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“O parto de nossa filha foi um prêmio que Julia merecia muito”

Confira o relato de parto pelo olhar do pai, o professor Pablo Melo, que acompanhou o inesperado parto natural domiciliar pelo qual nasceu Elisa

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 4 Maio 2018, 17h01 - Publicado em 9 ago 2017, 17h09

Julia Selani e Pablo Melo já eram pais de Téo (7 anos) e de Bento (4) quando Elisa nasceu, em fevereiro de 2016. Mas nenhum dos dois sabia o que era um trabalho de parto. “A Julia teve dois partos roubados”, conta o professor. No nascimento do primeiro filho, convenceram o casal de que uma cesárea era necessária porque a bolsa tinha rompido há quatro horas; no do segundo, criaram empecilhos para um parto normal por causa da cesárea anterior, alegando que o risco de ruptura uterina seria muito grande.

Quando veio a terceira gravidez, Julia foi atrás de informações para conseguir realizar o sonho de parir. Depois de algumas tentativas frustradas, o casal conheceu a enfermeira obstétrica Miriam, que indicou uma equipe médica que topou o desafio de tentar um parto normal após duas cesáreas. “Optamos por um plano de parto natural hospitalar, porque o médico nos alertou que, em caso de ruptura uterina, haveria de cinco a sete minutos para salvar as duas”, lembra Pablo.

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Mas o plano ficou de lado: Elisa nasceu em um inesperado parto natural domiciliar. A seguir, Pablo conta como tudo aconteceu.

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Pablo e Elisa (Pablo Melo/Arquivo Pessoal)

“Era um sábado normal. Tínhamos ido a reuniões de pais na escola dos meninos e Julia, grávida de 40 semanas, ficou na casa da mãe enquanto eu fui para casa para instalar ventiladores de teto. Era fevereiro, o verão de Minas Gerais é bem quente, Elisa estava para nascer, queríamos deixar tudo prontinho.

Mesmo já tendo colocado dois filhos no mundo, Julia não sabia como era um trabalho de parto. Quando perguntou para o médico que nos acompanhou no pré-natal como saberia o que seriam realmente contrações, ele disse que ela simplesmente saberia. E soube mesmo. Ao longo de todo o dia, Julia teve contrações, e isso por si só já foi bem emocionante.

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Ela entrou em contato com a equipe médica e disseram que estava começando, mas para ficarmos tranquilos, que ainda tínhamos tempo até Elisa nascer.

À noite, estávamos todos em casa e fui dormir por volta de 22h30. Fui acordado às 23h45 com um grito dela, me avisando que a bolsa havia rompido. Ligamos para Miriam, que estava em uma cidade vizinha e avisou que já estava a caminho de nossa casa. Também liguei para minha irmã, para ela ficar com os meninos enquanto estivéssemos no hospital, para a doula que nos acompanharia no parto e para o serviço de emergência, para conseguirmos chegar no hospital o mais rápido possível.

No meio disso tudo, Julia decidiu ir para debaixo do chuveiro, para relaxar um pouco. Não sabíamos que isso aceleraria o trabalho de parto. Ela teve a primeira expulsão e ficou assustada, disse que estava sentindo algo mole – depois entendemos que era a cabeça da Elisa. Eu não tinha muito o que fazer. Fiquei ali ao lado dela, dando força e tentando deixá-la mais calma.

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Logo veio a segunda expulsão, e Julia tentou fazer força para segurar Elisa até alguém chegar em casa. Naquele momento, minha reação foi correr para colocar lençóis limpos na cama, porque entendi que Elisa estava querendo nascer e que poderia acabar sendo em casa. Bento estava dormindo na nossa cama e continuou ali.

Ao perceber que a terceira expulsão estava chegando, Julia foi até a cama e eu fui ao lado dela, amparando-a. Ela deu três ou quatro passos, sentou na cama, veio aquela força imensa e Elisa nasceu.

Elisa escorregou nos meus braços. Foi maravilhoso. Jamais esquecerei a temperatura do corpinho dela, sua textura de recém-nascida. Aquele momento foi o mais próximo que cheguei e chegarei da noção de maternidade. Tudo muito bonito, muito mágico.

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Elisa troca olhares com Julia antes de chorar (Pablo Melo/Arquivo Pessoal)

Não aconteceu que nem nos filmes, em que o bebê nasce chorando. Elisa demorou para chorar. Primeiro ela olhou para Julia, foi a troca de olhares mais linda que já vi. Só então ela chorou um chorinho tímido.

Dois minutos depois, Miriam chegou em casa. E depois a minha irmã. E depois a doula. E depois a ambulância. Os médicos do serviço de emergência fizeram os primeiros procedimentos de limpeza e de corte do cordão umbilical e também verificaram se estava tudo bem com Julia. Felizmente, estava tudo ótimo com as duas. Não houve ruptura uterina, nada disso. Deu tudo certo.

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Fomos levados ao hospital e ficamos 24 horas em observação, como se faz normalmente. Tudo o que havíamos preparado para a maternidade ficou empacotado. Lembrancinhas, enfeite de porta, tudo. A única coisa usada foi a mala para a maternidade, que já estava pronta, ainda bem.

Para mim, o parto de nossa filha foi um prêmio que Julia merecia muito. Ela carregava uma frustração pode causa das duas cesáreas anteriores, uma tristeza por ter tido seus partos roubados. Ela finalmente teve o parto com que sonhava.

Me sinto muito privilegiado por ter passado por isso tudo. A cumplicidade entre nós aumentou. Julia e eu nos conhecemos desde os 11 anos de idade, começamos a namorar quando acabamos o Ensino Médio. Fizemos a mesma faculdade, de Letras. Estamos juntos há 22 anos, casados há 12. Parecia que não havia como ficarmos ainda mais unidos, mas o parto de Elisa mostrou que havia, sim.”

Da esq. para a dir.: Pablo, Téo, Julia, Elisa e Bento (Pablo Melo/Arquivo Pessoal)
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