Alergia alimentar pode estar relacionada à ansiedade em crianças
Novo estudo revela que a alergia a algum tipo de comida impacta não só na dieta, mas também na saúde mental dos pequenos.
Ao investigar a manifestações da alergia alimentar em 80 crianças, um grupo de pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, averiguou que 57% delas se queixava de sintomas associados à ansiedade.
O trabalho focou em um público alvo específico: pacientes com oito anos de idade e com baixa renda familiar. A hipótese dos autores é que o impacto social da restrição alimentar somado aos custos do tratamento e da preparação de refeições especiais estejam por trás desse efeito negativo.
Tudo indica, entretanto, que o problema não esteja restrito a esse grupo. “Parece razoável acreditar que a ansiedade possa surgir em crianças que vivam em família com renda maior”, explica Renne Goodwin, epidemiologista da Mailman Public School, instituição da Universidade de Columbia, e autora do trabalho.
Isso porque a alergia começa cedo e tem uma série de repercussões no organismo infantil que abrem caminho para crises de estresse e irritabilidade. “Especialmente as restrições totais geram ansiedade porque a criança sabe que é algo grave e essa ansiedade pode extrapolar para outras áreas da vida”, aponta Ariana Campos Yang, alergista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
Há, ainda, um outro mecanismo relacionado ao impacto negativo no jovem cérebro. Ocorre que a alergia pode, em alguns casos, provocar diarreia e afetar a microbiota intestinal, as bactérias que vivem em nosso intestino e impactam na saúde da mente. “Hoje sabemos que até 90% da serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor, é produzida no órgão”, conta Ariana.
Mas vale a diferenciação: a alergia em si não é a causa primária de problemas neurológicos. “É importante destacar isso porque em alguns casos os pais vão tirando itens da dieta achando que o problema é a alergia”, ressalta a alergista.
Falta descobrir agora se esse estado ansioso pode ter um impacto negativo no controle das crises. “Não investigamos esse ponto, mas acreditamos que é uma questão importante a ser discutida em próximos trabalho”, completa Renee.
Será que é alergia?
Ela também surge nos primeiros meses de vida, como no caso da alergia à proteína do leite de vaca (APLV), mas pode demorar até o início da idade escolar para dar as caras. Nos bebês, é mais comum que haja um processo alérgico a algum alimento, mas sem a produção de anticorpos IgE, que causam as reações mais severas e o risco de choque anafilático.
“Nesse caso, o trato gastrointestinal é o mais afetado, pode haver refluxo, vômito e diarreia, mas o problema tende a melhorar com o tempo, com o amadurecimento do sistema imune”, conta Ariana. Em um número menor de crianças, entretanto, há a produção do IgE e o surgimento dos sintomas mais famosos da alergia, como as marcas na pele e o inchaço imediatamente após a ingestão do alérgeno.
Na lista de principais gatilhos estão os clássicos. “Leite, ovo, soja, amendoim e frutos do mar respondem por 90% das alergias alimentares”, elenca Ariana. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, até 3% da crianças sofre com reações a alimentos. Ou seja, não se trata de uma condição tão comum.