APLV: tire suas dúvidas sobre a alergia à proteína do leite de vaca

Ela é o tipo mais comum de alergia alimentar e, segundo estimativas de diversos estudos, atinge 5% dos bebês e crianças de até 3 anos de idade. Saiba mais sobre o problema e os cuidados necessários.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 21 mar 2017, 18h48 - Publicado em 2 jul 2015, 08h29
MariaDubova/Thinkstock/Getty Images
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1. O que é APLV?

A sigla se refere à alergia à proteína do leite de vaca. Assim como outras alergias alimentares, ela ocorre quando o sistema imunológico reage a proteínas presentes nos alimentos por considerá-las elementos estranhos. Daí, o organismo inicia a produção de células inflamatórias e/ou anticorpos específicos (IgE) para combater as moléculas invasoras, desencadeando um processo alérgico.

Os principais fatores de risco para a APLV são a genética (crianças com pais alérgicos são mais propensas a desenvolver o problema) e a exposição precoce às proteínas do leite de vaca. Neste caso, o contato ocorre principalmente por meio das fórmulas infantis que levam o alimento em sua composição e que são oferecidas aos pequenos que não podem mamar no peito. Como o sistema imune do bebê ainda está se desenvolvendo, a probabilidade de as proteínas serem encaradas como algo nocivo e, em consequência, uma reação alérgica ser disparada, é maior. 

2. Em que fase é mais comum que a APLV apareça?

Uma das principais características desse tipo de alergia é a precocidade com que ela costuma dar as caras. O problema surge já nos meses iniciais de vida. “Em alguns casos, a APLV pode aparecer já nos primeiros dias”, revela Ana Paula Moschione Castro, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). Segundo a médica, é raro que o problema apareça após os 2 anos de idade.

3. Quais são os sintomas da APLV?

Entre os principais sinais desse tipo de alergia estão aqueles de ordem digestiva, a exemplo de falta de apetite, vômitos, diarreia e sangue nas fezes. Outros sintomas comuns são os cutâneos, que incluem urticária (placas vermelhas na pele), dermatite atópica, coceira e inchaço. Vale lembrar também dos problemas respiratórios que os pequenos alérgicos à proteína do leite de vaca costumam apresentar – entre eles estão chiado no peito, pneumonia e tosse. “E não devemos nos esquecer do inchaço de laringe e do choque anafilático, que ocorre quando falta sangue no coração devido a uma queda importante da pressão arterial”, alerta Ana Paula. Nestes últimos casos, o resultado pode ser a morte.

4. Como é feito o diagnóstico?

São necessárias diversas etapas para saber se uma criança tem mesmo a APLV. A primeira consiste em uma avaliação da história clínica do paciente para investigar, por exemplo, os sintomas, os alimentos associados ao quadro e os tipos de reação. Em seguida, são feitos exames laboratoriais para identificar a presença de anticorpos específicos para as proteínas do leite.

Se após essas duas fases a suspeita de alergia alimentar for significativa, recomenda-se retirar da dieta do pequeno os prováveis culpados pelo problema – no caso da APLV, além do leite, todos os derivados da bebida e também cosméticos e medicamentos que contenham ingredientes à base da proteína do leite de vaca (por isso, atenção aos rótulos!). Para os bebês que ingerem fórmulas, a recomendação é substituir pelas versões com proteína hidrolisada, que é melhor tolerada por conter uma molécula menor. Já as crianças que apresentaram os sintomas durante o aleitamento materno exclusivo, a amamentação deverá ser mantida, mas a lactante terá que excluir os lácteos do cardápio, porque há possibilidade de as proteínas serem transmitidas pelo leite da mãe.

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Por fim, outra etapa fundamental do diagnóstico da APLV é o teste de provocação oral (TPO), que consiste na introdução do leite na rotina alimentar do paciente em pequenas quantidades. Se a criança tiver alguma reação imediata, é confirmada a alergia. No entanto, pode ser que ela não apresente sintomas no momento do exame. Neste caso, o consumo de leite deverá ser feito em casa – sob orientação médica – e, se houver respostas significativas em até 30 dias depois do fim do teste, a APLV pode ser confirmada. 

5. A APLV tem cura?

Não há um medicamento específico que trate a APLV. A principal forma de aliviar os sintomas é seguir uma dieta livre dos itens que provocam a alergia. A boa notícia é que a maior parte dos casos tende a desaparecer até os 5 anos de idade. “Em algumas situações, é possível fazer com que o paciente se torne tolerante à proteína do leite de vaca por meio de técnicas de dessensibilização, nas quais busca-se uma maior aceitação a partir da introdução de pequenas quantidades do alimento”, conta a diretora da Asbai.

6. A criança com APLV pode apresentar outros tipos de doença?

Sim. Devido às características genéticas da alergia, os pequenos com APLV são mais propensos a desenvolver, por exemplo, dermatite atópica, asma e rinite. 

