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7 perguntas e respostas sobre aborto espontâneo

Consultamos um time de especialistas para esclarecer as principais dúvidas sobre esse problema.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 26 out 2023, 09h31 - Publicado em 14 ago 2015, 17h48
ChamilleWhite/Thinkstock/Getty Images
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Estima-se que entre 15 e 20% de todas as gestações são interrompidas de forma espontânea nos três primeiros meses da gravidez. Isso acontece, na maioria das vezes, por uma decisão da própria natureza: alterações cromossômicas ou más-formações no embrião impediriam que ele se desenvolvesse de maneira saudável. No entanto, embora seja natural, perder um bebê assim é sempre algo que abala (e muito!) as emoções e as expectativas dos futuros papais e mamães.

Recentemente, dois casos amplamente divulgados nas redes sociais deram uma ideia das dificuldades enfrentadas por casais que passam por essa perda inesperada. Nos Estados Unidos, Sam e Nia comoveram a internet ao divulgarem um vídeo no qual o marido revelava para a esposa que ela estava grávida. Mas, poucos dias depois, os dois postaram um novo vídeo com uma notícia triste: Nia perdeu o bebê. A outra história também aconteceu em território americano, mas desta vez teve um final feliz: no fim de julho, Mark Zuckerbeg, CEO e um dos fundadores do Facebook, anunciou que sua mulher, Priscilla Chan, está à espera de uma menina. A tão sonhada gravidez, no entanto, só veio depois de três abortos espontâneos.

A seguir, esclarecemos as principais dúvidas sobre esse problema tão comum, mas tão difícil de lidar.

1. O que é um aborto espontâneo?

A medicina classifica como aborto espontâneo a gravidez que foi interrompida naturalmente até a 22a semana de gestação, quando o bebê ainda pesa menos de 500 gramas. Se ocorrer antes da 12a semana, o abortamento é considerado precoce; depois disso, é chamado de tardio. “Cerca de 80% dos abortos espontâneos acontecem de forma precoce”, estima Julio Elito Junior, chefe da disciplina de obstetrícia e tocurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Vale destacar também que, na maioria das vezes, a interrupção da gravidez se dá antes mesmo de a mulher descobrir que estava esperando um bebê. “Esses casos representam 65% dos abortamentos”, informa Olímpio de Moraes Filho, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE).

2. Quais são as causas?

Diversos fatores podem estar por trás de um aborto espontâneo. O principal são problemas genéticos que se dão no momento em que o embrião está se formando. “Podem ocorrer falhas nesse processo e isso gera crianças com desbalanços cromossômicos”, explica Ricardo Barini, professor de obstetrícia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista. “As estatísticas apontam até 70% das causas nesse sentido”, diz. Nesses casos, é a própria natureza que impede a evolução da gestação – que ocorre, em geral, ainda no primeiro trimestre. E quanto mais velha for a mulher, maior a probabilidade disso acontecer.

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Abortos ocorridos depois desse período costumam estar ligados a outras complicações. Entre elas estão problemas no útero, como as más-formações e a chamada insuficiência istmo-cervical – que se caracteriza por um fragilidade do colo uterino, o que o impede de suportar o peso da barriga. “Essas mulheres começam a perder o bebê e, às vezes, ele está vivo”, conta Barini.

O diabetes é outra causa bastante conhecida de aborto espontâneo. É que o desequilíbrio no metabolismo do açúcar está associado a uma frequência maior de malformações no bebê. “Isso interfere no desenvolvimento fetal e, muitas vezes, acaba levando à interrupção da gravidez”, afirma o professor da Unicamp. Daí porque diabéticas que querem engravidar precisam manter as taxas glicêmicas controladas.

E não para por aí: doenças autoimunes, a exemplo do lúpus e da artrite reumatoide, também são uma ameaça à evolução da gestação. “Essas pacientes produzem anticorpos contra a própria gravidez”, esclarece Julio Elito, da Unifesp. As trombofilias – também ligadas a alterações no sistema imunológico – são outro fator de risco para abortamento. É que elas favorecem a trombose, condição marcada pela formação de coágulos nos vasos sanguíneos. “Para essas pacientes damos anticoagulantes”, diz Elito.

Problemas na tireoide também podem interromper o desenvolvimento do embrião – principalmente em quem sofre com o hipotireoidismo, marcado pela queda na produção de hormônios fundamentais para o funcionamento do corpo todo. “Como a gravidez impõe uma série de exigências ao organismo, pode haver falhas”, explica Ricardo Barini.

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Outro motivo importante do aborto espontâneo é a deficiência na produção de progesterona, hormônio fundamental para a manutenção da gravidez. Nesses casos, a solução é a suplementação antes de engravidar e, também, no início da gestação.

Por fim, hábitos como tabagismo, uso de drogas, consumo excessivo de álcool e exposição à radiação e a metais pesados também podem culminar no fim precoce da gravidez.

3. Problemas no pai também podem estar relacionados ao aborto espontâneo?

Sim. Hoje em dia, sabe-se da importância da idade do pai para formar um embrião saudável. De acordo com o professor Ricardo Barini, da Unicamp, os espermatozoides de homens acima de 55 anos estão ligados a uma taxa maior de abortamento.

4. Quais são os sintomas de um aborto espontâneo?

Os principais sinais são sangramento (que pode ser escuro ou vermelho vivo) aliado à cólica. “Muitas mulheres também percebem o desaparecimento de sintomas típicos da gravidez, como enjoos, aumento dos seios e o crescimento da barriga”, exemplifica Ricardo Barini, da Unicamp.

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5. Quantos abortos espontâneos são considerados normais?

Para a medicina, um episódio de aborto espontâneo está dentro do esperado. “Agora, se a mulher tem dois seguidos, aí já consideramos como um abortamento habitual, que requer uma pesquisa mais profunda para investigar as causas”, relata Olímpio de Moraes Filho, da UPE.

6. Dá para prevenir esse tipo de aborto?

Quando a causa da interrupção da gravidez são problemas genéticos na formação do bebê, não tem muito o que fazer para evitar a situação. Nos casos em que se sabe que a má-formação do feto está ligada a falhas cromossômicas nos pais ou a doenças que podem ser passadas para o bebê, uma opção é recorrer a técnicas de reprodução assistida, nas quais são selecionados apenas os embriões saudáveis. “Mas elas não reduzem o risco de aborto, apenas evitam a transmissão de doenças”, justifica o professor Julio Elito, da Unifesp.

Se o motivo do abortamento estiver relacionado a doenças como o diabetes ou a problemas na produção de hormônios, deve-se tratar essas condições. O mesmo vale para a mudança de hábitos potencialmente perigosos ao desenvolvimento de uma gravidez. “Por isso, é importante que a mulher faça uma consulta pré-concepção e realize exames que vão detectar se ela tem condições de engravidar com saúde”, orienta o docente da UPE.

7. Relações sexuais, atividade física e levar sustos podem causar aborto?

Essas ideias não passam de mitos. Ter relações na gravidez não prejudica o bebê – exceto em casos de placenta prévia. O mesmo vale para exercícios físicos. “De forma moderada e com acompanhamento médico, eles são benéficos“, garante o professor Olímpio de Moraes. E quanto ao susto, não se preocupe: é balela!

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