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Como corrigir as chamadas “orelhas de abano” nas crianças

Fique por dentro da cirurgia plástica que corrige o problema, da técnica que é uma alternativa à operação e saiba lidar com o assunto.

Por Bruna Stuppiello (colaboradora)
Atualizado em 20 jan 2017, 12h45 - Publicado em 29 Maio 2015, 11h51

As orelhinhas proeminentes são motivos de preocupação para muitos pais. Não é para menos. “Elas atraem uma atenção negativa para a criança, ao gerar brincadeiras e olhares maldosos”, explica o psicoterapeuta Walter Poltronieri, da Universidade de São Paulo (USP).

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O problema pode ser resolvido com uma cirurgia plástica chamada otoplastia, mas é preciso calma para decidir se o procedimento deve, de fato,  ser realizado e para definir o momento mais adequado. A idade é um dos fatores a serem considerados. “A criança pode ser submetida à correção a partir dos seis anos porque, após essa idade, o crescimento da orelha já não será tão significativo”, conta o cirurgião plástico Sérgio Almeida, do Hospital e Maternidade Santa Joana, na capital paulista.

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O pré-requisito mais importante, porém, é a vontade da criança. O desejo dos pais não é suficiente. “Muitas vezes, quem está incomodado não é o pequeno, mas sim a família, que não aceita a diferença do filho”, conta a psicóloga Maristela Boldo Favaron, do Hospital e Maternidade São Cristovão, em São Paulo.  Há casos em que as crianças se sentem bem com a sua aparência e não se abalam com os comentários sobre as orelhas. “Isso geralmente acontece quando a personalidade é tão marcante que o baixinho não se deixa afetar pela ditadura da aparência. São exemplos que os pais deveriam aprender com o filhos”, opina Poltronieri.

A iniciativa dos pequenos de passar pela cirurgia também é essencial para que o procedimento seja bem-sucedido. Por isso, é unanimidade entre os cirurgiões plásticos que a otoplastia só deve ser realizada sob esta condição. “Assim, a criança vai estar motivada e, consequentemente, irá colaborar com os médicos”, explica o cirurgião plástico Roberto Menezes Zatz, do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. “No pós-operatório, por exemplo, ela certamente vai cuidar das orelhas e evitar brincadeiras que possam causar traumas”, cita o médico.

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Antes da cirurgia
Quando estão insatisfeitas com a aparência, as crianças não necessariamente falam sobre o assunto, mas manifestam algumas pistas não verbais, às quais os pais devem ficar atentos. “Ela fica retraída, não quer ir para a escola nem brincar. Sem contar que procura esconder as orelhas, usando o cabelo comprido ou um boné”, descreve Poltronieri.

Uma vez que é tomada a decisão pela otoplastia, os pais podem esclarecer  o procedimento, de forma lúdica, ao filho. “A explicação pode ser feita com a ajuda de bonecos, mostrando no brinquedo o que será feito. O importante é que os pais transmitam tranquilidade”, conta Favaron.

Antes da otoplastia, é importante que a criança se consulte com o cirurgião plástico e com o anestesista. Estes profissionais irão solicitar, com base no histórico do paciente, os exames pré-operatórios necessários. “A probabilidade de algo sair errado diminuem quando são feitas avaliações com bons profissionais”, ressalta a anestesista Monica Siaulys, do Hospital e Maternidade Santa Joana.

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A anestesia
A sedação aplicada é a geral, devido à pouca idade dos pacientes. “O adulto suporta melhor alguns desconfortos do procedimento, já a criança pode ficar inquieta. Além disso, para fazer a anestesia local, precisamos puncionar uma veia e há crianças que sentem medo”, justifica o anestesista Enis Donizetti Silva, diretor científico da Sociedade Brasileira de Anestesiologia.

No pré-operatório, o recomendável é que o paciente fique entre seis e oito horas em jejum de alimentos sólidos e duas horas sem beber água. Os especialistas defendem que os riscos de uma anestesia geral diminuíram muito em relação às décadas passadas. “Os métodos aplicados, os equipamentos e materiais utilizados estão mais seguros, atualmente, as complicações de causa anestésica são raras”, garante o anestesista Arthur de Campos Vieira Abib, do Hospital e Maternidade São Luiz. O tempo de duração do efeito anestésico é apenas um pouco maior do que o da cirurgia.

Entenda a otoplastia
A otoplastia tem como objetivo restabelecer a anatomia das orelhas e o posicionamento delas em relação ao crânio. São feitas incisões somente na face posterior das orelhas e, por isso, o paciente não fica com cicatrizes aparentes. “Realizamos um corte vertical comprido e retiramos um pedacinho responsável pela aparência de abano. Além disso, esculpimos a área restante, dando pontos”, conta o cirurgião plástico Felipe Lehmann Coutinho, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (Regional São Paulo).

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A otoplastia pode durar entre uma e duas horas. Como se trata de um procedimento estético, não é coberto pelo plano de saúde e o custo varia entre 3 e 12 mil reais. De acordo com uma pesquisa do Datafolha, anualmente são feitas 9183 cirurgias plásticas estéticas em crianças de até 12 anos.

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Os riscos da operação são mínimos, sendo que o principal deles é a recidiva do abano. “Isto pode ocorrer em 30% dos casos, pois os pontos são dados na cartilagem e, às vezes, se soltam. Consequentemente, a cirurgia precisa ser refeita”, afirma Coutinho. A cautela no pós-operatório previne esse inconveniente.

O pós-operatório
O paciente costuma deixar o hospital no mesmo dia da otoplastia. É feito um curativo compressivo na cabeça, com aspecto similar ao de um capacete. Nos primeiros dias, a criança pode sentir dor, mas ela é contornável com os analgésicos habituais.

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É importante que o pequeno evite a exposição ao sol por pelo menos um mês, já que o calor intensifica o inchaço. Durante dois meses, ele não deve praticar esportes que podem causar traumas nas orelhas, como o futebol.

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Tratamento sem intervenção cirúrgica
Uma técnica desenvolvida no Japão oferece a possibilidade de correção das orelhas de abano, dispensando a intervenção cirúrgica. Mas, ainda não há comprovação científica de que o método funcione.

Ele consiste em fazer uma modelagem das orelhas do bebê. “Usamos uma cola especial que fixa a orelha à mastoide – a região localizada na parte posterior do osso temporal. Em seguida, são feitos moldes com algodão e pó de gesso que fazem toda a modelagem das dobras da orelha. Tudo é fixado com uma bandagem de microporos”, explica o médico Alexandre Piassi Passos, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

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O bebê deve ficar com os curativos, que são trocados quando necessário, por um período de dois meses. O cirurgião plástico Alexandre Passos afirma que desde 2007 já realizou 115 procedimentos deste tipo e que, em 85% deles, obteve a reversão total da orelha de abano. Em cerca de 15%, a correção foi  parcial, de acordo com ele.

A técnica é indicada para bebês até seis meses de vida. “A sensação que temos é que, nessa fase da vida, a cartilagem é mais mole, logo pode ser modelada com maior facilidade. Mas, trata-se apenas de uma hipótese”, diz Passos.

Segundo o médico, quanto mais jovem for o bebê, maiores as chances de o procedimento ser bem-sucedido. A técnica pode ser aplicada em recém-nascidos de 20 dias. Outro ponto que desencoraja o tratamento em crianças mais velhas é que elas desenvolvem a capacidade de tirar os curativos.

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