24 horas em que estiver no mundo, esse número sobe para 80%.
Crianças que nunca chegam a abocanhar o peito da mãe estão sete vezes mais propensas a morrer de doenças infecciosas em relação àquelas que tomam leite materno nos primeiros 6 meses de vida. E, para se ter uma ideia, globalmente, apenas 43% dos baixinhos se alimentam em regime de aleitamento exclusivo até o sexto mês, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Falta de orientação
Análises da Unicef mostram que muitas mulheres não recebem a ajuda necessária ao começarem a amamentar, mesmo quando são atendidas por um médico, uma enfermeira ou uma doula. Inclusive, identificou-se que, no Oriente Médio, no Norte da África e no Sul da Ásia, as mamães têm menos chances de dar de mamar quando atendidas por um profissional.
Outro fator que atrapalha a amamentação na primeira hora de vida, de acordo com a Unicef, é a oferta de fórmulas, leite de vaca ou água com açúcar ainda nos primeiros três dias de vida da criança. “Quase metade de todos os recém-nascidos são alimentados com esses líquidos”, revela a entidade, em nota. Às vezes, não é possível mesmo dar o leite materno ao bebê. Mas, até que seja necessário desistir, é preciso ter paciência – e nunca tomar decisões sem o aval de do pediatra!