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Cientistas descobrem molécula que é um dos “segredos” do leite materno

O achado ajuda a explicar por que o leite da mãe tem benefícios que a fórmula láctea não consegue replicar, e pode ajudar a melhorar substitutos no futuro.

Por Chloé Pinheiro
1 set 2020, 15h53

Um dos principais trunfos do leite materno é seu papel na construção de uma microbiota intestinal saudável, o conjunto de micro-organismos que vive no intestino e, hoje se sabe, regula diversas funções do corpo humano, principalmente o desenvolvimento do sistema imunológico na primeira infância. 

O que ainda não se sabe é o mecanismo por trás desse benefício, e isso dificulta a replicação de tal efeito numa fórmula láctea utilizada por bebês que não podem ser amamentados pela mãe. 

Pois bem, cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, descobriram recentemente que uma molécula específica, a alarmina, parece ter papel importante na colonização do intestino e, portanto, influencia positivamente na construção das defesas do recém-nascido. O achado, publicado no periódico Gastroenterology, vem de pesquisas feitas com bebês e testes com roedores.

O que é a alarmina

A alarmina é uma molécula produzida pelo corpo humano durante a vida e presente em grandes quantidades no leite materno. Ela está relacionada com os processos inflamatórios, naturalmente desencadeados pelo corpo para se proteger de uma ameaça, como um vírus, ou se recuperar de um machucado. 

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Em excesso, pode levar a problemas de saúde, mas parece importante no início da vida. Por conta disso, os pesquisadores resolveram investigar como ela atua especificamente na microbiota intestinal. 

“Demonstramos que essas proteínas previnem desequilíbrios na formação da microbiota, que podem levar a infecções sanguíneas e inflamações intestinais”, declarou em comunicado à imprensa a pediatra Dorothee Viemann, uma das autoras do trabalho, professora na universidade alemã. 

Como o estudo foi feito 

Primeiro, foram coletadas amostras de fezes durante o primeiro ano de vida de 72 bebês nascidos a termo e 49 prematuros, para medir tanto a qualidade da microbiota intestinal quanto o nível de alarmina presente no organismo dos pequenos. As crianças também foram acompanhadas por mais um ano para determinar a incidência de infecções e o desenvolvimento delas. 

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Entre os que apresentavam níveis altos de alarmina nas fezes (que só poderiam vir do leite materno, principal fonte do composto nessa fase da vida), a presença de bactérias consideradas saudáveis no intestino, como as bifidobactérias, era maior. Por outro lado, as ligadas a doenças, como as enterobactérias, foram pouco encontradas. 

O grupo com mais alarminas também estava menos sujeito a ter obesidade ou sepse (infecção generalizada que pode ser fatal) aos dois anos de vida. Ao comparar as amostras dos pequenos com biópsias do intestino de adultos, os pesquisadores viram que, conforme o bebê crescia, seus teores de alarmina ficavam semelhantes aos dos mais velhos, confirmando a potencial ação nos primeiros meses de vida. 

Para verificar se o teor da alarmina teria mesmo alguma relação com os achados positivos, a molécula foi aplicada em roedores recém-nascidos. Nessa etapa, os cientistas descobriram que eles também apresentavam uma microbiota mais saudável e tinham menos risco de doenças associadas a seus desequilíbrios depois de uma única dose do composto. 

“É possível que a suplementação dessas proteínas proteja os recém nascidos que não produzem ou não obtêm alarminas do leite materno, o que poderia prevenir uma série de doenças em longo prazo”, concluiu Viemann. 

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