O aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida, sem fórmulas ou outros alimentos, pode reduzir em 25% o risco de obesidade ainda na infância. O dado vem da Organização Mundial de Saúde, que divulgou no último Congresso Europeu de Obesidade um grande levantamento sobre o tema, feito com mais de 30 mil crianças em 16 países da Europa.
Por outro lado, crianças que não foram amamentadas ou que tomaram o leite da mãe por menos de seis meses estavam mais propensas a serem obesas entre os seis e nove anos de idade — 16% delas enfrentavam o problema, enquanto entre as que foram alimentadas só com o peito a incidência ficou em 9%. Há várias explicações para esse efeito positivo.
Por exemplo, o aleitamento materno atrasa a introdução de comidas sólidas, que podem ser mais calóricas e inapropriadas para essa fase da vida, além de estar relacionado a um hábito alimentar saudável. “O sabor do leite materno, que varia a cada mamada, faz com que o bebê alimentado tenha, segundo pesquisas, o paladar mais variado e maior facilidade de aceitação de verduras, frutas e legumes depois”, comenta Mônica Carceles Fráguas, pediatra neonatologista e coordenadora do Berçário da Maternidade Pro Matre Paulista.
As fórmulas lácteas, usadas como substitutas, podem facilitar ainda o aumento do tecido adiposo no organismo. “Quando nos alimentamos, a insulina, hormônio que atua no acúmulo de gordura, sobe normalmente, mas a fórmula parece provocar uma elevação maior nesses níveis”, explica Monica.
Outros fatores de risco para a obesidade infantil
A obesidade infantil é um problema de saúde pública em todo o mundo, e há outros fatores de risco já conhecidos para ela além do aleitamento artificial. Entre eles, o cardápio da família, que não deve exagerar nas gorduras e carboidratos de má qualidade, como os dos alimentos ultraprocessados. “Outro fator é a prática reduzida das atividades físicas, porque hoje as crianças perderam o hábito de correr e brincar ao ar livre, e passam mais tempo nos dispositivos eletrônicos”, destaca a pediatra.
Amamentação e obesidade na vida adulta
Uma equipe da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, estuda há algum tempo os efeitos mais duradouros da amamentação exclusiva. Em 2018, o grupo publicou um estudo que indica que ela pode impactar bem mais tarde, aos 30 anos de idade. Mais de 3.700 adultos e seus registros de aleitamento e saúde foram analisados.
Entre os achados, o de que o leite materno estava associado à diminuição na camada de gordura visceral, a mais danosa para a saúde, e ao aumento da massa magra no corpo. Outra constatação é a de que o leite materno poderia até moderar a expressão de um dos genes ligados à obesidade, o FTO, o que ajudaria a reduzir o risco da doença aparecer.
Os resultados positivos, divulgados no periódico Science Reports, da Nature, ainda precisam ser confirmados por mais estudos. Enquanto isso não ocorre, vale lembrar que o fato de tomar fórmula não é uma sentença de falta de saúde para o filho. Outros fatores, como a educação alimentar, o nível de atividade física e o comportamento familiar contam muito para o controle do peso e o organismo do bebê como um todo.
“Tomar fórmula artificial não significa que a criança será obesa”, destaca Mônica. Se isso for inevitável, uma alternativa pode ser o aleitamento misto, com um pouco de leite materno, e o acompanhamento periódico do peso da criança com um pediatra de confiança. “Evitar a oferta excessiva de carboidratos, como pães, bolachas, sucos industrializados e estimular brincadeiras ao ar livre também são medidas que ajudam a manter a saúde”, encerra a médica.