Continua após publicidade

Fórceps no parto: saiba em que casos o instrumento ainda é usado

Ele tem indicações mais específicas atualmente, mas segue com sua importância. Se bem utilizado, pode salvar a vida de mães e bebês

Por Da Redação
1 jun 2023, 11h00

Antigamente, era comum ouvir histórias sobre bebês que nasceram “de fórceps”. No entanto, quem pertence a uma geração mais nova e está grávida pela primeira vez pode nunca nem ter ouvido essa expressão. E faz sentido. “É um instrumento infinitamente menos utilizado atualmente”, aponta o ginecologista e obstetra Filipe Silva, do Hospital e Maternidade Sepaco (SP). O fórceps é uma ferramenta metálica, que lembra o formato de um pegador, com duas colheres. “Foi idealizado e colocado em uso em torno dos séculos 19 e 20 e foi muito importante para diminuir o risco de bebês nascerem sem oxigênio”, explica o profissional.

Naquele tempo, a cesariana não era um procedimento seguro. Então, quando a criança, por algum motivo, tinha dificuldade para passar pelo canal de parto, os médicos usavam a peça para ajudar a puxá-la. “O fórceps ajudou bastante a reduzir a mortalidade infantil e, de alguma forma, a mortalidade materna também”, afirma. Hoje, com as cesáreas mais comuns, com anestesia e menor risco de infecção, a utilização do fórceps é reservada para poucas situações – embora seja muito útil, quando recomendado e aplicado da forma certa.

ferramenta metálica, que lembra o formato de um pegador, com duas colheres
Fórceps: ferramenta metálica que lembra o formato de um pegador (Hemera Technologies/Getty Images)

Quando o fórceps é usado?

Um das indicações mais habituais para o uso do fórceps, segundo o especialista, é quando, em um parto vaginal, a criança está bem baixa no canal de parto, mais perto de sair, mas a mulher perde a capacidade de empurrar, seja por conta da anestesia ou por estar muito cansada. “Nessa situação, o fórceps pode aliviar, porque o bebê não deve ficar muito tempo no canal vaginal. Pode faltar oxigênio, com a possibilidade até de haver algum tipo de lesão neurológica, ou pode machucar a vagina da mãe”, explica Silva. Ou seja, o fórceps é utilizado quando, por algum motivo, é necessário acelerar a fase final de parto.

Caso o bebê esteja muito baixo quando acontece alguma complicação ou a mãe não consegue mais fazer força, os médicos evitam a cesárea, por duas razões. Uma delas, de acordo com o obstetra do Sepaco, é o risco de infecção. “O bebê já estava próximo da saída do canal vaginal, em contato com a flora, depois de passar pelo trabalho de parto. Se você abre a barriga e o tira por ali, leva toda a contaminação para a região, para o útero, para a cavidade abdominal”, conta. “O outro motivo é o risco de machucar o útero na extração, ao puxar o bebê lá de baixo para a barriga”, completa.

Fórceps x vácuo extrator

Antes, havia modelos de fórceps para fases distintas, para conseguir alcançar bebês que estavam mais altos (ou mais distantes da saída do canal de parto). “Hoje, são cerca de três ou quatro tipos no mercado, mas as diferenças são mais do ponto de vista de escolha [preferência] do profissional do que, propriamente, do tipo de uso”, ressalta o obstetra.

Uma confusão bastante comum entre o público mais leigo acontece entre fórceps e vácuo extrator que, segundo o especialista, são dois instrumentos diferentes, utilizados com finalidades parecidas. O primeiro é um objeto metálico, já segundo é feito de plástico ou de silicone. “O fórceps faz uma prensa na cabeça do bebê e o vácuo extrator, como o próprio nome diz, faz um vácuo entre o aparelho e a cabeça do bebê para ajudar na tração”, afirma o especialista.

Fórceps e os riscos

Uma das principais dúvidas de pais e mães, não apenas em relação ao fórceps, mas sobre qualquer intervenção durante o parto é: será que tem riscos? “Todo parto instrumental tem risco para o bebê, seja fórceps ou seja vácuo”, diz o médico. Por isso, reforça ele, é tão importante que a indicação seja bem feita, com critérios claros, e que o profissional que vá manusear a ferramenta tenha experiência e conhecimento.

Mãe segurando o filho recém-nascido no colo, ainda no hospital
(Cavan Images/Getty Images)

Filipe Silva explica que existe a possibilidade de que o canal vaginal da mãe seja machucado, mais do que a passagem do bebê, por si só, já faria. “Mas, se o fórceps for utilizado por um profissional de saúde bem treinado, esse risco diminui muito”, diz. Já no bebê, é possível que a ferramenta produza pequenas manchas ou traumatismos na pele. “Se for mal utilizado, pode causar ferimentos no rosto ou cabeça da criança, mas, geralmente são leves”, acrescenta.

Continua após a publicidade

Ele lembra que o vácuo extrator, quando colocado no lugar errado, pode lesar o couro cabeludo e até provocar escoriações ou necrose [morte do tecido] de parte da cabeça do bebê. “Por isso, tanto o fórceps quanto o vácuo precisam ser feitos com indicações muito precisas, em que o possível custo do procedimento seja menor do que os benefícios, do ponto de vista clínico, e por pessoas bem treinadas”, reforça.

Outra dúvida frequente, o especialista destaca, é se a criança sofre durante o procedimento. “Na verdade, é o contrário. Quando se usa o fórceps ou o vácuo, isso acontece em uma condição de última instância. Então, provavelmente o bebê já está com comprometimento e, quando utilizamos a ferramenta, ele pode nascer um pouco mais molinho, sem chorar. Normalmente, essas condições de nascimento são atribuídas ao uso do fórceps, mas, na realidade, as condições é que levaram à necessidade do instrumento”, destaca. Já para a mãe, o processo pode causar desconforto e dor. “Por isso, é indispensável que ela esteja com analgesia”, afirma.

O médico que estiver assistindo o parto deve tentar fazer uma prova de tração, ou seja, ver se o bebê vem. “Se não, em alguns casos, é necessário desarticular o instrumento e partir para a cesárea”, comenta Silva. Com o vácuo, são feitas três tentativas de puxar a criança, no máximo. Se não der certo, o caminho, provavelmente, também será a cirurgia.

O mais importante é você se preparar para esses cenários, escolhendo um médico de confiança e, se possível, conversando com ele com franqueza ao longo dos nove meses, no pré-natal, para tirar todas as dúvidas. Assim, vai ficar muito mais fácil ter segurança na conduta do profissional, caso ele precise recomendar uma medida como essa. Com informação, tudo flui de uma maneira mais simples, não é mesmo?

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade