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Maria Paula dá palestras sobre a importância do vínculo e da amamentação a detentas que são mães

Afastada da televisão, a atriz se dedica, desde 2004, a abraçar causas relacionadas à maternidade. Uma delas, a mais recente, é falar sobre os benefícios da relação entre mãe e filho a mulheres encarceradas. Conversamos com a atriz para saber mais sobre a iniciativa.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 26 out 2016, 11h53 - Publicado em 12 nov 2015, 16h57

No dia 5 de novembro de 2015, o Ministério da Justiça divulgou, em Brasília, o primeiro relatório sobre a população carcerária feminina do país. O documento está baseado nos dados do último Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, realizado em 2014. Intitulado Infopen Mulheres, o estudo traz dados preocupantes: entre 2000 e 2014, o número de mulheres presas subiu de 5 601 para 37 380, um aumento de 567%. A taxa é superior ao crescimento geral da população penitenciária, que foi de 119% no mesmo período.

E não para por aí. O Brasil se encontra em quinto lugar no ranking dos países com maior número de detentas, ficando atrás de Estados Unidos, China, Rússia e Tailândia. Quando se trata da infraestrutura das prisões femininas brasileiras, o cenário tampouco é animador – principalmente no que se refere à existência de instalações apropriadas para aquelas que têm filhos. Segundo o documento, apenas 34% dos presídios dispõem de cela ou dormitório adequado para gestantes. Nas unidades mistas, só 6% contam com esses espaços. “O que se vê, em muitos casos, são estabelecimentos masculinos adaptados precariamente para receber mulheres, não oferecendo condições básicas para elas e para os filhos pequenos, que ficam com as mães até determinada idade”, diz Valdirene Daufemback, diretora de Políticas Penitenciárias do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Entre as pessoas que estão lutando para mudar essa triste realidade está a atriz Maria Paula Fidalgo, famosa por ter trabalhado durante 17 anos no humorístico Casseta & Planeta, da Rede Globo. Em 2004, quando nasceu sua filha, Maria Luiza, ela passou a se engajar, junto ao Ministério da Saúde, em diversas causas ligadas à maternidade. Atualmente, além de embaixadora da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, Maria Paula (que também é formada em psicologia) se dedica a dar palestras a mulheres que estão presas em penitenciárias e que são mães. “É muita injustiça que um bebê nasça dentro de uma prisão sem ter feito nada para estar lá e que ele não possa ficar com a sua mãe num ambiente favorável”, comenta a atriz, em entrevista exclusiva ao Bebê.com.br.

Desde 2014, quando deu início a esse projeto, Maria Paula visita unidades carcerárias de norte a sul do país. Ao lado de uma equipe multidisciplinar – formada por pessoas dos ministérios da Saúde e da Justiça, da Secretaria de Políticas para as Mulheres e do Depen – ela briga por garantir uma infraestrutura adequada às mães encarceradas e também por ensinar a elas a importância de estabelecer, ainda que dentro de um presídio, um vínculo afetivo com seus filhos por meio do aleitamento materno, principalmente nos primeiros meses de vida. “A gente já conseguiu 30 salas de amamentação. Para 2016, a previsão é que mais 150 sejam criadas. A coisa foi tomando uma proporção enorme, porque é indiscutível que isso precisa ser feito”, afirma Maria Paula.

A seguir, confira a entrevista que fizemos com a atriz para saber mais sobre a sua iniciativa e a importância de estreitar os laços entre mãe e filho.

Como funcionam as visitas aos presídios?

Maria Paula: A gente vai à penitenciária e faz uma reunião com a direção da unidade a fim de que ela se disponha a criar um ambiente favorável para que o vínculo afetivo entre mãe e filho se estabeleça. Quando se cria uma sala de amamentação, aumenta muito a probabilidade de que aconteça esse momento mágico em que o vínculo é estabelecido. Falamos da importância de olhar para os bebês e acolhê-los, independente de onde estejam. É uma conversa longa, muito bonita. E aí a gente combina com a direção que eles se comprometam a criar esse espaço.

A minha participação é com as palestras. As presas vão para uma sala de aula ou um auditório e eu converso com elas ali. Além de vínculo afetivo, falo da importância de reciclar suas emoções e não ficar repetindo ações negativas. Esse tipo de sentimento dificulta que elas consigam superar seus traumas.

E como é a recepção da sua mensagem por parte dessas mulheres?

M.P.: É impressionante. No começo elas estão desconfortáveis e, à medida que vou falando, o olhar delas vai suavizando e dando espaço para uma aceitação, uma energia mais suave. A forma como seguram seus bebês muda durante a palestra. Dá para ver que elas têm mais cuidado com a cabecinha. A mensagem ecoa não só na cabeça, mas também no coração.

Teve alguma história que marcou você?

M.P.: Teve, sim. Foi a história de uma menina que nasceu dentro da penitenciária. E agora, ela com cerca de 20 anos está revivendo a experiência. Eu vejo que é um círculo vicioso que, se a gente não fizer um esforço para quebrá-lo, ele tende a continuar se repetindo.

Você pretende ampliar ainda mais esse projeto?

M.P.: Já está de um tamanho maravilhoso, a gente vai conseguir cobrir a maior parte das penitenciárias no ano que vem. Eu vou ficar muito feliz quando souber que bebês nascidos de mães que estão cumprindo pena possam contar, pelo menos, com um espaço que seja arejado e pensado com muito carinho para recebê-los – mesmo dentro de um presídio.

E, pela sua experiência, como foi a questão do vínculo pela amamentação entre você e os seus filhos?

M.P.: Amamentei a Maria Luiza até os 2 anos de idade. Ela já andava e ainda pedia o peito. Tenho certeza de que quando a mulher tem essa disponibilidade, o resultado é bom. Meus dois filhos (ela também é mãe de Felipe, de 7 anos) raramente ficam doentes. O sistema imunológico é fortalecido e ainda tem todos os benefícios psicológicos. São crianças bem adequadas na escola, seguras, felizes, que dormem a noite toda. Daí porque eu vejo o quanto tudo isso faz sentido. Tenho o resultado verdadeiro dentro de casa.

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