7. Bebês com APLV também podem apresentar alergia à soja?

Pesquisas apontam que as reações adversas a essa leguminosa ocorrem entre 10% e 35% dos pacientes com APLV. Assim como o leite, a soja é rica em proteínas, que podem ser encaradas como uma ameaça pelo sistema imune ainda imaturo do bebê. O quadro é mais comum em indivíduos cuja alergia não é IgE mediada, ou seja, quando não há anticorpos específicos contra as moléculas proteicas. É que essa versão da doença está associada a um comprometimento da mucosa intestinal – o que a torna mais permeável e, portanto, sensível a elementos estranhos.

“É por isso que, até os seis meses de vida, não se substitui o leite de vaca pelo de soja em crianças com APLV”, esclarece Vera Lucia Sdepanian, chefe da disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O mesmo vale para a bebida proveniente da cabra, cuja proteína é muito semelhante à da vaca. A indicação, portanto, é oferecer ao pequeno as tais fórmulas hidrolisadas, com proteínas fracionadas e que tendem a ser digeridas. Nos casos mais graves, em que a criança não aceita esse composto, a saída são as versões não alergênicas, que contêm apenas aminoácidos.

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8. Quais são as diferenças entre APLV e intolerância à lactose?

Muitos confundem os dois problemas, mas eles são bem distintos. “Num quadro de alergia, o que acontece é uma alteração imunológica; na intolerância, o problema é a falta ou a redução de uma enzima, a lactase”, explica Vera Lucia. Além disso, os sintomas se diferem bastante: as manifestações típicas de quem é intolerante à lactose são distensão da barriga, gases e dor abdominal; enquanto os alérgicos à proteína do leite de vaca apresentam, além dos sinais gastrointestinais, problemas respiratórios e de pele.

9. Que tipos de cuidados/restrições alimentares a mãe que amamenta uma criança com APLV precisa ter?

As medidas são, basicamente, adotar uma dieta livre de leite e derivados e evitar o uso de produtos que contenham a proteína nociva. Mas isso só deve ser feito se houver orientação médica. “Até porque a APLV acontece, principalmente, quando a criança consome fórmulas no lugar do leite materno”, pondera a professora da Unifesp.

Outra atitude que não deve ser tomada por conta própria é a suspensão do aleitamento – mesmo que a mulher esteja em uma alimentação restrita de lácteos. Afinal, é por meio da amamentação que o bebê recebe enzimas, anticorpos e até proteínas que o ajudarão a tolerar melhor os alimentos no futuro.

10. Como garantir que os pequenos com APLV – tanto os que estão na fase de amamentação quanto os que já podem ingerir outros alimentos – consumam as doses recomendadas de cálcio?

Os pequenos com APLV que ainda estão amamentando têm o aporte de cálcio garantido pelo leite da mãe – que está cheio do nutriente. Já aqueles que precisam ingerir as fórmulas infantis atingem as doses recomendadas por meio desses compostos alimentares.

O problema está nas crianças maiores que precisam seguir uma dieta restrita de leite e seus derivados, como queijos e iogurte. “Nesse caso, é necessário fazer a suplementação de cálcio por medicamentos”, informa Vera Lucia. É que as outras fontes do mineral – a exemplo de brócolis, sardinha e amêndoa – não chegam nem perto dos lácteos quando o assunto é o teor desse nutriente. “Seria preciso comer quantidades muito grandes desses alimentos, o que não é possível”, diz a docente da Unifesp. Por isso, se o seu filho faz parte dessa turma, é necessário conversar com o médico para saber qual é a melhor forma de suplementar.

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11. A dieta da mãe durante a gravidez pode influenciar de alguma forma o desenvolvimento da alergia alimentar?

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), não há comprovações científicas de que eliminar certos alimentos do cardápio na gestação possa prevenir que alergias alimentares apareçam.  

12. É necessário retardar a exposição da criança com APLV a outros alimentos alergênicos, como ovos e castanhas?

Não, a menos que o pequeno tenha alergia a algum outro alimento. “No caso da APLV, a restrição deve ser apenas a itens que contenham a proteína do leite de vaca, o que inclui, além do leite, queijos, manteiga, creme de leite…”, enumera Vera Lucia Sdepanian.

13. A que aspectos do rótulo os pais de crianças com APLV devem ficar atentos?

Além de conhecer os derivados do leite, pais e mãe de pequenos com essa alergia devem estar atentos a substâncias com nomes muitas vezes complicados e que contêm a proteína do leite de vaca. De acordo com a SBP, algumas das principais são: alfacaseína, betacaseína, caseinato, alfalactoalbumina, betalactoglobulina, alfalactoglobulina, aroma de queijo, lactulose e lactose presente em medicamentos.

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