Como a pressão alta pode impactar a fertilidade masculina desde cedo
Entenda mais sobre como a saúde do homem impacta a fertilidade do casal e quais medidas e tratamentos necessários para melhora

A pressão alta, um problema de saúde bastante conhecido, pode afetar a fertilidade dos homens mais cedo e de forma mais duradoura do que se imaginava. Uma pesquisa recente feita pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mostrou que a pressão alta pode começar a causar mudanças no sêmen ainda na juventude e esses efeitos podem ser permanentes. Isso pode diminuir a qualidade do material genético masculino e dificultar a capacidade de ter filhos ao longo da vida.
Descobertas precoces: o início do impacto nos gametas masculinos
O estudo, liderado pelo professor Stephen Rodrigues, analisou os efeitos da pressão alta em ratos que desenvolvem essa condição naturalmente (chamados de SHRs – Spontaneously Hypertensive Rats), em diferentes idades. Os resultados mostraram que os danos causados pela pressão alta não aparecem só na vida adulta, mas já começam logo nas primeiras fases da vida dos animais. Esses prejuízos afetam principalmente a quantidade de células reprodutivas masculinas e uma estrutura chamada acrossoma, que é essencial para que o espermatozoide consiga entrar no óvulo. Por isso, cuidar da saúde desde cedo é muito importante.
Consequências duradouras na fertilidade: acúmulo de danos ao longo do tempo
A análise realizada, que considerou diferentes fases da vida dos animais estudados, mostrou que os danos à capacidade reprodutiva aumentam com o tempo. Mesmo exposições breves a níveis elevados de pressão arterial podem causar alterações permanentes. Esses efeitos são especialmente evidentes no fluido seminal, onde se verifica uma redução na quantidade de células reprodutivas masculinas e danos na estrutura chamada acrossoma, essencial para a fertilização. Os resultados indicam uma forte relação entre a pressão arterial alta e a qualidade do fluido seminal, sugerindo possíveis impactos negativos na fertilidade masculina.
Tratamentos atuais e novos horizontes: o papel dos fármacos
Os pesquisadores também avaliaram o impacto de diferentes medicamentos para pressão alta na qualidade do sêmen. Medicamentos comuns, como losartana e prazosina, foram testados para verificar se poderiam reduzir os danos causados pela hipertensão. A losartana ajudou a controlar a pressão, mas não melhorou a qualidade do sêmen. Por outro lado, a prazosina, que atua de forma distinta, não só reduziu a pressão arterial como também apresentou melhora parcial dos danos no material genético masculino. Esses resultados indicam que, para preservar a fertilidade masculina, apenas controlar a pressão arterial pode não ser suficiente. Tratamentos que promovam a saúde cardiovascular e também protejam a capacidade reprodutiva podem ser mais eficazes para garantir o bem-estar do homem.
Além dos remédios: o poder da atividade física e outras ações
Além dos métodos baseados em produtos farmacológicos, o grupo de estudiosos também planeja investigar a viabilidade de iniciativas que não dependem de medicamentos, como a prática de exercícios físicos, para aprimorar a excelência do fluido seminal e resguardar a microcirculação nos testículos. O movimento corporal tem sido amplamente associado à melhoria do bem-estar do sistema circulatório e ao incremento da capacidade de procriar. A equipe do ICB-USP busca compreender se a prática de exercícios pode trazer vantagens análogas às dos fármacos no contexto da aptidão reprodutiva masculina. O propósito é verificar se ações como o movimento corporal são capazes de “oferecer benefícios naturais na melhoria da aptidão reprodutiva, sem a exigência de produtos farmacêuticos”. Esse tipo de averiguação é fundamental, considerando que muitas pessoas buscam opções orgânicas ou complementares para o manejo de condições de saúde, incluindo aspectos ligados à capacidade de gerar vida.
Um alerta global para a capacidade de procriação masculina
Este estudo destaca uma preocupação crescente com a fertilidade masculina em todo o mundo. Dados indicam que, nos últimos 50 anos, a concentração de espermatozoides no sêmen dos homens diminuiu cerca de 50%. Essa redução foi observada tanto em homens com pressão alta quanto naqueles sem o problema. As causas ainda não estão totalmente esclarecidas, e os especialistas apontam para a necessidade de mais pesquisas para compreender melhor as consequências dessa queda na fertilidade. Trata-se de uma questão urgente, já que essa tendência pode impactar significativamente a capacidade reprodutiva da população no futuro. Por isso, a investigação sobre a relação entre hipertensão e fertilidade masculina representa um avanço importante para entender os efeitos a longo prazo da pressão arterial elevada e para desenvolver estratégias que protejam a saúde reprodutiva dos homens.