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O que é o tão comentado parto empelicado?

O termo despertou curiosidade depois da foto de um bebê dentro da bolsa amniótica viralizar na internet. A condição é rara, mas não pode ser provocada.

Por Flávia Antunes
13 fev 2020, 17h44

Se você acompanha perfis de nascimento, já deve ter se deparado com as fotos preciosas – porém, que podem gerar estranheza à primeira vista – de um bebê ainda dentro da bolsa, chamado de “empelicado”.

Um destes cliques, inclusive, viralizou em fevereiro de 2019, depois de ser publicado pela fotógrafa Jana Brasil. O registro impressionou os internautas não só pela condição do nascimento, como também pela expressão do recém-nascido, que parece estar fazendo “biquinho”.

Recentemente, o assunto veio à tona novamente depois da divulgação dos vencedores da competição internacional “Birth Photography Image Competition”. A brasileira, que fotografou o pequeno Noah empelicado, ganhou a categoria de melhor “detalhe de nascimento”. Ela foi a única representante da América Latina a ter seu nome entre os destaques da premiação.

Afinal, o que é?

Apesar do termo ter circulado na internet, seu significado ainda desperta curiosidade. Afinal, o que é o parto empelicado? Nada mais é que o nascimento do bebê sem o rompimento da bolsa amniótica, que permanece íntegra, envolvendo o pequeno. “É uma condição rara, muito difícil de ser programada e a frequência é de que ocorra um parto empelicado para cada 80.000 partos”, explica Dra Luciane Mancini, neonatologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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Riscos para o bebê? A médica garante que não. Depois do nascimento, o procedimento padrão é que os cirurgiões esperem de um a três minutos – período em que o pequeno continua recebendo nutrientes da mãe – para cortar o cordão umbilical. “O bebê não sofre pela falta de oxigênio, porque ainda está ligado à mãe pela placenta”, explica a doutora. Passado esse tempo, o médico realiza uma pequena incisão e então retira a criança de dentro da bolsa.

A neonatologista também afirma que o tipo de parto pode ser até vantajoso para o recém-nascido, já que a bolsa o protege contra possíveis traumas, como fraturas ou escoriações. Outro benefício é a proteção contra determinadas infecções que são transmitidas da mãe para o bebê, como é o caso do HIV. “Quando a mãe é soropositiva, o nascimento empelicado evita o contato com o sangue da mãe e, consequentemente, a transmissão do vírus”, esclarece Luciane. No caso da presença de agentes contaminantes no canal vaginal da mulher, o parto é, inclusive, indicado.

Mas se engana quem acha que para que o bebê nasça empelicado basta querer. Geralmente, o rompimento da bolsa amniótica acontece de maneira espontânea e não há o que o médico possa fazer para impedir, de acordo com a Dra Lidia Hyun Joo Myung, especialista em ginecologia e obstetrícia da Clínica Medicina da Mulher.

“Quanto mais distendida estiver a bolsa – pela quantidade maior de líquido ou pelo tamanho do bebê – maiores as chances do rompimento”, afirma ela. A ruptura costuma ser provocada pelas próprias contrações uterinas do trabalho de parto, e é por isso que a maior incidência do nascimento empelicado ocorre em cesáreas.

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“Geralmente, na cesárea, é possível fazer o parto empelicado mais facilmente, porque podemos realizar a abertura do útero sem romper a bolsa amniótica”, conclui Lidia. A neonatologista Luciane complementa com outro fator que favorece este tipo de nascimento: o bebê prematuro. “Como a bolsa é pequena, é mais simples de passar intacta pelo canal”, diz.

O papel do médico na ruptura da bolsa

Uma polêmica levantada pela ginecologista é a da intervenção médica na ruptura da bolsa amniótica. “Alguns obstetras rompem sem necessidade, para acelerar o processo do trabalho de parto”, comenta a doutora. Segundo ela, a amniotomia, como é chamado o rompimento intencional, é uma estratégia com indicação específica para corrigir o posicionamento da altura da cabeça do bebê ou para normalizar as contrações uterinas do trabalho de parto.

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“Neste caso, o rompimento da bolsa pode ajudar a estimular as contrações sem precisar recorrer a medicamentos na veia, como a ocitocina”, aponta Lidia. Ela esclarece que o procedimento não é doloroso, e apenas apresenta riscos nos casos em que o líquido amniótico esteja em excesso (polidrâmnio), porque o cordão umbilical pode descer antes da cabeça do pequeno e ocasionar uma cesárea de emergência.

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